06 Mai 2025
Enquanto os bombeiros estão no telhado da Capela Sistina para montar a chaminé das fumaças, preta ou branca, o Vaticano define como fake news os rumores que circulam em torno de um dos favoritos ao papado, Pietro Parolin, e que vêm de sites tradicionalistas estadunidenses. O porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, sobre uma suposta doença do ex-secretário de Estado, nega categoricamente, em um tom severo e peremptório: “Não, isso não ocorreu. Isso não é verdade”. Assim como “não houve absolutamente nenhuma intervenção de médicos ou enfermeiros”.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 03-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Embora ainda faltem quatro eleitores em Roma, o cardeal Fernando Filoni garante que, até 7 de maio, o Colégio poderá expressar unidade, também sobre o nome do novo pontífice: “Nós conseguiremos, como sempre fizemos”. Enquanto isso, a galáxia conservadora EUA está acelerando as manobras para o Conclave. Nos dias das congregações gerais, nas quais o futuro da Igreja é discutido e o perfil do novo bispo de Roma é traçado, alguns círculos tradicionalistas enviam aos cardeais o site, agora também traduzido para o italiano, com os perfis dos papáveis. Critério-base com o qual os cardeais são analisados, na base de “x”, “✓” e setinhas: a defesa da doutrina. E se formou a estrutura organizacional da “campanha eleitoral”: o quartel general é a casa do Cardeal Burke, dos Estados Unidos, o kingmaker, o grande diretor das operações de recrutamento dos consensos.
O clima em torno da Praça São Pedro é de consultas febris. Os contatos e as estratégias para reunir apoio em torno dos candidatos estão ficando mais intensos. Especialmente fora dos holofotes das Congregações Gerais, onde o tempo para o diálogo é curto, apenas um quarto de hora de intervalo para o café.
Os cardeais procuram momentos e cantos, “trattorie” e casas onde possam realmente conversar. E escutar.
Entender quem pensa de uma determinada maneira, quem está pronto para mudar, quem está pressionando por um nome.
“Foi um primeiro de maio de telefonemas. Longos, numerosos e direcionados. Especialmente entre os kingmakers”, confidencia um alto prelado em voz baixa. São horas em que nada é decidido, mas tudo é preparado. Nesse meio tempo, chega aos celulares de muitos cardeais o site The College of Cardinals Report, há alguns dias também traduzido para o italiano. A iniciativa é apoiada pelo Sophia Institute Press, com sede em Manchester, New Hampshire, EUA, que já promoveu publicações de viés tradicionalista e não alinhadas com o pontificado de Francisco. O site – bem estruturado – visa diretamente, sem meios termos, o Conclave. Os cardeais eleitores (com menos de 80 anos) são descritos do ponto de vista pastoral e espiritual e sua predisposição para o governo. Em seguida, é indicado se são a favor ou contra temas sensíveis para os Sagrados Salões: ordenação de diaconisas; bênção de casais do mesmo sexo; tornar opcional o celibato sacerdotal; limitar a antiga missa em latim; o acordo Vaticano-China; a Igreja Sinodal; atenção às mudanças climáticas; comunhão aos divorciados novamente casados. Também com símbolos gráficos: x se forem contra, ✓ se forem a favor, duas setas para “posição ambígua”, ponto de interrogação para “não conhecido”.
O objetivo parece claro: convencer os muitos cardeais indecisos e os numerosos cardeais que chegam de lugares remotos e que muitas vezes não conhecem os perfis e a história nem mesmo dos papáveis. Esse aspecto pode fazer a diferença na obtenção do quórum. A mensagem que emerge entre as páginas do site é: prioridade à doutrina e à liturgia. Em outras palavras: corrigir, ou anular, as aberturas e os temas fortes de Jorge Mario Bergoglio, especialmente no âmbito social.
O enclave estadunidense do Vaticano tem seu comando estratégico na casa do cardeal Raymond Leo Burke, patrono emérito da Ordem Soberana e Militar de Malta, outrora ligado a Steve Bannon, agora não mais. Burke aponta o caminho, navegando com segurança pelas ondas da Web: 65 mil “seguidores” e ideias muito mais tradicionais do que sua maneira de tuitar. Foi o líder da oposição a Francisco e agora teme uma continuação do “bergoglismo”, como pode ser visto em sua advertência afixada no X: “A Igreja e o mundo chegaram a um dos momentos mais turbulentos de suas histórias, histórias que estão intimamente conectadas, uma vez que a Igreja, como Corpo Místico de Cristo, é o instrumento pelo qual o Senhor continua Sua missão: a salvação do mundo”. E ele convida a se unirem a ele “em uma novena de nove dias para o Conclave, a Nossa Senhora de Guadalupe, para que Ela possa interceder pela Igreja em um momento de grande provação e perigo”. Em sua residência, está recebendo cardeais conservadores, dos Estados Unidos e de outros países. E também moderados, buscando alianças que poderão deslocar o eixo do Conclave, na maioria de nomeações “bergoglianas”.
Mas em quem os conservadores apostariam para o trono de Pedro? Péter Erdo, Arcebispo de Esztergom-Budapeste, canonista e teólogo, que já desempenhou um papel fundamental em sínodos anteriores. Timothy Dolan, Arcebispo de Nova York. Fridolin Ambongo Besungu, Arcebispo de Kinshasa. Albert Malcolm Ranjith, Arcebispo de Colombo. Robert Sarah, Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Peter Turkson, ex-chanceler da Pontifícia Academia de Ciências. Parece que, se para um ou mais desses cardeais o pacote de votos não crescer, poderiam se voltar para uma surpresa: Anders Arborelius, bispo de Estocolmo. Ou para um dos favoritos: Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, um moderado que “é muito apreciado por sua firmeza e autoridade de governo”, conta um monsenhor ao La Stampa.