A implosão do catolicismo

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06 Dezembro 2022

"É preciso que a Igreja se faça pobre de poder mundano, se despoje do poder jurídico. A Igreja deve sentir-se como um "caminho", como os primeiros cristãos a professavam, e pensar-se na forma de 'seguimento', não daquela de uma religião", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 05-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Um monge beneditino, verdadeiro irmão e amigo, teólogo refinado e homem de letras reconhecido por seus escritos, François Cassingena-Trévedy, em seu último livro escrito na condição de exílio de seu mosteiro, confessa “estar em constante contato com a sua igreja e com sua época” da qual destaca um evento importante: “o naufrágio de toda uma paisagem religiosa”.

Como cristão, também eu devo confessar que o que mais me perturba no caso da fé é esse naufrágio, que se poderia chamar de "implosão", do catolicismo, esse declínio vistoso do cristianismo, pelo menos no nosso mundo, a Europa. Para um católico que se aproximou da maturidade da vida com o horizonte de uma promissora primavera, anunciada sobretudo pelo advento do Papa João e do Concílio que ele organizou, não é fácil assistir hoje a esse ocaso que não é só o fim da cristandade, mas é também a espoliação de uma Igreja atualmente visível apenas na forma de minoria e em caminho da diáspora.

Não creio que aqueles que alimentaram uma grande esperança de reforma da Igreja e de sua permanência na história desejassem uma Igreja triunfante e maior: o desejo era viver em uma Igreja capaz de escuta da humanidade e, portanto, tão convicta da primazia do Evangelho a ponto de assumir seu estilo, práxis e espírito. Mas não foi assim.

Certamente hoje a Igreja Católica é humilhada por suas contradições ao Evangelho que emergem como escândalos sobretudo financeiros e violações da dignidade da pessoa humana: mas justamente a partir dessa humilhação será possível que se torne humilde? Hoje a Igreja está impedida de dominar a história: mas ela é realmente capaz de acolhê-la como bem-aventurança? Estamos cientes de que, graças ao caminho sinodal desejado pelo Papa Francisco, pedidos de reforma emergem do povo de Deus de forma inédita: mas a Igreja se mostrará mais uma vez irreformável?

Todos os dias nas várias igrejas se vivem escândalos que causam não só desamor, mas também abandono da comunidade cristã e todos somos testemunhas do crescimento exponencial de igrejas fechadas, igrejas vazias, assembleias em que só aparecem cabeças brancas... A espoliação que está acontecendo é vistosa e nos faz sofrer, mas ainda estamos longe de lê-la em sua forma evangélica.

Não se trata apenas de pobreza, de recusa da riqueza e de partilha com os pobres: é preciso que a Igreja se faça pobre de poder mundano, se despoje do poder jurídico. A Igreja deve sentir-se como um "caminho", como os primeiros cristãos a professavam, e pensar-se na forma de "seguimento", não daquela de uma religião.

Então haverá a conversão do catolicismo à catolicidade e desaparecerá o risco de um catolicismo sem cristianismo, de uma religião teísta condenada hoje à autorreferencialidade, às tentativas falaciosas de autopreservação. Então o Evangelho - como a Boa Nova de que a morte não tem a última palavra porque Jesus Cristo, que é o amor vivido ao extremo pela humanidade, a venceu - não permanecerá mais afônico e poderá ressoar claramente em comunidades minoritárias, mas significativas.

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