22º Domingo do tempo comum – Ano C – Mesa: lugar de encontro, escuta e partilha!

27 Agosto 2022

 "Jesus nos ensina a não buscar lugares de honra, a não entrar no jogo da competição. Grande desafio para os dias de hoje, onde a sociedade valoriza o TER, sempre mais para si, e não o SER, pessoa com suas fragilidades e esperança. Essa atitude revela o desejo de ser mais, de exercer o poder do privilégio sobre outras pessoas. A competição gera divisões, ciúmes, invejas e violência."

 

A reflexão é de Maria da Graça Rodrigues. Ela é bacharel em teologia pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF (1999), possui pós-graduação em metodologia do ensino religioso (2000) e em aconselhamento e psicologia pastoral (2002) pela Escola Superior de Teologia - EST. Também possui pós-graduação em espiritualidade franciscana pela ESTEF (2017). Atualmente é professora de Ensino Religioso no Colégio Santa Teresa de Jesus e Coordenadora de Pastoral Escolar no Instituto Santa Luzia.

 

 

 

Leituras do dia

 

Primeira Leitura: Eclo 3,19-21.30-31
Salmo: 67,4-7ab.10-11
Segunda Leitura: Hb 12,18-19.22-24ª
Evangelho: Lc 14,1.7-14

 

Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo Jesus, é com o coração alegre que hoje celebramos o 22º Domingo do tempo comum. O Evangelho que vamos refletir e Lucas 14,1.7-14.

 

Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus e eles o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.

 

No Primeiro Testamento, o banquete é sinal de que os tempos messiânicos do Reinado de Deus teriam chegado. Assim escreve o profeta Isaías: “Iahweh dos Exércitos prepara, sobre esta montanha, um banquete para todos os povos…” (Isaías 25,6).

 

Talvez seja a partir desta memória profética que o Jesus nas comunidades lucanas esteja sempre a caminho, entrando nas casas, sentando à mesa para refeições. Assim, estas comunidades guardam-nos seu projeto de discipulado: o Caminho de Jesus é o caminho da comunidade. A Casa é a comunidade que vai se formando ao longo do caminho. A Mesa torna-se o lugar para apreender e viver a proposta de construção de relações afetivas e efetivas com Jesus, compartilhando nossas experiências de vida, e sendo lugar de escuta.

 

Jesus está sentado e o escutamos contar uma parábola: “quando alguém te convidar não sente no primeiro lugar…” (Lucas 14,8). Parece que Jesus está continuando uma conversa que já havia realizado em outro momento da sua vida, sentado à outra mesa: “ai de vós, fariseus, que apreciais o primeiro lugar nas sinagogas e as saudações nas praças públicas …” (Lucas 11,43).

 

Jesus nos ensina a não buscar lugares de honra, a não entrar no jogo da competição. Grande desafio para os dias de hoje, onde a sociedade valoriza o TER, sempre mais para si, e não o SER, pessoa com suas fragilidades e esperança. Essa atitude revela o desejo de ser mais, de exercer o poder do privilégio sobre outras pessoas. A competição gera divisões, ciúmes, invejas e violência.

 

E, depois, Jesus se dirige diretamente para quem o convidara: “ao dares um almoço, não convides teus amigos… Antes, convida os pobres que não têm como te recompensar…” (cf. Lucas 14,12-14).

 

A mesa é o lugar onde somos convidados e convocados a dar resposta ao seguimento de Jesus. Onde denunciamos estruturas excludentes.

 

“O amor é benigno, o amor não procura os próprios interesses, não se orgulha, não se alegra com a injustiça…” (1Coríntios 13,4-7). O amor é gratuito.

 

Percebemos que ainda hoje, o Caminho, a Casa e a Mesa continuam nos desafiando para fazer acontecer o Banquete do Reino, de justiça, de igualdade e inclusão de todos a mesma mesa.

 

“O banquete desta história é a nossa vida. Diante da vida, podemos optar – buscar uma vida de prestígio aos olhos do mundo, com todos os privilégios que isso acarreta, ou buscar o serviço aos irmãos” – nos “humilhando”, pois quem servia era considerado menor do que quem era servido (retrato da nossa sociedade). De novo, Jesus nos coloca diante do seu próprio exemplo, pois ele veio “não para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em favor de muitos” (Mc 10,46).

 

Como é atual este ensinamento! O nosso mundo é um mundo classista. Como gostamos de títulos, de honras, de prestígio! Ali, Jesus nos chama a sermos simplesmente irmãos e irmãs (Mateus 23,8). Papa Francisco nos adverti contra esta busca de prestígio falso que também acontece nas igrejas.

 

O centro da questão está no versículo 11: “de fato, quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”. Jesus nos faz um alerta para que não ponhamos nosso valor nos títulos e nas honrarias que a sociedade aprecia tanto. Mas no serviço humilde aos irmãos e irmãs, unindo-nos à luta dos oprimidos e oprimidas por dignidade e que são humilhados pela sociedade consumista, desigual e violenta.

 

Que Jesus nos conduza para que a mesa seja sempre lugar de encontro, afeto e solidariedade.

 

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