01 Mai 2025
“O Papa Francisco decepcionou muitos dos cardeais que o elegeram. Os bispos de carreira, aqueles para quem uma nomeação era apenas o pedestal para um cargo de maior prestígio. Assim como uma grande parte do clero, que cresceu em um rígido respeito pela doutrina e que acreditava estar acima das pessoas, enquanto ele convida a descer e se colocar a serviço dos últimos. Ele também decepcionou os leigos mais tradicionalistas, tenazmente apegados ao passado: para eles, o Papa era um traidor que estava levando a Igreja à ruína. Mas dele se sentiam entusiasmados os pobres, os invisíveis, e também todos aqueles cardeais, bispos, sacerdotes e leigos que durante décadas haviam sido marginalizados por causa de sua fidelidade ao Evangelho”.
Esse é o comentário do Padre Alberto Maggi sobre os doze anos de pontificado do Papa Francisco.
Fundador do Centro de Estudos Bíblicos de Montefano e curador da divulgação das sagradas escrituras, interpretando-as a serviço da justiça e nunca do poder, o teólogo argumenta que “Bergoglio, com seu comportamento, foi uma novidade incrível: ele não teve a pretensão de levar os homens a Deus, mas levou Deus aos homens, foi a carícia do Pai para aqueles que se aproximaram dele”, expressa ao Cronache Maceratesi.
O Papa Francisco foi o primeiro em muitas coisas: primeiro Papa jesuíta, primeiro a ser eleito com seu antecessor ainda vivo. O primeiro a residir fora do Palácio Apostólico e a assinar uma Declaração de Fraternidade com uma importante autoridade islâmica. O primeiro a atribuir funções de responsabilidade a mulheres e leigos na Cúria e o primeiro a abolir o sigilo pontifício em casos de abusos sexuais.
A entrevista é de Francesca Marsil, publicada por Cronache Maceratesi, 29-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Maggi, por que Bergoglio foi escolhido há 12 anos se hoje decepcionou tanto assim grande parte da Igreja?
Ele foi escolhido para suceder Ratzinger porque era um conservador, rígido e tradicionalista, e sua eleição era vista como uma esperança. Era um período difícil para a Igreja, um escândalo após o outro. Era necessária uma pessoa segura do ponto de vista pastoral e Bergoglio, que inicialmente era um conservador com alguma abertura e, acima de tudo, que não tinha esqueletos escondidos no armário, era o homem ideal. Mas depois de sua eleição houve uma transformação, segundo aqueles que o conheciam não era mais o mesmo.
Havia sempre sido um jesuíta intransigente consigo mesmo e com os outros, viveu na obediência, o valor mais alto, mas depois de sua eleição floresceu uma nova pessoa.
Isso ficou claro desde a primeira vez que ele se debruçou sobre a Praça São Pedro: tinha renunciado aos paramentos papais do cargo e, acima de tudo, algo que ainda me causa arrepios, pediu a bênção do povo, algo que nunca havia acontecido antes. Ele deixou todo mundo desnorteado: nunca teriam pensado que Bergoglio teria a intenção de reformar nada menos do que a Cúria Romana, eliminar privilégios e criticar as vaidades do clero que, no final, não o suportava mais, porque revirou tudo. A escolha de morar em Santa Marta para garantir seu equilíbrio psíquico foi sentida por muitos como uma afronta. No início, era apenas um murmúrio discreto, depois se tornou um descontentamento cada vez maior e, no final, sem mais hesitações, um dissenso aberto contra o papa que havia vindo do fim do mundo. O Papa Francisco conseguiu decepcionar a todos em um curto espaço de tempo.
Decepcionou aqueles que queriam uma Igreja com uma liderança conservadora e não progressista, então...
Sim. E a decepção se transformou em um ressentimento que, no início, era latente e agora se manifesta de forma evidente. Sua mera presença, sóbria e espontânea, era um constante ato de acusação aos pomposos prelados, faraós anacrônicos cheios de si. Ele decepcionou os bispos de carreira, prontos a se clonar com o pontífice de plantão, para imitá-lo em tudo, desde as vestimentas até a doutrina, a fim de cair em suas boas graças e obter seus favores, mas quando Francisco os convidava a ter o cheiro das ovelhas, para eles foi um choque. Para eles, o Papa Bergoglio não usou sua autoridade como comandante em chefe. Ele decepcionou grande parte do clero, que se sentia desnorteado por ter crescido no rígido respeito à doutrina e indiferente ao bem das pessoas, e que não sabia mais como se comportar. Eles acreditavam que, como sacerdotes, estavam acima das pessoas, enquanto este papa os convida a descer e se colocar a serviço dos últimos.
Mas o que ele fez para ser amado pelos últimos e pelos menos crentes?
Ele mudou radicalmente o papel do papado e, acima de tudo, a atenção para com os últimos: lembro-me os gritos de escândalo quando, nas audiências das quartas-feiras, uma freira trazia pessoas trans para a primeira fila: ninguém jamais se sentiu excluído de seu amor. A maior novidade, a que o tornou único em comparação com seus predecessores, é que ele não teve a pretensão de levar o homem a Deus: somos todos diferentes, alguns ficariam para trás e outros excluídos. Seguindo a linha de Jesus, ele levou Deus até os homens, não com uma doutrina que nem todos podem compreender, mas teve a intuição de ser a ternura de um pai para cada criatura, para os próprios marginalizados pela Igreja, essa é a sua grandeza. O Papa Francisco foi um grande, chegou ao coração das pessoas, quebrou tabus, dirigiu-se a todas as categorias, todos os dias, enquanto pôde, entrou em contato com as crianças na Faixa de Gaza e nos mostrou a misericórdia do Pai. A partir de hoje, os últimos o compreenderão ainda mais.
Em 7 de maio começa o Conclave, quais características o novo Papa deveria ter em sua opinião?
Espera-se um pontífice profundamente humano, que se distancie da ‘aristocracia’ e da teologia, que faça brilhar as Bem-aventuranças.