‘Limites do crescimento’: 50 anos avisando

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21 Janeiro 2022

 

A maioria das pessoas só se preocupa com o que acontece em seu ambiente mais próximo, falando em termos de espaço - sua cidade, seu país -, mas também de coordenadas temporais, ou seja, seu presente e futuro imediato. Assim funciona não só nossas vidas, marcadas pelos seres que amamos - com quem costumamos conviver -, mas também a política, um sistema de organização social fracionado pelo território e evidentemente imediatista, dadas as limitações dos ciclos eleitorais.

 

A reportagem é de Azahara Palomeque, publicada por La Marea-Climática, 19-01-2022. A tradução é do Cepat.

 

Contra essas lógicas cotidianas de tão difícil superação, e muito antes que as mudanças climáticas enchessem as capas dos jornais, 17 cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a pedido da organização conhecida como Clube de Roma, publicaram um relatório crucial para entender os grandes desafios globais, com mais de um século de perspectiva. Refiro-me a Limites do crescimento (1972), estudo sobre a sustentabilidade planetária liderado pela biofísica Donella Meadows, cujo 50º aniversário está sendo celebrado.

Vamos pensar no “dilema da humanidade” - já anunciam no prefácio -, que nada mais é que um modelo econômico, social e moral baseado no crescimento ilimitado, em um planeta com recursos finitos. Embora a linguagem utilizada para desenvolver sua teoria seja asséptica, própria do registro científico informativo que escolhem, nesse dilema está em jogo algo tão crucial como a sobrevivência das espécies - incluída a humana -, assim como a nossa segurança material e, ousaria dizer, a concepção de mundo desde, ao menos, o Iluminismo e a primeira Revolução Industrial.

As três principais hipóteses consideradas pelo relatório são contundentes: se o ritmo de crescimento de então persistir, encontrará um limite catastrófico nos 100 anos subsequentes. É possível detê-lo e assim alcançar um equilíbrio ecológico e econômico que permita satisfazer as necessidades básicas de todos e, caso se decida adotar essa solução, é preciso agir o quanto antes para impedir o colapso.

Meio século depois de tais advertências, fundamentadas no rigor acadêmico, contamos com dados que confirmam o quanto aquelas reflexões foram acertadas e até que ponto esse livro de apenas 200 páginas informa sobre a inação de nossas sociedades diante da magnitude de um problema que é cada vez mais grave e não gera expectativas de melhora.

 

Colapso por esgotamento de recursos

 

 

Os limites do crescimento parte da dinâmica de sistemas como metodologia para simular até 11 cenários possíveis que dependem de alterações em cinco variáveis: população, produção de alimentos, recursos naturais, produção industrial e poluição. No cenário padrão, o colapso ocorre por esgotamento de recursos não renováveis, o que por sua vez desvia o capital do investimento industrial e alimentar, e a taxa de mortalidade aumenta significativamente devido à fome e a falta de serviços de saúde.

Outros modelos traçam um declínio populacional devido à poluição em massa ou a diminuição da superfície cultivável, mas quase todos apresentam o mesmo final decadente, para o qual se leva em consideração o desenvolvimento tecnológico. Desmentindo as críticas que lhes foram lançadas em seu momento, os autores abraçam a tecnologia como ferramenta para o bem social. No entanto, ela não é capaz de fazer milagres, caso o paradigma continue sendo o crescimento.

O cenário mais otimista ocorre no caso de que se adote uma economia circular caracterizada pela drástica redução do consumo que, junto à estabilização demográfica e o investimento em saúde, educação e agricultura, e uma melhor gestão dos resíduos, permitiria um equilíbrio prolongado no tempo. O contrário é precisamente a situação atual e o abismo ao qual parece que nos encaminhamos.

Em um momento em que normalizamos debater sobre a sexta extinção e abundam os fenômenos meteorológicos extremos, quando é normativo falar em crise energética e se constatam picos inflacionários relacionados à escassez de recursos, entre eles os combustíveis fósseis, dá vertigem ler um relatório que foi atualizado pelos autores em três ocasiões, chegando a conclusões similares, com exceção da viabilidade do cenário mais esperançoso: a terra ultrapassou sua capacidade de carga, segundo afirmaram há 30 anos.

Em 2014, uma pesquisa independente ratificava a exatidão das primeiras estimativas. No ano passado, a analista Gaya Herrington, diretora de sustentabilidade para uma das maiores auditorias do globo, KPMG, apareceu nos meios de comunicação graças a um estudo baseado nas descobertas de Meadows que também previa o colapso, desta vez com data: nos próximos dez anos, se continuarmos nos conduzindo pelo mesmo modelo econômico.

Diferente das anteriores, pela primeira vez, a pesquisa de Herrington provém do setor corporativo, em si relutante a qualquer questionamento das dinâmicas capitalistas. Embora aponte a tecnologia como um mecanismo que pode mitigar uma queda acentuada (demográfica, industrial), deixa claro que o futuro não é nada auspicioso.

Uma época de grande instabilidade ecológica e material, de mudanças geopolíticas inevitáveis, de uma pressão social que, de acordo com o próprio Dennis Meadows, marido da já falecida Donella e coautor de Os limites do crescimento, atingirá o seu ápice não quando o crescimento nos abandonar, mas precisamente agora que se enfrenta as forças que decretam uma mudança de paradigma para melhor administrar, com os recursos disponíveis, a riqueza existente e evitar o caos total.

O que fazer a partir de nossa condição de cidadãos comuns? Como nos pensar para além do imediatismo familiar, histórico? Sua receita: não imaginar que tempos melhores retornarão, conceber o capital não como divisa, mas, por exemplo, como serviço público - saúde, educação -, investir em resiliência antes que, outra vez, seja tarde demais.

 

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