Cardeal Martini, precursor de Francisco

Carlo Maria Martini. (Foto: Pastoral SJ)

31 Agosto 2022

 

No dia 31 de agosto, terão se passado 10 anos da morte de Carlo Maria Martini, arcebispo de Milão de 1979 a 2002 e cardeal (função para a qual foi chamado em 1983 por João Paulo II), refinado biblista e teólogo. Foi um estimado pastor entre e dos seus fiéis, a tal ponto que, em 1983, foi escolhido pelos militantes ainda livres da Prima Linea [movimento armado italiano de extrema-esquerda] para a entrega das armas ainda à disposição deles (kalashnikovs, metralhadoras, pistolas, munições e bombas para bazucas).

Em 1987, ele lançou na arquidiocese a iniciativa, que terminou em 2002, da “Cátedra dos não crentes”, dirigida nas intenções de Martini a todos os “pensantes”, sem distinção de credo.

Este era o arcebispo de Milão: um homem para o diálogo e o encontro entre diferentes, por religião, gênero, família, ideologia, etnia, nascimento, história pessoal; e, por isso, um homem de fronteira, aberto àquela modernidade científica e filosófica, verdadeiros “sinais dos tempos” aos quais a Igreja, em vez disso, continuava e continua resistindo, apesar do – mas também contra o – desafio lançado pelo Concílio Vaticano II.

E o cardeal se lamentava ao constatar que a Igreja tinha “ficado 200 anos para trás”, totalmente voltada para a conservação e o tradicionalismo, e não para a autêntica tradição, cuja substância deve ser mantida e transmitida, mas deixando que a forma se atualize, para que, de vez em quando, ela seja significativa para as culturas e os tempos que a acolham.

Sobre a figura do cardeal Martini, Gianfranco Poma, presbítero em Pavia, e Walter Minella, ex-professor de História e Filosofia na mesma cidade, escreveram uma reflexão que evidencia não apenas a sua atualidade, mas também a necessidade de assumir a sua perspectiva e de seguir o seu ensinamento.

O artigo foi publicado por Adista Documenti, n. 28, 30-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o artigo.

 

A entrevista concedida em 8 de agosto de 2012 pelo cardeal Martini – revisada e aprovada pelo autor, que morreria alguns dias depois, em 31 de agosto de 2012 – a Georg Sporschill, o coirmão jesuíta que o entrevistara para os “Diálogo noturnos em Jerusalém” [1], e a Federica Radice, constitui o testamento espiritual desse grande intelectual e homem da Igreja.

Relê-la hoje é uma experiência instrutiva e também emocionante. Martini está perfeitamente ciente do abismo em que a Igreja Católica, a sua Igreja, corre o risco de cair. E as suas afirmações são extremamente lúcidas, francas, ásperas e essenciais. No momento final, já não é mais tempo de perífrases, de atenuações: resta apenas a verdade nua.

Tentemos evidenciar as características fundamentais da síntese final do cardeal Martini e, depois, tentemos ver as suas analogias com o pensamento e a prática do Papa Francisco.

O ponto fundamental, em nossa opinião, é enunciado no fim: “A Igreja ficou 200 anos para trás. Como é que ela não se sacode? Medo ao invés de coragem? No entanto, a fé é o fundamento da Igreja. A fé, a confiança, a coragem”. O cardeal Martini era um homem que sopesava as palavras que dizia. Tentemos, então, entender bem o significado da sua declaração.

 

Carlo María Martini (Foto: Mafon1959 | Wikimedia Commons)

 

O atraso de 200 anos

 

Comecemos pelo negativo: por que, em que sentido a Igreja ficou 200 anos para trás? Acreditamos que a resposta seja esta: porque, traumatizada pelos efeitos da Revolução Francesa, no início do século XIX, ela pensou em se contrapor frontalmente à modernidade em todos os seus aspectos – a ciência moderna, a liberdade de consciência, de opinião, de imprensa, o pluralismo religioso, a democracia – e, para esse fim, considerou que podia voltar aos privilégios do ancien régime, idolatrado como suposto regime cristão.

