26 Fevereiro 2025
Somente nas Olimpíadas de Londres, em 2012, pela primeira vez mulheres puderam competir em todas as modalidades, inclusive no boxe. O feminismo muito contribuiu para o crescimento da participação de mulheres em competições de alto rendimento. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, 48,8% do número de atletas no quadro de competidores foram mulheres.
A reportagem é de Edelberto Behs.
A constatação é da professora mestra Júlia Fernanda Lemos Backes, dos doutores Maurício Barth e Gustavo Roese, docentes da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, que publicaram o artigo “Do campo esportivo ao científico: apontamentos sobre a participação feminina nas olimpíadas”, na revista digital Coisas do Gênero, editada pelas Faculdades EST, de São Leopoldo.
Embora Atenas homenageasse a deusa Athena na primeira olimpíada realizada na cidade, em 766 a.C., as mulheres estavam excluídas dos jogos, pois não eram consideradas cidadãs, tanto como participantes quanto como espectadoras. “Assim, o esporte impregnou-se, de forma geral, com as concepções sociais de masculinidade, como virilidade, resistência e velocidade”, atesta o pesquisador Simões Rubio, citado pelos autores do texto para a revista.
Mesmo em 1896, com o renascimento dos Jogos Olímpicos da era moderna, as mulheres tiveram sua participação mais uma vez barrada por conta de sua capacidade física. A ideologia vitoriana apresentava, então, as mulheres como sendo fortes no âmbito moral e espiritual, “mas física e intelectualmente débeis... mulheres e práticas esportivas não eram compatíveis, pois o esporte as afastava de seu destino como mães. A finalidade do exercício para elas devia ser educativa e terapêutica”, anota a pesquisadora Carla Garcia.
Apenas na segunda edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, reunida em 1900, em Paris, a participação de mulheres foi finalmente admitida em duas modalidades: golfe e tênis. Doze anos depois, nos jogos de Estocolmo, a natação feminina foi incluída. Jogadoras de basquete participaram pela primeira vez de uma olimpíada nos jogos de Montreal, no Canadá, em 1976, 40 anos depois da modalidade valer para atletas masculinos; Jogos de Atlanta, em 1996, tiveram pela primeira vez mulheres no futebol, o ciclismo, nos Jogos de Los Angeles, em 1984, e luta livre nos Jogos de Atenas, em 2004, embora a modalidade existisse para homens desde os Jogos de Antuérpia, em 1920!
Essa trajetória de lentas conquistas da participação feminina em modalidades esportivas dos Jogos Olímpicos mostra o preconceito e delimitações impostas à figura feminina no que toca à prática de esportes. Além de ser um forte componente na construção de identidades e de pertencimento nacional, o esporte é entendido, tanto pela Sociologia como a Antropologia, como um dos grandes fenômenos socioculturais do século XXI, arrolam os pesquisadores.
Autores do texto para a revista constatam que o universo esportivo é “um espaço de opressão feminina, mas transformou-se, também, em um espaço de lutas e contestações”.
O artigo está disponível aqui.
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