06 Mai 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no domingo (4), que dará início imediato ao processo de aplicação de tarifas de 100% sobre todos os filmes exibidos no território norte-americano que tenham sido produzidos fora do país. A medida, segundo o chefe da Casa Branca, faz parte de uma nova estratégia para proteger a indústria cinematográfica nacional, que ele considera "ameaçada pela concorrência estrangeira".
A reportagem é publicada por RFI, 05-05-2025.
“A indústria cinematográfica norte-americana está morrendo rapidamente [...]. Hollywood e muitas outras regiões dos Estados Unidos estão devastadas”, afirmou Donald Trump em sua rede Truth Social para justificar a imposição de tarifas de 100% sobre filmes produzidos no exterior e exibidos nos EUA. A declaração pode surpreender, dado o domínio global dos filmes norte-americanos nas salas de cinema de todo o planeta, mas reflete uma preocupação crescente com a perda de competitividade da produção nacional.
Segundo o presidente, os Estados Unidos deixaram de atrair produções em larga escala como no passado. “Outros países oferecem todo tipo de incentivo para atrair nossos cineastas e nossos estúdios para fora do país”, afirmou. Essa fuga de produções, impulsionada por vantagens fiscais e subsídios generosos, afeta diretamente o setor, que emprega cerca de 2,3 milhões de pessoas nos EUA, entre empregos diretos e indiretos.
Trump classificou a situação como parte de um “esforço coordenado por outras nações”, que, segundo ele, representa “uma ameaça à segurança nacional”. Países como Tailândia, Hungria e África do Sul são alguns dos destinos que vêm atraindo estúdios com condições vantajosas de filmagem e incentivos fiscais. Um exemplo marcante citado é o próximo filme da franquia Avatar, dirigido por James Cameron e produzido pela Disney e 20th Century, cuja filmagem foi realizada na Nova Zelândia — país que se consolidou como polo importante da indústria cinematográfica internacional.
Desde seu retorno à presidência, Donald Trump iniciou diversas investigações sobre os “efeitos para a segurança nacional” de importações variadas, que vão desde semicondutores até minerais estratégicos. Essas investigações, como a que acaba de ser aberta sobre o setor audiovisual, são etapas obrigatórias para que o presidente possa eventualmente emitir decretos impondo tarifas ou restrições, caso se comprove que o volume das importações representa um risco para os "interesses nacionais dos Estados Unidos".
Como Donald Trump vai distinguir entre os filmes produzidos ou filmados no exterior que são destinados a plataformas como a Netflix, que são lançados apenas em DVD, ou que chegam aos cinemas? Ainda há muitas dúvidas nesse momento entre os profissionais do setor. Nenhuma informação foi divulgada até agora sobre as condições de aplicação das sobretaxas sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos. Trata-se de uma nova escalada na ofensiva comercial conduzida pelo presidente norte-americano contra os parceiros econômicos do país.
A China, principal alvo das críticas e medidas de Donald Trump, havia anunciado no início de abril que reduziria “moderadamente” o número de filmes norte-americanos autorizados a serem exibidos oficialmente em seu território — uma das respostas às tarifas proibitivas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses.
Pequim controla o número de filmes estrangeiros exibidos em seus cinemas por meio de um sistema de cotas. Uma redução no acesso a esse mercado — o segundo maior do mundo para o cinema, atrás apenas dos Estados Unidos — pode comprometer significativamente as receitas dos estúdios de Hollywood.