Basta ler o Sílabo, emitido por Pio IX em 1864, para entender a que abismos de incompreensão essa atitude culturalmente obtusa e politicamente reacionária podia levar. Ela continuou muito além de Pio IX: basta recordar a triste história da condenação do chamado modernismo, com a encíclica Pascendi dominici gregis, assinada por Pio X em 1907, que deu início a uma verdadeira caça ao modernista que se arrastou por anos e anos na Igreja Católica, com episódios particularmente miseráveis.

Essa atitude de fechamento continuou ao longo dos anos: basta recordar as perseguições contra os teólogos abertos ao desafio da modernidade – Teilhard de Chardin, De Lubac, Chenu, Congar... Essas condenações só foram derrubadas no tempo do Concílio, com o reconhecimento da contribuição decisiva dada por esses teólogos ao “aggiornamento” (Papa João XXIII) da doutrina da Igreja.

Em suma, para entender o atraso plurissecular da Igreja de que Martini fala, somos forçados a recorrer ao evento capital na história da Igreja Católica dos últimos séculos, isto é, ao Concílio Vaticano II, que em princípio encerrou uma época e abriu as portas da Igreja para o debate com o mundo moderno – e agora pós-moderno (o cardeal Martini, refinado biblista, estava bem ciente de como havia sido providencial a abertura às ciências modernas, também no campo da pesquisa bíblica).

Portanto, na afirmação sobre os 200 anos de atraso, também deve ser lida uma reivindicação polêmica em relação aos defensores da chamada “hermenêutica da continuidade”, que, contrastando os resultados da pesquisa historiográfica mais credenciada – pensemos na “História do Concílio Vaticano II”, editada por Giuseppe Alberigo –, pretendiam achatar o Concílio Vaticano II sob o Concílio Vaticano I e, antes ainda, sob o Concílio de Trento, removendo assim a novidade do Concílio em nome da referência ao tradicionalismo, confundido com a tradição (o tradicionalismo é algo diferente da tradição viva: como dizia Mahler – retomado por Karl Rahner – “tradição é conservar o fogo, não adorar as cinzas”).

Tratava-se de “normalizar” o Concílio Vaticano II segundo o modelo do Concílio Vaticano I, de conter, “suprimir e cortar” as suas manifestações mais rigorosas e autênticas, como infelizmente a Igreja optou por fazer nos anos 1970 (pense-se, para dar apenas um exemplo, na repressão da inteligência de um dos mais brilhantes teólogos morais da segunda metade do século XX, Ambrogio Valsecchi).

 

 

Em vez disso – este nos parece ser o cerne da mensagem do cardeal Martini – era e é necessário dar pleno andamento, de modo corajoso e aberto, aos desenvolvimentos que nascem da assunção do paradigma do Concílio Vaticano II, isto é, do debate obrigatório com as ciências e as filosofias da modernidade (e hoje da pós-modernidade). Mas isso implica a resolução diferente de um problema fundamental: como pensar a inculturação do cristianismo?

Como se sabe, o primeiro cristianismo foi pensado mediante as categorias da filosofia grega, que são uma maravilhosa expressão da inteligência humana e que nós também apreciamos. No entanto, o pensamento humano no Ocidente não parou nela. Em campo científico e filosófico, passando pelo Renascimento, o nascimento das ciências naturais e sociais, o Iluminismo, surgiu outro modelo de razão, em comparação com o grego clássico: nele, o valor teológico-metafísico não é absolutamente assumido como um corolário indiscutível das proposições científicas, mas é problematizado, senão até posto entre parênteses ou até mesmo negado. Esse é o ar do nosso tempo, esse é o senso comum do Ocidente, esse é o desafio que devemos enfrentar: e não podemos fazer isso invocando o retorno a um passado, ainda que glorioso nos seus melhores momentos (e horrível nos piores). O testemunho cristão deve saber se medir com os níveis mais altos alcançados pelo saber contemporâneo.

