A Amazônia não carece de padres, mas de testemunhas

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21 Junho 2019

Padre François Glory, padre das Missões Estrangeiras de Paris (MEP), foi missionário por trinta anos na Amazônia brasileira. Ele é o autor do livro I miei trent’anni in Amazzonia brasiliana a servizio delle comunità di base (Meus Trinta Anos na Amazônia Brasileira a serviço das comunidades de base, Karthala, 2015, p. 326). A entrevista foi publicada por La Croix em 17 de junho de 2019 e reproduzida por Settimana News, 20-06-2019. A tradução do italiano é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Padre François, o documento de trabalho do Sínodo sobre a Amazônia abre uma reflexão sobre a possível ordenação de homens casados ​​para essas regiões remotas. O que pensa a respeito?

Eu tenho a sensação de que seja um falso problema. Na Amazônia é necessário refletir a partir das comunidades. Somente no Brasil, onde vivi por trinta anos, há 70.000 sem a eucaristia dominical. As comunidades que resistem são aquelas que criam um vínculo entre a palavra de Deus e sua ação. As outras são absorvidas pelas igrejas evangélicas.

A ordenação de homens casados ​​corre o risco de fortalecer o clericalismo. As comunidades de base funcionam graças à divisão dos vários ministérios: como na Igreja primitiva, todos receberam dons e os colocam a serviço de todos. O sistema clerical, por outro lado, concentra tudo em uma pessoa.

O papel da Eucaristia nas comunidades deve ser repensado, sem, é claro, desvalorizá-lo. Demasiadas vezes pensamos que, sem uma Eucaristia regular, as comunidades não possam continuar a existir. Mas é somente com a celebração eucarística que se forma uma comunidade? A pequena Igreja local vive não apenas na dimensão sacramental, mas também de suas dimensões sociais e proféticas. Se algumas comunidades estão prontas para ordenar homens casados, então podemos estudar os casos.

A falta de padres nessas regiões não é um problema?

O problema não é suprir a falta de padres, mas perguntar que tipo de comunidade queremos cultivar. Até algum tempo atrás eu também achava que a ordenação de homens casados ​​era uma solução, mas minha experiência me fez mudar de ideia. O clero "sacramentalista" domina e é esse modelo que corre o risco de resistir. 80% das comunidades onde eu ia eram sustentadas por mulheres, que garantiam a catequese, a preparação dos batismos, dos casamentos e cuidavam do aspecto social.

Mas quando um diácono ou padre chega a essas comunidades, sua tendência é tomar o poder. A comunidade serve o padre, quando deveria ser o contrário. Na minha opinião, é necessário que os padres missionários formem os cristãos para que eles possam se encarregar das comunidades assumindo seus próprios carismas. O padre não deve ser a figura principal. Ainda mais se for colocado em um pedestal, como frequentemente acontece lá, é perigoso.

Esse problema não pode esconder outros desafios com os quais a Amazônia precisa lidar?

Eu temo que sim. Na época do Concílio Vaticano II, a restauração do diaconato permanente foi primeiramente pensada para as regiões remotas. Agora é a Europa que aproveita isso. Temo que seja a mesma coisa. Evoca-se a possibilidade de ordenar homens casados ​​para a Amazônia, mas no fundo - ao abrir esta porta – é dos problemas da Europa que estamos falando.

Para retornar à Amazônia, as comunidades que resistem vivem entre si, sem padre; são aqueles que se apoiam no poder da palavra de Deus, e isso é o que precisa ser desenvolvido. A Amazônia não carece de padres, mas de testemunhas.

Essas regiões precisam de homens e mulheres formados na pregação, em torno dos quais estimular o desenvolvimento dos diferentes ministérios. A Igreja deveria acompanhar e apoiar essas ações e esses impulsos.

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