17 Março 2022
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, revelou que a substituição de trabalhadores por robôs altamente especializados nas fábricas, está aumentando consideravelmente a taxa de mortalidade entre os adultos em idade ativa nos Estados Unidos.


Robôs na fábrica da Mercedes-Benz em Untertürkheim, Alemanha. Foto: Blog Nossos Rôbos.
A reportagem é de Gustavo Minari, publicado por canaltech com informações da Yale University, 14-03-2022.
Os cientistas encontraram evidências de nexo causal entre a quantidade de automação nas indústrias estadunidenses e o aumento da mortalidade, impulsionado principalmente pelo acréscimo no que eles chamaram “mortes por desespero” — como suicídio e overdose por drogas — entre homens e mulheres com idades entre 45 e 54 anos.
“Durante décadas, os fabricantes nos Estados Unidos recorreram à automação para se manterem competitivos em um mercado global, mas essa inovação tecnológica reduziu o número de empregos de qualidade disponíveis para adultos sem diploma universitário”, explica o professor de sociologia Rourke O'Brien, autor principal do estudo.
Automação x mortes
A automação é uma das principais fontes do declínio dos empregos industriais nos EUA, além de outros fatores como a concorrência com fabricantes de países com custos trabalhistas mais baixos, como China e México. Estudos mostram que a adoção de robôs no chão de fábrica causou a perda de 420 mil a 750 mil postos de trabalho entre as décadas de 1990 e 2000.
Desde os anos 1980, as taxas de mortalidade no país divergem das de outras nações com renda elevada. Atualmente, os estadunidenses morrem, em média, três anos mais cedo do que seus pares em outros países ricos, com a Alemanha, Inglaterra e França, para citar apenas alguns.
“Nossa análise mais profunda revela que a automação afeta a saúde dos indivíduos tanto diretamente — reduzindo empregos, salários e acesso à saúde — quanto indiretamente, diminuindo a vitalidade econômica e a capacidade de produção da comunidade em geral”, acrescenta O'Brien.
Metodologia
Para relacionar o aumento da automação com o acréscimo da mortalidade, os pesquisadores mapearam a implantação de robôs nas fábricas dos Estados Unidos entre 1993 e 2007. Eles combinaram essas informações com o número de atestados de óbito no mesmo período para estimar o efeito causado pela mecanização na indústria.
Segundo o levantamento, um novo robô para cada mil trabalhadores causou oito mortes adicionais em um total de 100 mil homens com idades entre 45 e 54 anos, e aproximadamente quatro mortes a mais em cada 100 mil mulheres com a mesma faixa etária.
O estudo também revelou que a automação foi responsável pelo aumento substancial de casos de suicídio entre homens de meia-idade, além de mortes por overdose entre homens de todas as faixas etárias e mulheres entre 20 e 29 anos. As evidências apontam ainda para uma associação entre os empregos perdidos e os salários reduzidos, com o aumento de homicídios, câncer e doenças cardiovasculares.
“Nossas descobertas ressaltam a importância das políticas públicas no apoio a indivíduos e comunidades que perderam seus empregos ou tiveram seus salários reduzidos devido à automação. Uma forte rede de segurança social e políticas de mercado de trabalho podem melhorar a qualidade dos empregos disponíveis e ajudar a reduzir as mortes por desespero”, encerra o professor de medicina ética Atheendar Venkataramani, coautor do estudo.
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Robôs estão aumentando a mortalidade entre operários nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU