Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe

Fonte: Divulgação

04 Mai 2022

 

"A importância desta Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe está muito além de suas conclusões. Ela abre portas para uma experiência de Igreja que pode responder de forma mais adequada às novas exigências históricas", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe (Paulinas, 2022, 136 p.).

 

Eis o artigo.

 

A América Latina tem sido, desde o pós-Concílio Vaticano II, protagonista de uma frutuosa recepção que procura conciliar a tradição com os sinais dos tempos. As Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e do Caribe e seus desdobramentos são aspectos da recepção do Concílio. Na esteira de Aparecida (2007), realizou-se entre os dias 21 e 28/11/2021 a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Esta foi organizada e realizada pelo Conselho do Episcopado Latino-Americano (CELAM), atendendo a uma convocação do Papa Francisco, que propôs um evento de caráter sinodal ao invés de uma Conferência do episcopado, que envolvesse diferentes segmentos da Igreja.

 

Teve como tema central “Discípulos missionários de Jesus em saída”, foi realizada de forma on-line e teve a participação de 1.036 pessoas. Um grupo de mais de cem pessoas estava presente no México, mas também participou de forma remota das atividades. Do total de 1.036 pessoas, 20% eram bispos, 20% padres, 1,7% diáconos permanentes e 40% leigos e 20% religiosos. A faixa etária dos participantes foi de: 6% entre 20 a 30 anos; 30% entre 31 a 50 anos; e 9% acima de 70 anos. A pessoa mais jovem tinha 17 anos e era representante da Pastoral Juvenil do Equador, e a mais idosa, com 87 anos, era do Instituto Secular da Colômbia.

 

A Assembleia é um passo a mais na busca inaugurada com o Sínodo da Amazônia, continuada no processo em curso com o Sínodo da Sinodalidade do mês de outubro de 2021 e que deverá culminar com o Sínodo de 2023. Assim, a importância desta Assembleia está muito além de suas conclusões (12 desafios). Ela abre portas para uma experiência de Igreja que pode responder de forma mais adequada às novas exigências históricas. Frente a isso, o livro: Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe (Paulinas, 2022, 136 p.), organizado pelo Dr. Wagner Lopes Sanchez, lança diferentes olhares sobre os diversos aspectos da Assembleia. É composto de onze (11) reflexões, sendo que dez (10) foram escritos por pessoas (assembleístas) que participaram da Primeira Assembleia Eclesial:

 

1) Assembleia Eclesial: questões emergentes para o futuro da evangelização na América Latina e no Caribe – Dom Vicente Ferreira (p. 11-20);

2) A convocação de Francisco e a sinodalidade na Assembleia Eclesial: um olhar feminino – Ivenise T. Gonzana Santinon (p. 21-30);

3) O tema da Assembleia Eclesial: discípulos missionários de Jesus em saída – Celia Soares de Souza (p. 31-42);

4) Metodologia e procedimentos para a criação de uma cultura de sinodalidade – Hugo Cáceres (p. 43-48);

5) As CEBs na Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe – Marilza José Lopes Schuina (p. 49-61);

6) A (difícil) construção da sinodalidade na Primeira Assembleia EclesialWagner Lopes Sanchez (p. 63-72);

7) Do Concílio ao Sínodo dos Bispos, das Conferências Episcopais à Assembleia EclesialJosé Oscar Beozzo (p. 73-85);

8) Impasses e aspectos da Assembleia Eclesial: desafios de construir a sinodalidadeCesar Kuzma (p. 87-98);

9) A Igreja que Francisco não verá – Pedro A. Ribeiro de Oliveira (p. 99-107);

10) Caminhos para a sinodalidade eclesial – Diác. Luciano Lima Santana (p. 109-121);

11) Desafios da recepção da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe (p. 123-134).

 

Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe (Foto: Divulgação)

 

Em suma, os diferentes autores/as chamam a atenção para o fato de que esta primeira experiência sinodal exige e exigirá mudança na mentalidade tanto dos organizadores quanto dos participantes em questões práticas ao nível dos procedimentos e da metodologia, pois sem isso, estas reuniões de massa não serão mais do que mudanças cosméticas, sem tocar nas questões essenciais da agenda da reforma estabelecida pelo papa Francisco. Isso exigirá ater-se a procedimentos que impedes conflitos de interesse, que reduzam a distância entre clérigos e leigos, que reconheçam e honrem a diferença de gênero e de minorias, uma metodologia que favoreça a escuta em todas as etapas da Assembleia, bem como, procedimentos litúrgicos que sejam o reflexo da sinodalidade.

 

Destaca-se que a Assembleia Eclesial foi uma experiência de sinodalidade, se não em seu conjunto, pelo menos nos grupos de discernimento. Na maioria dos grupos aconteceu um clima de diálogo e respeito entre as pessoas participantes. Bispos e padres ouviram com a atenção e interesse as propostas apresentadas pelos leigos, e estes últimos faziam o mesmo. Havia muita disposição para refletir, apresentar propostas e participar de maneira corresponsável do processo sinodal. Muitos assembleístas tinham clareza de que a Assembleia Eclesial era muito mais um processo, um caminho, do que propriamente um evento. A sinodalidade é um caminho que rompe com o clericalismo e inaugura uma nova dinâmica baseada na comunhão, no compartilhamento de decisões e na corresponsabilidade.

 

Os impasses percebidos durante a Primeira Assembleia (metodologia, desconsideração do Documento para o Discernimento, espaço de fala dos assembleistas, sugestões apresentadas não incorporadas nos desafios finais, abandono do método ver, julgar e agir, ausência de uma boa análise de conjuntura, omissão acerca da opção preferencial pelos pobres, a ausência de clara referência às CEBs e o papel estratégico das pastorais sociais, déficit em relação à dimensão do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, dentre outros), em nenhum momento invalidam a experiência vivida, as servem de crítica construtiva para a recepção continuação do que deverá ser feito. Um primeiro passo foi dado e exigirá abertura e acolhimento. Se o vinho que temos é novo, aceitamos que os odres são velhos. Precisamos mudar os odres para cuidar melhor do vinho.

 

Portanto, esta Assembleia deve ser colocada como um degrau importante para o processo de construção de uma Igreja sinodal que está sendo buscada não apenas em âmbito continental como também na realidade de toda a Igreja. A Assembleia Eclesial abriu um novo caminho na vida da Igreja na América latina e do Caribe e poderá vir a ser uma nova instância na vida da Igreja Católica de forma mais ampla. Respondendo ao desafio do papa Francisco, na Assembleia Eclesial da Igreja na América latina e do Caribe colocou-se uma nova dinâmica para levar adiante a sua missão para que possamos viver nossa cidadania eclesial.

 

 

Esta obra escrita a partir da experiência dos assembleístas mostra-nos como esta Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe inaugura um novo processo eclesial. A sinodalidade bem como o caminho sinodal para uma Igreja mais fraterna e mais humana coloca-nos diante de exigência, conversões, mudanças. No espírito sinodal devemos dar passos decisivos em vista da superação das divisões que tanto fazem mal ao Povo de Deus. Esta obra é um convite à reflexão sobre o significado da Primeira Assembleia Eclesial e ao mesmo tempo sobre a importância de se caminhar em vista de Igreja cada vez mais sinodal.

 

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