Novo "testemunho" Viganò: A repreensão do Vaticano provou a verdade sobre o encobrimento de McCarrick

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20 Outubro 2018

O arcebispo italiano que denunciou um amplo encobrimento de alegações contra o agora ex-cardeal Theodore McCarrick, afirma que a resposta inflamada do Vaticano às suas acusações só provou a sua veracidade.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 19-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Em novo "testemunho" publicado em seu nome por um jornalista italiano de direita, em 19 de outubro, o arcebispo Carlo Maria Viganò também reitera sua afirmação de que informou o Papa Francisco sobre McCarrick em 2013, sem fornecer qualquer prova documental de tal encontro.

Viganò, que serviu como embaixador do Vaticano nos EUA de 2011 a 2016, lança também uma extensa invectiva contra a homossexualidade no sacerdócio católico, chamando-a de "a principal causa" da crise dos abusos clericais.

O “testemunho” do ex-diplomata responde à carta aberta do cardeal Marc Ouellet, que em 7 de outubro classificou as acusações de Viganò como nada mais do que "montagem política". Ouellet é o prefeito da poderosa Congregação para os Bispos do Vaticano.

"O cardeal Ouellet admite as importantes afirmações que fiz e faço, e contesta afirmações que eu não faço e nunca fiz", afirma Viganò em seu mais recente documento, referindo-se à revelação de Ouellet de que McCarrick já estava sob instrução do Vaticano de se abster de atividades públicas desde 2011.

Viganò alegou em seu primeiro documento - divulgado em 26 de agosto, enquanto o Papa Francisco estava visitando a Irlanda - que o Papa Bento XVI impôs "sanções" contra McCarrick em algum momento entre 2009 e 2010.

"O cardeal Ouellet contesta que é falso apresentar as medidas tomadas contra McCarrick como 'sanções' impostas pelo Papa Bento XVI e revogadas pelo Papa Francisco", afirma Viganò no documento mais recente.

"É verdade", diz o arcebispo. "Não eram tecnicamente 'sanções', eram medidas de precaução, ou 'condições e restrições'".

"Discutir se eram sanções, ou medidas de precaução, ou alguma outra coisa é puro legalismo", continua ele. "De uma perspectiva pastoral, são exatamente a mesma coisa".

McCarrick, de 88 anos, serviu como arcebispo de Washington, D.C., de 2000 a 2006. O Vaticano ordenou que ele saísse do ministério em junho, depois que uma alegação de abuso sexual foi considerada "credível e substanciada". Em julho, ele se tornou o primeiro prelado dos EUA a renunciar ao Colégio Cardinalício.

Em sua resposta de 07 de outubro a Viganò, Ouellet disse que McCarrick foi comunicado em 2011 sobre levar "uma vida de discrição, oração e penitência" por causa de "rumores sobre seu comportamento no passado". Ouellet disse que o pedido não chegou ao nível de uma "obrigação mandatada" porque "não havia, então, prova suficiente da alegada culpa [de McCarrick]".

Em sua nova carta, Viganò discorda dessa afirmação, dizendo: "A Santa Sé sabia de uma multiplicidade de fatos concretos, possuía documentos comprovados e, apesar disso, as pessoas responsáveis preferiram não intervir ou foram impedidas de fazê-lo".

O ex-embaixador não fornece nenhuma nova evidência para indicar que o Vaticano sabia do abuso de McCarrick contra menores. Ele cita alegações não especificadas que disse terem sido enviadas a Roma por vítimas de Newark e Metuchen, Nova Jersey, e também reportagens sobre uma carta enviada à embaixada do Vaticano em Washington pelo padre Boniface Ramsey em 2000.

Viganò se encontrou com Francisco brevemente em 21 de junho de 2013, em uma reunião com dúzias de diplomatas papais.

Em sua carta, Ouellet expressou sua dúvida de que o embaixador teria tido tempo durante essa rápida conversa, parte da qual foi filmada pelo serviço de televisão do Vaticano, para informar o pontífice sobre McCarrick.

Mas, em seu novo documento, Viganò reforça uma afirmação que fez em seu testemunho original de 26 de agosto de que teve, mais tarde, uma reunião privada com Francisco em 23 de junho de 2013.

"Encontrei o Papa Francisco em audiência privada em seu apartamento para alguns esclarecimentos, e o Papa me perguntou: 'Como está o cardeal McCarrick?'", afirma Viganò, classificando a pergunta como "Palavras que só posso interpretar como uma falsa curiosidade para descobrir se eu era um aliado de McCarrick".

"Eu disse a ele que McCarrick havia corrompido sexualmente gerações de padres e seminaristas, e que o Papa Bento XVI ordenou que ele se dedicasse inteiramente a uma vida de oração e penitência", afirma Viganò.

"McCarrick continuou, no entanto, a desfrutar de uma consideração especial por parte do Papa Francisco", afirma ele.

A resposta de Ouellet a Viganò foi excepcionalmente forte. O cardeal disse ao ex-embaixador, em diferentes ocasiões, que suas alegações eram "inacreditáveis e absurdas", "aberrantes", "uma ferida muito dolorosa" na Igreja e "injustas e injustificadas".

O cardeal também pediu ao arcebispo que se reconciliasse com a Igreja, dizendo-lhe para "sair do esconderijo, arrepender-se de sua revolta e retornar a sentimentos melhores em relação ao Santo Padre".

Em seu último documento, Viganò diz que Ouellet apresentou um "silêncio dramático" sobre "o papel da homossexualidade na corrupção do sacerdócio e da hierarquia".

"Essa gravíssima crise não pode ser enfrentada e resolvida corretamente enquanto não chamarmos as coisas pelos seus nomes verdadeiros", afirma Viganò. "Não é exagero dizer que a homossexualidade se tornou um flagelo no clero e que só pode ser aniquilada com armas espirituais".

Vários estudos científicos concluíram que não há ligação entre homossexualidade e o abuso clerical. O John Jay Report de 2011, por exemplo, citou em vez disso uma perversão de poder e autoridade. O estudo foi uma investigação profunda das causas e do contexto de abuso sexual clerical e foi encomendado pelos bispos dos EUA.

Em uma mudança em relação ao seu documento de 26 de agosto, Viganò não pede novamente a renúncia de Francisco ao papado. Ele diz que reza por Francisco todos os dias - "mais do que já fiz por outros Papas".

O documento do ex-embaixador foi divulgado no blog de Marco Tosatti, um jornalista italiano de direita que se vangloria de seus esforços para ajudar Viganò a redigir seu testemunho original. Sua divulgação ocorreu no sétimo aniversário do anúncio pelo Vaticano da nomeação do diplomata para Washington.

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