12 Março 2020
Dom Carlos Castillo, arcebispo de Lima, compartilha conosco as impressões de sua recente audiência com o papa Francisco, a quem encontrou “forte e lúcido, sempre profundo e cheio de esperança”. Um ano depois de sua nomeação, o prelado peruano foi a Roma prestar conta de sua gestão pastoral e tomar um novo impulso de “um sábio que tem experiência de que as coisas não se conseguem por decreto, mas sim por processo provocado e compartilhado”. Corações pastorais que latem ao uníssono e, por isso, ainda que encontrem resistências em suas respectivas dioceses, ambos estão convencidos de que “o ânimo espiritual” acabará se impondo. Isso sim, “com firmeza, prudência, e paciência”, o triplo conselho que lhe deu Francisco.
A entrevista é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 10-03-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Eis a entrevista.

Dom Carlos Castillo e papa Francisco. Foto: Arquidiocese de Lima
Ontem fostes recebido pelo Papa. Audiência protocolar, pedida por você ou solicitada pelo próprio Francisco?
Pedi ao Santo Padre esta audiência por completar um ano de ter sido generosamente eleito por ele e ordenado bispo. Quis fazer-lhe um repasse básico dos passos que estamos dando e me concedeu sua suma amabilidade e acolhida paternal. Assim me permitiu explicar-lhe a orientação, o processo e as ações concretas que conduziram a minha carta pastoral desde o dia da minha ordenação até hoje, com todo o caminho participativo e sinodal que propus, tanto dos leigos e leigas de nossas paróquias como do clero.

Dom Carlos Castillo e papa Francisco. Foto: Religión Digital
Como encontrou fisicamente o Papa?
Encontrei-o muito bem, o resfriado passou, conseguiu descansar, ainda que sempre seguindo o retiro com a cúria romana conduzido pelo padre Bovati em transmissão interna, segundo soube. Encontrei-o forte e lúcido, sempre profundo e cheio de esperança.
Ele está preocupado com o coronavírus?
Sem dúvidas, em atitude muito solidária, e preocupado, celebrou a missa na capela Santa Marta “pelos enfermos desta epidemia de coronavírus, pelos médicos, enfermeiros, voluntários, que tanto ajudam, os familiares, os idosos que estão em casas de repouso, pelos encarcerados que estão enclausurados”, isso é, pelas pessoas a nível mundial. O Papa segue tudo o que está acontecendo, atento ao sofrimento das vítimas deste flagelo, orou especialmente por elas e, como temos visto, não somente convoca a tomar todas as medidas de segurança, como também se uniu ao sentimento geral do cuidado para que não siga se estendendo, alentou os que ajudam e servem desinteressadamente.
Vaticano ordena cerrar al público la basílica y la plaza de San Pedro por el coronavirus https://t.co/a6S4d7Dc2f pic.twitter.com/7YnIbZyoEC
— Pulzo (@pulzo) March 10, 2020
O Papa ainda vislumbra continuar a transformar a Igreja?
A verdade é que sua convicção não aparece somente como uma declaração, mas sim que se sente como uma inspiração permanente de fundo que orienta cada pergunta ou cada matiz sensível que sugere em cada tema tratado, de modo que pouco a pouco o caminho da conversão pastoral pode se abrir. Sua ilusão não parece em nenhum momento como “pura ilusão”, mas sim inspiração sábia e ágil para, como ele diz em seus escritos, “gerar processos”, mais que “conquistar espaços”. Falar com o Santo Padre é sempre uma experiência de sabedoria inspiradora, viva, concreta e alentadora.
O que pode nos contar dos temas abordados com a Sua Santidade?
O mais importante foi destacar o sentido evangelizador missionário de tudo o que vamos fazendo. Desde a Pastoral missionária de conjunto, até à organização da diversidade de propostas pastorais concretas, incluindo a forma em que organizamos a economia. E muito importante, justamente por isso a capacidade de compreender todos, apreciar cada proposta e tentar unir e não excluir.
O que o Papa aconselhou como prioridade ao governo pastoral da arquidiocese de Lima?
Me aconselhou a ter simultaneamente firmeza, prudência e paciência, sempre – desde que conversamos pela primeira vez e agora me repetiu. Palavras de um sábio que tem experiência de que as coisas não se conseguem por decreto, mas sim por processo provocado e compartilhado, onde o amor gratuito pode tudo.

Dom Carlos Castillo e papa Francisco. Foto: Religión Digital
O senhor também está encontrando resistência em Lima para colocar a arquidiocese alinhada a Roma?
Pode ser que haja resistências, porém não tão importantes quanto o ânimo espiritual que envolve a todos nós na Igreja de Lima para nos convertermos pastoralmente. Se há resistentes, eles sabem que também estão convidados a entrar em diálogo de conversão para entender critérios e nos abrirmos ao que o Espírito está nos dizendo, em nossa complexa, mas esperançosa cidade.
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“Falar com o Santo Padre é sempre uma experiência de sabedoria inspiradora, viva, concreta e alentadora”. Entrevista com dom Carlos Castillo, arcebispo de Lima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU