Documentarista resgata movimento de resistência do Vidigal em 1980

Imagem: Cidade de Deus / Wikimedia Commons

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20 Agosto 2024

 "Pereira começou a pensar em Favela do Papa em 2017, quando trabalhou com o músico e cineasta Sergio Ricardo, morador da comunidade do Vidigal, que fez o longa Bandeira de Retalhos, uma ficção sobre o mesmo processo de remoção" escreve Alysson Oliveira, jornalista e crítico de cinema, em artigo publicado por Cineweb, 19-08-2024.

Eis o artigo.

Em 1980, o papa João Paulo II veio visitar o Brasil. Foi a primeira visita de um papa ao país e, além de causar comoção, o que veio antes foi uma longa preparação nas cidades por onde ele ia passar - entre elas o Rio de Janeiro, onde foi decretada a remoção da Favela do Vidigal.

Favela do Papa, documentário dirigido por Marco Antônio Pereira, resgata esse episodio pelo prisma histórico e pessoal, renindo imagens de arquivo da época, além de entrevistas com pessoas que moravam, e ainda moram, nessa favela na época.

“Foi um feito histórico”, comenta o cineasta em entrevista ao Cineweb. “A partir da resistência dos moradores, com o apoio da Pastoral das Favelas, artistas e outras personalidades, a Favela do Vidigal não foi removida. E, a partir desse dia, qualquer remoção se tornou uma questão judicial.”

Favela do Papa é o segundo longa do diretor numa trilogia sobre o Rio de Janeiro. Paisagem carioca – Vista do Morro, de 2013, mostra a vinda de jovens europeus que se mudaram para o Brasil depois da crise de 2008, e acabam se instalando em comunidades. “É o retrato de um processo de gentrificação. Com o aumento dos aluguéis, muitos moradores acabaram sendo expulsos de suas casas”. O terceiro filme da série, em processo de produção, aborda a questão climática e o racismo ambiental.

Pereira começou a pensar em Favela do Papa em 2017, quando trabalhou com o músico e cineasta Sergio Ricardo, morador da comunidade do Vidigal, que fez o longa Bandeira de Retalhos, uma ficção sobre o mesmo processo de remoção.

“Conheci diversas pessoas que estavam lá naquele momento. Muitas já haviam morrido, e pensei que era preciso documentar o que aconteceu naquela época, gravar o depoimento de quem ainda estava aqui.”

Enquanto produzia o filme, descobriu na Cinemateca do MAM um rico material filmado, na época, por uma jovem arquiteta. A caixa de isopor, que estava lacrada, foi encontrada, e o material em super 8, ainda conservado. A digitalização de tudo levou cerca de um ano. “Era um material muito rico e muito bonito. Fui desenvolvendo o filme a partir disso, com as entrevistas novas que a gente fez.”

O cineasta lembra que a temática da favela é bastante importante para o audiovisual brasileiro, de Rio 40º e 5x Favela a produções mais recentes, como Cidade de Deus e 5x favela agora por nós mesmos. “O Brasil é um país de desigualdade, e isso precisa ser sempre mostrado em documentários e ficções. São as pessoas da favela que acordam cedo e arrumam a cidade para a classe média, que tem medo de pretos. Mas são eles que cuidam da sua casa, dos seus filhos”.

Para Pereira, o choque social já se materializou, mas é preciso lembrar que existem coisas boas nas comunidades. “Eu me sinto mais seguro deixando meu equipamento dentro de um carro estacionado numa favela do que em Ipanema.”

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