05 Outubro 2023
É um Sínodo, repete o Papa Francisco na missa de abertura da assembleia. Não é uma reunião parlamentar nem um plano de reformas. O Papa não poderia ter sido mais claro do que isso, embora tenha consciência de que, para o mundo católico conservador – entrincheirado na defesa de posições de poder –, qualquer afirmação será julgada de forma tendenciosa. Mas tanto faz.
A reportagem é de Fabrizio Mastrofini, publicada por Settimana News, 04-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Caros irmãos cardeais, coirmãos bispos, irmãs e irmãos, estamos na abertura da Assembleia Sinodal. E não precisamos de um olhar imanente, feito de estratégias humanas, de cálculos políticos ou de batalhas ideológicas - se o Sínodo dará essa permissão, aquele outro, abrirá essa porta, aquela outra - isso não adianta... Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar ou um plano de reformas. O Sínodo, caros irmãos e irmãs, não é um parlamento. O protagonista é o Espírito Santo. Não. Não estamos aqui para fazer parlamento, mas para caminhar juntos com o olhar de Jesus, que abençoa o Pai e acolhe aqueles que estão cansados e oprimidos”.
E o Papa Francisco continuou observando que é preciso “recentralizar o nosso olhar para Deus, para sermos uma Igreja que olha para a humanidade com misericórdia. Uma Igreja unida e fraterna – ou pelo menos que tenta ser unida e fraterna –, que escuta e dialoga; uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda quem busca o Senhor, que sacode beneficamente os indiferentes, que abre caminhos para iniciar as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus no centro e que, portanto, não se divide internamente e nunca é dura externamente. Uma Igreja que corre riscos com Jesus”.
Do olhar abençoador, o Papa passou a descrever o “olhar acolhedor” de Jesus e da Igreja. “O olhar acolhedor de Jesus convida-nos também a ser uma Igreja hospitaleira, não de portas fechadas. Num tempo complexo como o nosso, surgem novos desafios culturais e pastorais, que requerem uma atitude interior cordial e gentil, para podermos nos confrontar sem medo”. E é a “Igreja de portas abertas a todos, todos, todos!”.
O convite para ir em frente foi então resumido e expresso pelo Papa com algumas frases claras. “Diante das dificuldades e desafios que nos esperam, o olhar abençoador e acolhedor de Jesus impede-nos de cair em algumas tentações perigosas: de ser uma Igreja rígida - uma alfândega -, que se arma contra o mundo e olha para trás; de ser uma Igreja morna, que se rende às modas do mundo; de ser uma Igreja cansada, fechada em si mesma”.
E assim, no dia 4 de outubro, festa do santo de Assis, de quem tomou o nome, Francisco abriu a assembleia. Concelebraram os 21 novos cardeais nomeados no Consistório de 30 de setembro e todo o colégio cardinalício; estavam presentes todos os 464 participantes do Sínodo, dos quais 365 com direito a voto e entre eles 54 presenças femininas pela primeira vez com direito a voto. Também presentes os 20 delegados das Igrejas Orientais. E todos regressando de Sacrofano, perto de Roma, onde viveram três dias de retiro, pontuados pelas meditações do Padre Timothy Radcliffe e da Madre Ignazia Angelini, pelas missas celebradas por bispos e por vários momentos de oração.
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