Humildade: a virtude para aprendermos a amar a Deus e ao próximo

Foto: Luis Ca | Cathopic

08 Dezembro 2022

"Como é difícil por nós mesmos nos tornarmos humildes e alcançarmos esta virtude que 'é um dom de Deus', podemos seguir o conselho do abade do Sinai e ouvir novamente as palavras de Jesus: 'Aprendei de mim', disse o Senhor; não de anjo, nem de homem, nem de livro, mas 'de mim', isto é, de meu ensino, de minha luz, e das operações interiores que eu faço em vossas almas morando nelas, como quem diz: aprendei que sou humilde e manso de coração, nas palavras, nos sentidos, e achareis descanso de batalhas e alívio da guerra de vossos pensamentos'".

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.

"Ide anunciar a João o que estais vendo e ouvindo: os cegos veem e os paralíticos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres lhes é anunciado a boa notícia; e feliz é aquele que não se escandaliza por causa de mim!" Esta resposta de Jesus à pergunta dos discípulos de João Batista, sobre se Ele é "aquele que haveria de vir" ou se deveriam "esperar algum outro", isto é, a resposta "sobre a sua própria identidade", não é dada com "palavras, mas com fatos", pontuou Santo Ambrósio, bispo e doutor da Igreja no século IV.

O sentido espiritual desta resposta também é manifesto na celebração Eucarística, quando o sacerdote repete as palavras do salmista: "Provai, e vede que o Senhor é bom". Trata-se de uma experiência a ser feita por todos aqueles que, sendo cegos, paralíticos, leprosos, surdos, mortos e pobres, vão ao Senhor para comprovar por si mesmos o que é proclamado no Evangelho deste domingo.

Uma das vias para fazer essa experiência foi apresentada pelo eremita do Sinai, São João Clímaco (581-606), em um dos clássicos da espiritualidade cristã, intitulado Santa Escada (Escada para o Paraíso). No topo e fim desta escada espiritual, composta de 30 degraus, está Jesus, modelo para a alma que se dispõe a mortificar suas paixões e vencer os apetites e afetos a fim de alcançar as virtudes e tornar-se cristão. Nas palavras do abade do Monte Sinai, "cristão é aquele que trabalha por imitar a Jesus Cristo, tanto em Suas obras, como em Suas palavras, crendo firmemente na Santíssima Trindade".

 


A escada da ascensão divina
Foto: Reprodução

 

A virtude que vence todas as paixões, segundo ele, é uma que nós julgamos ter de sobra para dar e vender – especialmente ao nos comparamos com o próximo –, quando na verdade estamos bastante distantes dela: a humildade.

"Humildade é esquecimento atentíssimo de todos os bens que praticamos. Humildade é ter-se o homem por mais baixo de todos e pelo maior pecador. Humildade é conhecimento da alma, mediante o qual vê o homem sua própria fraqueza e miséria. Humildade é adiantar-se a pedir perdão ao próximo e aplacar sua ira, ainda que tivesse sido por ele agravado. Humildade é conhecimento da graça e misericórdia de Deus. Humildade é sentimento do ânimo contrito e negação da própria vontade."

Essa virtude, que tem diversos graus, quando começa a florescer, "arranca de nossa alma toda a ira e fúria" e quando começa a crescer, "temos em nenhuma conta todo o bem que fazemos", assegura. Como é difícil por nós mesmos nos tornarmos humildes e alcançarmos esta virtude que "é um dom de Deus", podemos seguir o conselho do abade do Sinai e ouvir novamente as palavras de Jesus: "'Aprendei de mim', disse o Senhor; não de anjo, nem de homem, nem de livro, mas 'de mim', isto é, de meu ensino, de minha luz, e das operações interiores que eu faço em vossas almas morando nelas, como quem diz: aprendei que sou humilde e manso de coração, nas palavras, nos sentidos, e achareis descanso de batalhas e alívio da guerra de vossos pensamentos".

 

 

Sobre o exercício da prática das virtudes, a carmelita e doutora da Igreja, Santa Teresa de Jesus, recomendava a suas irmãs:

"A melhor precaução é pedir sempre a Deus, quando oramos, que nos tenha em sua mão e pensar continuamente em como cairemos logo no mais profundo abismo, se ele não nos assistir, como é a pura verdade. Jamais cometemos o desatino de confiar em nós mesmos.

Onde me parece haver maior segurança é em andarmos com particular atenção e cuidado, vendo como progredimos nas virtudes. Cada um examine se vai melhorando ou diminuindo em alguma delas, especialmente no amor de umas para com as outras, no desejo de ser tida pela menor e na perfeição das obras ordinárias. Se examinarmos bem e pedirmos luz ao Senhor, logo veremos o lucro ou a perda."

E para as almas que se exercitam na humildade, garante:

"E crede-me: ainda que Deus jamais desse consolações às almas deveras humildes, daria paz e conformidade, com que andariam mais contentes do que outras com regalos. Muitas vezes, como tereis lido, Sua Majestade reparte as consolações com os mais fracos. Somos mais amigos de prazeres que de cruzes. Por isso os fracos não trocariam suas consolações pelos valores dos que veem às voltas com securas [espirituais]. Prova-nos, Senhor, que sabes as verdades, a fim de que nos conheçamos."

Que neste Advento, possamos olhar para nós mesmo com humildade, a fim de reconhecermos nossa miséria e, com o auxílio do Senhor, exercitar-nos, de degrau em degrau, nas virtudes que nos conduzem ao topo da Escada, que é o próprio Cristo.

 

 

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