01 Mai 2025
"É necessário observar a conduta ética dos líderes mundiais e a sua preocupação em manter a condição humana e sua dignidade. Para tanto, os menos favorecidos e as classes trabalhadoras mais pobres, que sofrem, necessitam de apoio e condições para manter suas famílias", escreve Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves.
Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é teólogo, filósofo e historiador, especialista em Ética e em Projetos e Inovação na Educação. Leciona Teologia, Ensino Religioso, Filosofia e Projeto de Vida.
Iniciamos o mês de maio com uma data emblemática: dia 1º de maio – Dia do Trabalhador! Neste dia se faz memória a São José que, como um bom pai trabalhador, São José “era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho”, como nos apresenta o Papa Francisco na Carta Apostólica Patris Corde.
No exemplo de José, Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro e também as tradições judaicas de seu povo. Aprendeu a cuidar e zelar pelo trabalho. Conheceu e aprendeu a manipular as ferramentas certas para cada tipo de madeira ou serviço. Conseguiu compreender a sua missão, atento ao que via na carpintaria de José, transformando um pedaço torto de madeira em lindos objetos.
Ao nos depararmos com a desvalorização do ser humano e a falta de empatia com o outro, é essencial reconhecer que a nossa realidade mudou. As transformações são visíveis e cada vez mais urgentes. Não é novidade que hoje, nas redes sociais e nos jornais, encontramos o relato de famílias que sofrem com o desemprego.
A fome é a realidade de milhões de brasileiros, mas, ao mesmo tempo, temos, em uma sociedade desigual, novos bilionários. Atentos às realidades e ao que nos assola, é crucial não deixar que a vida humana seja descartada. Só há espaço para se falar de armamento, destruição das florestas e mares, além de discriminar os povos indígenas, negros, LGBTQI+ e todos que pertencem às periferias e compõem a parcela mais pobre da sociedade.
Diante desse cenário, é urgente pensar nas consequências da fragilidade humana e dos problemas sociais que enfrentamos ainda atualmente. Destarte, faz-se necessário pensar, a longo prazo, em planos de preservação dos empregos e alternativas para a vida de milhares de famílias.
Então, diante deste cenário, como comemorar o Dia do Trabalhador? Uma vez que muitos dos brasileiros estão desempregados ou tiveram que adaptar a vida para fazer algum tipo de “bico” para completar a renda de uma família numerosa e que vive, muitas das vezes, nas periferias, não somente físicas, mas também existenciais, como já nos alertava o Papa Francisco.
Para tentar reverter este quadro, muitos trabalhadores se sujeitam à exploração para manterem seus empregos. A crise do trabalho é resultado de uma opção social e mostrou a sua pior face: a fome! Vivenciar este período, olhando para a realidade e diante dos desafios, somos obrigados a reinventar aquilo que já era estabelecido: recriar atitudes e um novo jeito de ser e viver, mais ético, humano e solidário com os que sofrem.
Infelizmente, esta realidade ainda é muito distante e difícil face a uma sociedade que é individualista. Por isso, a ética nos faz refletir sobre nossas condutas e nossa relação social. De fato, é uma preocupação constante, uma realidade que precisa ser revista, e a condição de uma maior atuação dos líderes do governo e empresários pela luta contra a fome e a miséria no mundo todo.
É necessário observar a conduta ética dos líderes mundiais e a sua preocupação em manter a condição humana e sua dignidade. Para tanto, os menos favorecidos e as classes trabalhadoras mais pobres, que sofrem, necessitam de apoio e condições para manter suas famílias.
Importante reforçar a dignidade do trabalhador e do trabalho, pois “a crise do nosso tempo, que é econômica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova ‘normalidade’, em que ninguém seja excluído”, afirma o Papa Francisco na Carta Apostólica Patris Corde.
A nossa condição humana e a nossa conduta ético-moral devem ser pautadas em princípios, pois diante do outro e da sua agonia, devemos considerar como nossa também a sua dor e o seu sofrimento. Diante desta condição, que se possa falar em misericórdia e amor, mais do que lucro e bens materiais.