02 Mai 2025
Depois da decisão da Suprema Corte do Reino Unido de ter determinado que o termo “mulher” se refere ao sexo biológico, a exclusão das mulheres trans atinge o esporte. Elas foram proibidas nesta quinta (1°) de participar de campeonatos femininos de futebol na Inglaterra e na Escócia.
A reportagem é publicada por RFI, 01-05-2025.
As associações ligadas ao futebol anunciaram que esta decisão passa a valer a partir da próxima temporada. A medida segue a determinação judicial recente sobre identidade transgênero.
No início do mês passado, as mulheres trans conseguiram uma vitória no esporte, quando foram autorizadas a jogarem competições femininas. Na ocasião, a Federação de Futebol da Inglaterra autorizou a participação desde que alguns critérios de elegibilidade fossem cumpridos pelas atletas, como níveis de testosterona abaixo do limite estabelecido por pelo menos 12 meses e uma avaliação sobre um eventual risco que a jogadora poderia representar para a segurança das demais atletas. Agora, pouco menos de um mês depois da autorização, as mulheres trans sofrem uma dura derrota.
A proibição está na contramão do discurso da Associação Inglesa de Futebol, que afirma que o papel da entidade “é tornar o futebol acessível ao maior número de pessoas possível”. Diante desta exclusão, fica difícil entender qual a real posição dos mandatários no futebol.
"Será difícil para as pessoas que se identificam com este gênero e que simplesmente querem praticar o esporte que tanto amam entenderem esta decisão”, afirmou a associação em um comunicado. Mas a organização inglesa garantiu que entrará em contato com as mulheres transgênero registradas na entidade para explicar a situação e como elas poderão seguir praticando o esporte.
Já a Associação Escocesa de Futebol “fornecerá orientação sobre a implementação da política atualizada, incluindo oportunidades apropriadas para a participação de pessoas transgênero, antes que a política entre em vigor no início da nova temporada”.
A alteração nos regulamentos entrará em vigor a partir de 1º de junho de 2025 na Inglaterra e na Escócia, quando começam as temporadas nacionais 2025/26. Segundo a BBC, atualmente há 20 mulheres transgênero – número maior do que um time inteiro de futebol – registradas em associações de futebol na Inglaterra.
A derrota fora de campo das atletas transgênero que apenas querem jogar futebol começou no último dia 16 de abril, quando a Suprema Corte do Reino Unido determinou que o termo “mulher” deve ser ligado somente ao sexo biológico da pessoa.
Após uma batalha jurídica de quatro anos entre o governo escocês, fortemente comprometido com os direitos dos transgêneros, e a instituição de caridade “For Women Scotland”, a mais alta instância jurídica do Reino Unido promulgou tal decisão.
Dentre outras determinações, a decisão legaliza excluir mulheres transgênero de espaços reservados para mulheres, como em abrigos ou hospitais.
Depois desta decisão, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra a determinação da Suprema Corte.
A primeira juíza trans do Reino Unido, a aposentada Victoria McCloud, afirmou que vai judicializar uma ação no Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) contra o governo do primeiro-ministro Keir Starmer. Ela denuncia a precariedade das políticas sobre os direitos das pessoas trans e acusa o primeiro-ministro de violar a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
Victoria McCloud aponta a “grave violação dos direitos garantidos pela Convenção aos cidadãos da União Europeia e do Reino Unido, inclusive no que diz respeito ao sexo, à orientação sexual e à privacidade”.
“Tenho a firme intenção de reafirmar os meus direitos com base na convenção e em outros direitos assegurados por ela”, afirmou Victoria.