Demos um exemplo que um refinado conhecedor de música como Ratzinger poderia entender bem: todas as pessoas com uma cultura musical admiram a esplêndida polifonia de Palestrina. Mas isso impede, talvez, de apreciar a Missa solemnis de Beethoven ou as músicas sacras de Messiaen ou de Pärt? A resposta que os tradicionalistas dão ao problema da inculturação da fé cristã – no Discurso de Regensburg, o Papa Bento XVI fez isso de modo refinado; os seguidores muitas vezes fazem isso de modo intelectualmente grosseiro – é essencialmente esta: a inculturação da fé cristã fé na Grécia é um evento providencial, e, portanto, nós devemos assumir os seus resultados não apenas como um fato histórico, que como tal deve ser sempre repensado, mas como um fato meta-histórico, ou seja, um conjunto de verdades metafísico-teológicas, que devem ser conservadas e transmitidas como verdades eternas, tanto na sua substância quanto na sua forma. Portanto, a fé cristã equivale à doutrina tradicional cristã.

Sendo assim, é evidente que se torna incompreensível uma série de aquisições da pesquisa científica moderna, tanto no campo das ciências humanas (por exemplo, a hebraicidade de Jesus, “um judeu marginal”, para nos referirmos ao título da grande pesquisa em vários volumes do Pe. Meier), quanto no âmbito das ciências naturais (por exemplo, a teoria da evolução, as pesquisas em torno da gênese e da dinâmica do universo etc.). Sem tomismo, não há fé cristã? Em geral: a fé cristã equivale à sua inculturação original? Segundo Ratzinger, sim; segundo Martini, não.

 

A síndrome de onisciência

 

Para Martini, era hora de retomar com energia e com coragem o debate com a (pós-)modernidade, que começou, mas certamente não terminou, com o Concílio Vaticano II. Mas isso exigia dois pressupostos, um intelectual e outro moral.

No plano intelectual, era preciso sair da “síndrome de onisciência”, que acompanhara a Igreja Católica na sua batalha contra a cultura científica e filosófica moderna. Nesse sentido, ele tomou algumas iniciativas, que certamente despertaram perplexidade, senão até escândalo, nos setores mais fechados da Igreja. Tomemos como exemplo a “Cátedra dos não crentes”: por si só, já era uma bofetada no tradicionalismo, pois levantava a hipótese de que os não crentes, longe de serem ovelhas perdidas para evangelizar, podiam ir à cátedra e ensinar alguma coisa, e às vezes muito, aos crentes!

Para isso, era necessário um suplemento de fé (o cardeal Martini era um homem de fé intensa e profunda: precisamente esta lhe permitia a abertura aos diferentes e aos distantes). E a abertura do coração.

Por isso, Martini recomendava três remédios para a crise da Igreja. “O primeiro é a conversão: a Igreja deve reconhecer os próprios erros e deve percorrer um caminho radical de mudança, começando pelo papa e pelos bispos. Os escândalos da pedofilia nos levam a fazer um caminho de conversão. As questões sobre a sexualidade e sobre todos os temas que dizem respeito ao corpo são um exemplo disso. (...) Devemos nos perguntar se as pessoas ainda ouvem os conselhos da Igreja em matéria sexual. A Igreja ainda é uma autoridade de referência nesse campo ou somente uma caricatura na mídia?”.

“O segundo é a Palavra de Deus. O Concílio Vaticano II devolveu a Bíblia aos católicos.” Pensemos na gravidade dessa afirmação! E consideremos se, mesmo que só por isso, o Concílio Vaticano não deve ser considerado um evento revolucionário – no sentido da palavra latina revolutio, retorno ao ponto de partida, às origens].

Sobre a Palavra de Deus, o biblista Martini diz coisas fundamentais: “Somente quem percebe no seu coração essa Palavra pode fazer parte daqueles que ajudarão a renovação da Igreja e saberão responder às perguntas pessoais com uma escolha justa. A Palavra de Deus é simples e busca como companheiro um coração que escute (...). Nem o clero nem o Direito eclesial podem substituir a interioridade do ser humano. [Quanto o clero entendeu isso? Quanto ele pratica essa máxima?] Todas as regras externas, as leis, os dogmas nos foram dados para esclarecer a voz interior e para o discernimento dos espíritos.”

