O diaconato permanente. Perspectivas teológico-pastorais

Foto: Cathopic

10 Agosto 2021

 

"Livro fundamental e imprescindível para o conhecimento das perspectivas teológico-pastorais do diaconato permanente. Levando-se em conta a situação do mundo atual, a vocação e a missão do diácono permanente tem um significado profundo: ser sinal do Cristo servo e da Igreja servidora", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro O Diaconato Permanente. Perspectivas Teológico-Pastorais (Paulus, 2020, 192p.), de autoria de Valter Maurício Goedert.

 

Eis o artigo.

 

O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconato na Igreja latina, considerando-o como uma verdadeira e própria vocação dentro da comunidade eclesial. Por restauração, entendemos não a retomada de um ministério que tinha deixado de existir na Igreja, pois historicamente sabemos que o ministério diaconal nunca foi suprimido, embora suas funções tenham sido reduzidas a funções litúrgicas por mais de um milênio. Restaurar significou retomar o sentido e as funções do ministério diaconal da Igreja primitiva. A eclesiologia conciliar (Igreja-sacramento, Igreja-Povo de Deus, Igreja comunidade de fé, de esperança e de amor, sacerdócio comum dos fiéis, diversidade dos carismas, hierarquia como serviço), repercutiu sobre a teologia dos ministérios: a Igreja é ministerial e a diversidade de carismas se fundamenta na unidade do Espírito. Por conseguinte, a teologia dos ministérios reflete-se também na compreensão do diaconato. O diaconato é um dom de Deus à sua Igreja e constitui-se numa autêntica vocação específica. Os diáconos não são “suplentes dos padres”, nem podem ser reduzidos a agentes de pastoral, mas são chamados a ser sinais de Cristo Servo e da Igreja servidora.

 

Aprofundar essa temática é o objetivo do livro: O Diaconato Permanente. Perspectivas teológico-pastorais, de autoria de Valter Maurício Goedert. Na Introdução (p. 7-8), ele apresenta as razões da reedição revisada deste livro. Escrito há dezoito anos, “foi e é de grande importância para o desenvolvimento teológico-pastoral do Diaconato Permanente no Brasil, visto que aumentou o número dos diáconos nos últimos anos e multiplicaram-se as escolas diaconais. Em consequência do aumento do número de candidatos ao ministério diaconal, creio ser de grande utilidade a reedição revisada deste livro como subsídio de aprofundamento deste tema” (p. 7).

 

Nos capítulos que seguem, o Autor apresenta as linhas básicas da teologia e da prática do ministério diaconal.

 

O primeiro capítulo (p. 9-19) coloca o leitor diante dos aspectos históricos do diaconato: a) a Igreja primitiva (p. 9-11); b) o declínio do diaconato a partir do século IV (p. 11-12); c) a restauração do diaconato (p. 12-17), d) o diaconato permanente na América Latina (p. 17-18); e) o diaconato permanente no Brasil (p. 18-19).

 

No segundo capítulo (p. 21-35) são apresentados os fundamentos bíblicos e teológicos do diaconato: a diaconia de Cristo (p. 21-22), a diaconia da Igreja (p. 22-23), os ministérios eclesiais: ordenados e não-ordenados (p. 23-27), a natureza do diaconato (p. 27-35).

 

 

No terceiro capítulo, Missão específica do Diaconato (p. 37-47), o Autor faz uma análise, em primeiro lugar, do que se significa o ministério atribuído ao diaconato (p. 37-42), para, em seguida, determinar as relações existentes entre o diácono, o presbítero e o bispo (p. 43-47).

 

No quarto capítulo aborda a sacramentalidade do diaconato (p. 49-59).

 

No quinto capítulo explicita as funções dos diáconos (p. 61-78): a diaconia da liturgia (p. 68-71), a diaconia da Palavra (p. 71-73), a diaconia da caridade (p. 73-78).

 

Os critérios de seleção e a formação dos diáconos é assunto do sexto capítulo (p. 79-87). Salienta-se que “a seleção é indispensável, e a escolha dos candidatos se reveste de grande importância, quer para a comunidade, quer para o futuro da própria restauração do Diaconato Permanente” (p. 79).

 

A análise das escolas diaconais como um momento fundamental e específico da formação é trabalhado no sétimo capítulo: 1) instalação (p. 89-91), 2) escola diaconal e faculdade de teologia (p. 91), 3) a estrutura do curso (p. 91-93), 4) disciplinas do curso (p. 93), 5) estudos da psicologia (p. 93), 6) avaliação dos candidatos (p. 93-94), 7) os formadores (p. 94), 8) os ministérios (p. 94), 9) a formação permanente (p. 95).

 

A espiritualidade diaconal é abordada no oitavo capítulo (p. 97-111). Nestas páginas analisam-se a vida de oração, o serviço fraterno, a presença e a ação do Espírito, a comunhão hierárquica, a unidade de vida e o encontro com Deus pela palavra e pela eucaristia.

