25° Domingo do tempo comum – Ano C – Subsídio exegético

Fonte: wikipedia.commons

16 Setembro 2022



Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

 

Leituras do dia

Primeira Leitura: Am 8,4-7
Segunda Leitura: 1Tm 2,1-8
Salmo: 112,1-2.4-6.7-8
Evangelho: Lc 16,1-13

 

O Evangelho

 

A prática religiosa que apenas se ocupa com belos rituais, liturgias extravagantes, vestes sacras pomposas, incenso, mas não pratica a justiça, não é verdadeira. Portanto, antes de todas estas preocupações, conta a justiça, a partilha e o compromisso social: econômico e político. Sem justiça, o culto se torna desagradável a Deus.

 

A parábola de Lc 16,1-13 parece difícil. Numa leitura superficial, poder-se-ia supor que o administrador elogiado foi infiel, pois doou o que não era seu. No entanto, hoje muitos biblistas creem que este administrador foi infiel, sim; mas a infidelidade ocorreu ao estabelecer altas taxas de juros aos empréstimos e não na hora de abdicar destas mesmas taxas. Neste momento ele apenas abriu mão do seu egoísmo. Ao emprestar os bens de seu patrão, estabeleceu taxas exorbitantes das quais tirava seu salário com muita usura, fora do que foi estabelecido pelo dono. De fato, ele emprestou cinquenta barris, ou talvez menos que isto. Os outros cinquenta eram o ganho ambicionado pelo administrador.

 

Na iminência de ser demitido, ele reconheceu seu erro e abdicou de sua parte, ou seja, renunciou à ganância, isto é, aos seus lucros exagerados. Ele passou do sistema de usura para o sistema de partilha. Favoreceu os endividados sofridos. Em vista dos problemas da vida, abriu mão de sua ganância, de seus ganhos astronômicos e ilícitos. Ele soube relativizar os bens, pois ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6,24b). Logo, o elogio do patrão não se refere a quem abusou de propriedades alheias manipulando taxas de juros previamente estabelecias pelo dono, o que não lhe cabia fazer. O elogio se refere ao fato de saber renunciar à própria ganância, isto é, abrir mãos do egoísmo, para assim favorecer os endividados em sua penúria.

 

Relacionando com as outras leituras

 

Am 8,4-7: O profeta Amós atuou entre os anos 780 a 740 a.C. no Reino do Norte. Nos santuários de Guilgal e Betel se praticava vistosas liturgias, observando festas, sábados, etc. (Am 4,4ss). Porém, esta liturgia falava de Deus, mas não tocava em assuntos de justiça. Os ricos comerciantes roubavam a balança, extorquiam o pobre. Amós mostra que Deus jamais aceitará estas injustiças. Em outras palavras, Deus não aceita culto quando se pratica a injustiça (Is 1,10ss; Is 58,1ss).

 

1Tm 2,1-8: Paulo exorta os cristãos a rezarem por todos: reis, autoridades, pela paz, pois Deus quer a salvação de todos. Portanto, a verdadeira oração cristã, é sempre pela coletividade e não apenas por interesses pessoais, ou particulares. As liturgias da Igreja, também, hoje, são antes de tudo, universais (por ex.: orações eucarísticas), num segundo momento também tocam em interesses pessoais ou particulares.

 

A mensagem na atualidade

 

Hoje, é comum, entre muitos cristãos, buscar uma religião com vistosas liturgias, mas que só olhe para o céu, sem se importar com os problemas da vida real, dizendo que o mundo econômico e político não é da competência da Igreja. Segundo tal visão, a César compete a economia e a política; à Igreja compete o mundo espiritual. De forma fundamentalista, citam: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12,17). Geralmente agem assim porque não querem que a fé questione suas riquezas e seus privilégios.

 

Até há os que criticam a Campanha da Fraternidade anual, quando a Igreja convida seus fiéis à conversão que necessariamente passa pela economia e política, dizendo que isto não é religião, mas apenas política. Dizem, alguns: “Queremos quaresma sem Campanha da Fraternidade, religião sem política”. Foi exatamente isto que Amós denunciou no seu tempo, é isto que Jesus denuncia com seu ensino. Desfazer-se da usura para servir a Deus, deixando o excesso de lucros para favorecer quem geme sob o peso das dívidas e assim firmar novas relações. No caso da parábola, a renúncia ao excesso do administrador foi alimento na mesa dos endividados. Isto agrada a Deus, mais do que liturgias pomposas. As liturgias que agradam a Deus, são a celebração da justiça que se vive.

 

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