 

O sentido da comunhão

 

Terceiro remédio, os sacramentos. O modo como Martini fala sobre isso é digno de nota. “Para quem são os sacramentos? Estes são o terceiro instrumento de cura. Os sacramentos não são um instrumento para a disciplina, mas sim uma ajuda para as pessoas nos momentos do caminho e nas fraquezas da vida. Levamos os sacramentos às pessoas que precisam de uma nova força?”

E, a partir da sequência do raciocínio, deduz-se que a resposta é clara: não, não os levamos. “Eu penso em todos os divorciados e nos casais em segunda união, nas famílias ampliadas. Eles precisam de uma proteção especial. A Igreja defende a indissolubilidade do matrimônio. É uma graça quando um casamento e uma família conseguem isso (...). A atitude que temos com relação às famílias ampliadas irá determinar a aproximação à Igreja da geração dos filhos. Uma mulher foi abandonada pelo marido e encontra um novo companheiro que cuida dela e dos seus três filhos. Se os pais se sentem fora da Igreja, ou não sentem o seu apoio, a Igreja perderá a geração futura. Antes da Comunhão, nós rezamos: ‘Senhor, eu não sou digno...’. Nós sabemos que não somos dignos (...). O amor é graça. O amor é um dom. A questão sobre se os divorciados podem comungar deveria ser invertida. Como a Igreja pode chegar a ajudar com a força dos sacramentos aqueles que têm situações familiares complexas?”

Nasce a partir dessa atitude fundamental uma série de posições de Martini – da atitude respeitosa em relação à homossexualidade (que o Catecismo, em vez disso, redigido sob a direção de Ratzinger, continua considerando como “intrinsecamente desordenado, contrária à lei natural”, § 2.537) à crítica contra a Humanae vitae de Paulo VI, um papa que Martini, aliás, estimava muito.

 

Não é possível tornar Deus católico

 

Por fim, não podemos esquecer que a mesma abertura de mente e de coração se manifestou no apoio convicto de Martini ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso: uma dimensão da experiência religiosa que, na crise atual da humanidade em tempos de globalização, é de importância decisiva.

O fundamento teológico do diálogo inter-religioso é uma teologia apofática [negativa] que não tira nada da peculiaridade do ser católico, mas se abre até o fim às reivindicações positivas apresentadas pelas outras religiões mundiais. Nos “Diálogos noturnos em Jerusalém”, Martini dá uma formulação particularmente incisiva disso: “Devemos aprender a viver a vastidão do ‘ser católico’. E devemos aprender a conhecer os outros. Por exemplo, os muçulmanos... Você não pode tornar Deus católico. Deus está além dos limites e das definições que nós estabelecemos. Na vida, precisamos deles, é óbvio, mas não devemos confundi-los com Deus, cujo coração é sempre mais vasto. Ele não se deixa dominar ou domesticar. Para proteger essa imensidão, não conheço uma forma melhor do que continuar lendo a Bíblia. Ao fazer isso, podemos transmitir a outros o nosso entusiasmo e compartilhar com eles os tesouros que nela encontramos” [2].

A antítese mais clara a esse posicionamento havia sido a “Declaração Dominus Iesus sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja”, emitida pela Congregação para a Doutrina da Fé em 2000, assinada pelo então prefeito da Congregação, o cardeal Ratzinger. Seguindo a icástica expressão de Martini, é possível dizer que, para Ratzinger, “Deus é católico”. Logicamente, deriva dessa atitude original o substancial desinteresse de Ratzinger pelo diálogo inter-religioso, demonstrado, por exemplo, pelo célebre Discurso de Regensburg.

Na sua apresentação dos “Diálogos noturnos em Jerusalém”, intitulada significativamente “Por uma Igreja corajosa”, o Pe. Sporschill observava: “Durante anos, o cardeal Martini foi considerado por muitos como papabilis, candidato à sucessão do papa. O fato de ele sofrer de Parkinson pode ter sido um impedimento. Na Itália, os meios de comunicação muitas vezes tentam se servir desse corajoso alto prelado como de um antipapa devido à sua mentalidade aberta. O cardeal se limita a sorrir e a dizer: ‘Sou, no máximo, um ante-papa, um precursor e preparador para o Santo Padre’”.

