Transmissão da Fé. “Opção Francisco”, por Armando Matteo

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26 Setembro 2022

 

"A comunidade crente não é mais capaz de fazer novos cristãos e novas cristãs, simplesmente porque pressupõe a transmissão da fé aos representantes das novas gerações como ativa dentro das famílias cristãs. E continua fazendo o que sempre fez, com ajustes mais ou menos pequenos. Mas é justamente o direcionamento decisivo dos filhos para a experiência da transcendência pelos pais que não ocorre mais", escreve Armando Matteo, teólogo, em artigo publicado por Settimana News, 24-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Segundo ele, "é hora de fazer uma nova tradução pastoral do cristianismo".

 

Foto: Reprodução Settimana News

Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto e o sexto artigos da série.

 

Eis o artigo.

Há uma passagem da Evangelii gaudiumdo Papa Francisco, que, na opinião de quem escreve, ainda não foi suficientemente meditada pelos crentes e muitos de seus pastores, e que oferece uma descrição muito clara do que cabe ao cristianismo ocidental no final do século o cristianismo.

Eis o texto:

“Também não podemos ignorar que, nas últimas décadas, se produziu uma ruptura na transmissão geracional da fé cristã no povo católico. É inegável que muitos se sentem desiludidos e deixam de se identificar com a tradição católica, que cresceu o número de pais que não batizam os seus filhos nem os ensinam a rezar, e que há um certo êxodo para outras comunidades de fé. Algumas causas desta ruptura são a falta de espaços de diálogo familiar, a influência dos meios de comunicação, o subjetivismo relativista, o consumismo desenfreado que o mercado incentiva, a falta de cuidado pastoral pelos mais pobres, a inexistência dum acolhimento cordial nas nossas instituições, e a dificuldade que sentimos em recriar a adesão mística da fé num cenário religioso pluralista” (70).

Nunca como nesse caso – e ao mais alto nível de magistério – havia se reconhecido o fenômeno da ruptura na transmissão geracional da fé cristã. Há várias décadas se discutem as dificuldades que as comunidades católicas encontram no campo da iniciação cristã dos pequenos, quase sempre sem chegar a um verdadeiro ponto de virada. E a razão é evidente: naquelas discussões intermináveis não se tem coragem de abordar as razões últimas daquelas dificuldades.

Um cristianismo a ser retraduzido

Na verdade, a comunidade crente não é mais capaz de fazer novos cristãos e novas cristãs, simplesmente porque pressupõe a transmissão da fé aos representantes das novas gerações como ativa dentro das famílias cristãs. E continua fazendo o que sempre fez, com ajustes mais ou menos pequenos.

Mas é justamente o direcionamento decisivo dos filhos para a experiência da transcendência pelos pais que não ocorre mais. O Papa Francisco diz claramente: hoje há muitos pais que não batizam mais seus filhos, aqueles que não ensinam a rezar e aqueles que simplesmente não se identificam mais com a tradição católica.

Precisamente aqui chegamos, diretamente, ao que significa tomar ciência do "fim da cristandade": significa reconhecer que a população adulta – aquela à qual pertencem os pais – saiu quase completamente da órbita do cristianismo. Pelo menos daquela tradução pastoral do cristianismo imaginada e pensada em tempos passados, isto é, antes daquela mudança de época – à qual a Opção Francisco constantemente se refere – que transformou radicalmente o Ocidente de um vale de lágrimas na atual terra do bem-estar.

Levar a sério o anúncio do fim da cristandade implica, portanto, um compromisso preciso: reconhecer que é hora de fazer uma nova tradução pastoral do cristianismo.

 

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