 

O nono capítulo traz considerações a respeito da família do diácono (p. 113-119). Destaca-se que o diácono “deverá ter a capacidade de manter o equilíbrio entre os compromissos familiares e sociais e as atividades pastorais. Estas não devem absorver de tal modo o tempo e a atenção do diácono, que a família se sinta marginalizada e prejudicada em sua estabilidade” (p. 118).

 

Capa do livro O Diaconato Permanente. Perspectivas Teológico-Pastorais (Foto: Divulgação/Paulus)

 

No décimo capítulo são feitas algumas considerações sobre o papel do diácono na renovação da Igreja (p. 121-147). O “Diaconato Permanente é, pois, chamado a prestar uma colaboração bem definida na evangelização, na formação de comunidades eclesiais atuantes, na redescoberta do serviço como missão de toda a Igreja, no aprofundamento da vida sacramental, na ação missionária e na construção de uma nova humanidade” (p. 123). A renovação do “ministério diaconal se insere na renovação da diaconia de toda a Igreja” (p. 125), entendendo a figura do diácono como homem livre (cf. p. 125-127), do serviço (p. 127-129), do Espírito (p. 130), animador de comunidades (p. 131-137), da corresponsabilidade (p. 137138), dos pobres (p. 138-147).

 

No décimo primeiro capítulo aborda-se a contribuição do ministério diaconal no mundo secularizado (p. 149-159). Diante dos desafios trazidos pela modernidade, “a restauração do ministério diaconal permanente pelo Concílio Vaticano II reacende a discussão sobre o papel social do ministério diaconal na Igreja e na sociedade secularizada em que vivemos. A retomada da diaconia como atitude insubstituível, para que o poder sagrado na Igreja seja expressão fiel do serviço de Cristo, e não ocasião de domínio como canal privilegiado de interlocução entre a Igreja e o mundo, abre novos espaços para o ministério diaconal, particularmente naquelas áreas específicas da ação evangelizadora que costuma chamar de pastorais ambientais ou específicas” (p. 154).

 

A diaconia da mulher ocupa o décimo segundo capítulo (p. 161-171). O Autor destaca que “os estudos sobre o assunto se multiplicam e as posições favoráveis a essa participação sempre mais se delineiam” (p. 161). Assim, “ponderados todos os ângulos da questão, alguns elementos parecem suficientemente evidentes. A mulher tem uma função muito particular a desempenhar na Igreja de hoje. Além dos ministérios até agora exercidos, outros ainda poderão ser confiados, independentemente de ordenação sacramental. Onde a realidade eclesial estiver devidamente amadurecida e a ordenação do diaconato for opção viável, parece não existir impedimento de ordem teológica para que tal passo seja concretizado” (p. 171).

 

No décimo terceiro capítulo, o Autor apresenta a compreensão do diaconato nas demais Igrejas cristãs (p. 173-182), “oferecendo um panorama da situação fora do catolicismo” (p. 173): o diaconato na Igreja ortodoxa (p. 175-176), na comunhão anglicana (p. 176-177), na Igreja luterana (p. 177-178), nas Igrejas reformadas (p. 179-180), no presbiterianismo americano (p. 180-182), nas Igrejas batistas (p. 182).

 

Como Considerações Finais (p. 183-189) o Autor argumenta positivamente a favor da restauração do Diaconato Permanente, chamando a atenção para três grandes desafios que acompanharam a restauração do diaconato no Brasil: a) falta de conhecimento relativamente preciso da teologia deste ministério e das motivações que viabilizaram sua restauração tanto por parte de setores da hierarquia como do laicato (p. 185-187), b) falta de preparação para acolher o diaconato (p. 187-188), c) desafio em relação ao próprio candidato: atenção para os requisitos pessoais e comunitários (p. 188-189).

 

 

Valter Maurício Goedert tem colaborado com a caminhada da Igreja no Brasil, oferecendo valiosas reflexões acerca do diaconato. Ocupa-se desse assunto desde seus estudos doutorais. Neste livro revisado a partir da bibliografia mais recente sobre o tema oferece um excelente material para candidatos ao ministério diaconal e para a formação de diáconos.

 

Essa obra permite-nos conhecer de maneira sucinta a temática em questão. Apresenta excelente visão geral de questões implicadas no ministério diaconal. Ajuda-nos a não idealizar a figura dos diáconos permanentes, entendendo-os como homens bem concretos, cada qual com sua história e limitações, bem como com suas qualidades. Ajuda-nos, ainda, a conhecer a especificidade da vocação diaconal, superando uma concepção clericalista, pela qual o diácono seria um executor de atividades litúrgicas do altar ou visto só a partir de critérios pragmáticos. Aponta desafios a serem enfrentados e corrigidos.

 

Livro fundamental e imprescindível para o conhecimento das perspectivas teológico-pastorais do diaconato permanente. Levando-se em conta a situação do mundo atual, a vocação e a missão do diácono permanente tem um significado profundo: ser sinal do Cristo servo e da Igreja servidora.

 

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