 

Carlo Maria Martini (Foto: RaminusFalcon | Wikimedia COmmons)

 

A eleição do Papa Francisco ao sólio pontifício, em nossa opinião, confirma a veracidade dessa previsão/profecia, que quase se poderia dizer: com efeito, o cardeal Martini foi “um precursor e preparador” do Papa Francisco.

Isso não significa que os dois sejam iguais. A história deles é diferente: Martini era um refinado intelectual europeu, Bergoglio é um pastor sul-americano, popular, mas não populista, culto, mas não especialista (embora as suas raízes culturais sejam muito mais profundas e ramificadas do que normalmente se acredita) [3].

É verdade que ambos são jesuítas, e esse fato exerceu uma grande e comum influência sobre a espiritualidade deles. Mas eles não são idênticos: por exemplo, o Papa Francisco faz uma avaliação muito mais positiva da Humanae vitae do que o cardeal Martini. E provavelmente Martini tinha uma atenção mais acentuada à formação intelectual do clero do que o Papa Francisco, que talvez esteja mais interessado nas implicações sociais e práticas da ação da Igreja [4].

E, depois, há as peculiaridades individuais e os condicionamentos históricos desses dois grandes homens, que devem ser admirados, mas não idolatrados, como observa Vittorio Bellavite (“Agora cabe a nós, ‘martinianos’ sobreviventes, não cometer erros, não nos deixar arrastar pela ênfase em relação ao personagem, a ponto de colocá-lo na pista para uma corrida eclesiástica post mortem”) [5].

Dito tudo isso, parece-nos que a grandeza do cardeal Martini emerge em plena luz justamente ao considerar o complexo das questões histórico-teológicas, filosóficas e hermenêuticas a que nos referimos nesta nossa intervenção. Elas se destacam ainda mais considerando a obra de renovação da Igreja, empreendida pelo Papa Francisco à luz do Concílio Vaticano II e certamente não concluída.

Recordemos apenas uma questão fundamental: o papel das mulheres na Igreja, um tema absolutamente central sobre o qual uma mudança de paradigma – ou, se preferir, uma revolução cultural – é verdadeiramente indispensável, cuja necessidade também é sentida pelo Papa Francisco, mas que está bem longe de ser realizada.

 

Notas

 

1. Carlo Maria Martini-Georg Sporschill, Diálogos noturnos em Jerusalém. Sobre o risco da fé. São Paulo: Paulus, 2008.

2. Diálogos noturnos em Jerusalém, cit., pp. 20-21.

3. Cf. Massimo Borghesi, Jorge Maria Bergoglio. Uma biografia intelectual, Petrópolis: Vozes, 2018. Em um ensaio nosso, de próxima publicação, sobre o pensamento do Papa Bergoglio, detemo-nos na característica complexidade estrutural da sua formação cultural, entre a América Latina e a Europa. Afinal, basta ouvir uma das homilias do Papa Francisco para entender como essa aparente simplicidade é, na realidade, uma extraordinária capacidade de ir ao âmago das questões e, portanto, pressupõe uma complexa e oculta atividade de elaboração, segundo o estilo do pato de que falava Raffaele La Capria – aparentemente fácil, mas sustentado por um movimento em vórtice das pernas debaixo da superfície da água.

4. Esta é a opinião de Marinella Perroni: “Infelizmente, sinto a falta de uma exigência de nos tornarmos cristãos adultos, críticos, pensantes, não acadêmicos. Também não ouvimos o Papa Francisco sobre esse ponto… Para ele existe apenas o social, enquanto o aspecto intelectual, ele simplesmente não vê” (La Lettura, 03-07-2022, p. 7).

5. Vittorio Bellavite, “Martini: una memoria non apologetica”, in Adista Segni Nuovi 23, 25-06-2022, pp. 1-3.

 

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