Padre Zanotelli (em sintonia com o Papa) inicia um jejum contra a renovação do acordo Itália-Líbia sobre os migrantes

Foto: Gustavo Marinho/portal MST.

06 Outubro 2022

 

Fortalecido pela posição firme do Papa Francisco contrária aos acordos sobre a Líbia assinados na época pelo então ministro Marco Minniti que deram vida - como consequência - aos terrificantes campos de concentração líbios nos quais foram torturados e massacrados milhares de homens e mulheres migrantes, o padre Alex Zanotelli, comboniano, iniciou um jejum periódico para pressionar o Parlamento italiano a não renovar o Memorando Itália-Líbia em 2 de novembro.

 

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Mattino, 10-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

“Este mês queremos recordar o terrível e vergonhoso naufrágio de 3 de outubro de 2013, quando 368 refugiados perderam a vida na costa de Lampedusa. Naquele dia a Europa perdeu definitivamente a sua inocência. Hoje o Mediterrâneo tornou-se o cemitério de mais de 50.000 refugiados. É o naufrágio de uma Europa dos direitos”.

 

O Padre Zanotelli explica os motivos do "Jejum da Justiça em solidariedade com os migrantes" que será repetido todas as quartas-feiras do mês, na Piazza Santi Apostoli, em Roma. "O Jejum pela Justiça em solidariedade com os migrantes será realizado das 16h às 18h. Protestamos fortemente porque novamente nos é negada a permissão para nos colocarmos diante do Parlamento italiano para ressaltar a dimensão política daqueles que, naquele dia, jejuarão em suas casas ou nos mosteiros, ou nas ruas de várias cidades”.

 

Além disso, ressalta Zanotelli, “estamos jejuando contra a renovação do Memorando Itália-Líbia, que o Parlamento é convocado para renovar em 2 de novembro. Um acordo criminoso culpado de tantas mortes na Líbia e no Mediterrâneo. Apelamos à consciência de vocês parlamentares para que repudiem esse acordo para não se mancharem com o sangue de tantos inocentes e empobrecidos”.

 

O Papa expressou forte contrariedade com o acordo assinado pelo então Ministro do Interior Marco Minniti no final de fevereiro, em Florença, durante a conferência dos bispos e prefeitos do Mediterrâneo, organizada pelo prefeito Nardella e pela CEI do Cardeal Bassetti e de seu secretário geral, Monsenhor Russo (por isso foi depois punido e enviado para ser bispo de uma diocese de segundo plano). O Papa deveria ir àquela conferência, mas quando soube que no comitê científico estava justamente o expoente do PD considerado ligado ao sofrimento indescritível de milhares de migrantes, irritou-se a ponto de faltar ao encontro, apesar de ter sido aguardado até mesmo pelo Chefe de Estado.

 

A desculpa dada foi a dor persistente no joelho. Naquele domingo depois do Angelus, ele nem sequer fez referência ao encontro florentino, nem mesmo para enviar uma saudação aos participantes. Enquanto isso, em Florença estava circulando um folheto, assinado por alguns párocos pacifistas, entre os quais Padre Massimo Biancalani de uma paróquia de Pistoia e o abade de San Miniato, o teólogo Padre Bernardo Gianni, ex-pregador nos exercícios da cúria e grande interlocutor de Francisco. O apelo intitulava-se, para evitar dúvidas: 'Florença diz não a Minniti'.

 

Posteriormente, o Papa, em um encontro com os bispos italianos que ocorreu a portas fechadas, voltou ao assunto explicando que não havia ido ao encontro dos bispos e prefeitos do Mediterrâneo (duas conferências separadas, com um momento comum) por causa do joelho doente e também pela política do governo italiano (assinada pelo então Ministro do Interior Marco Minniti). Uma política que favoreceu os campos de concentração na Líbia.

 

Leia mais