12 Julho 2018
Cada vez que acesso as redes, elas parecem me mostrar uma figura distorcida do que observo no meu cotidiano do debate político. Enquanto as redes caminham numa direção da polarização mortal, fora delas cada vez vejo mais pessoas exaustas da ultrapolítica.
E que estas são maioria.
Por isso, meu diagnóstico estratégico é bem diferente tanto da esquerda radical quanto da esquerda pragmática. Não vejo como restituir o diálogo com o "centro" (senso comum, a maioria silenciosa) nem por meio de uma afirmação identitária ("agora sim, somos esquerda pra valer", "nosso programa é rigorosamente socialista" etc.) nem por meio da guerra de narrativas ("já que o inimigo joga sujo e com todas as armas, vamos pra luta"). O tamanho da adesão social à candidatura de Boulos até agora mostra os problemas da primeira posição. Já o cansaço generalizado e o descrédito cada vez maior do diálogo em si, o fracasso da segunda.
Só tenho intuições a respeito, mas parece que existe uma ampla gama da sociedade ansiosa por um pouco mais de integridade, de honestidade intelectual e capacidade de autocrítica. Esse é o caminho que tenho apostado para dialogar com a maioria e, em geral, funciona razoavelmente bem. É o caminho oposto ao voluntarismo populista.
O caminho da guerra das narrativas, da ausência de critérios que se aplicam com equivalência, do duplipensar generalizado, funciona e até pode funcionar em escala maior, mas a meu ver mais pela ausência de um confronto honesto que pela sua inevitabilidade.
Tenho impressão de que a maioria silenciosa é bem mais cética que parece em relação às posturas identitárias fechadas. Só que ninguém ainda encontrou o tom para conversar com ela.
Acabo de ver a notícia da minha exoneração e da nomeação da professora Talma Suane para a chefia da SME.
A minha exoneração era esperada, pois não cedi à politicagem e aos inimigos da educação. Retorno ao convívio da minha família e aos meus afazeres profissionais.
Toda a articulação para a minha saída foi feita pelas minhas costas. Não recebi sequer um telefonema. O prefeito agradeceu desta maneira a minha dedicação à causa da educação.
Talma Suane, minha chefe de gabinete, participou dessas articulações sem me avisar. Há algum tempo, depois da primeira crise, o próprio prefeito me disse que ela havia pedido o meu cargo, mas eu não acreditei. Quem age de boa-fé tende a acreditar na boa-fé dos demais.
Ontem, quando eu estava em agenda externa, Talma me mandou uma mensagem, dizendo que não estava se sentindo bem e iria para casa. Quando retornei à SME já não a encontrei. Ela já sabia que havia conseguido a nomeação, mas não teve coragem de olhar nos meus olhos. Sua gestão nasce sob o signo da traição.
Desejo tudo de bom à SME e às nossas crianças. Que tudo se ajeite da melhor maneira possível, numa Prefeitura tão fragilizada e confusa.
Atenciosamente,
Cesar Benjamin
Acabei de ler a carta de despedida de César Benjamin da secretaria de educação e fiquei um pouco confuso.
César encarna o papel do herói traído, da pessoa cuja honestidade o impediu de ver más intenções nos outros. É uma posição curiosa, um arquétipo encenado por diversas pessoas, comum na literatura e cinema. É O Idiota de Dostoiévski, O Galante Mr. Deeds de Capra e, claro, o personagem vivo Trotsky, de Trotsky.
A repetição de um mito tão constante deveria nos levar a alguma empatia. Só quem não tem tal empatia é quem lembra da trajetória de César Benjamin nas últimas décadas.
César não é um idealista inocente. Por anos, foi uma constante voz em defesa de um maior pragmatismo político na esquerda. Com a chegada do PT ao governo, manteve-se fora do pragmatismo típico do lulismo mas não abandonou seu próprio pragmatismo.
Possivelmente, um dos seus ápices pragmáticos tenha sido justamente o ingresso no projeto do PRB de Crivella. Era uma comunhão estranha: de um lado, um partido com figuras-públicas pastores, o que garantiria a presença de evangélicos (dando o caráter "popular" ao projeto); de outro, um desenvolvimentismo nacionalista órfão do PT(dado o entreguismo do governo Lula) chegando de paraquedas para ditar o que os pastores diriam a respeito de economia e política. A César o que é de César(a política, a economia), aos pastores o que é de Deus(o contato com o povo). E, aí, estaria sua díade teórica esculpida: povo e nação.
Assim, o nacional-desenvolvimentismo atingiria seu objetivo de ser popular, importando o povo da IURD. Não à toa César era tão míope quanto as discussões das identidades culturais dos agentes políticos.
Ler, hoje, César Benjamin se render ao discurso de que "era honesto demais para entender as malícias do poder"(um secretário do Crivella inocente, meu deus!), fazendo-se do que nunca foi(pueril), me deixou refletindo sobre a mais fúnebre profecia do mundo pós-Queda do Muro de Berlim: o socialismo é impossível porque nenhum socialista está disposto a tomar as medidas necessárias à implantação do socialismo.
Ou, ao menos, quando nossos delírios voluntaristas, nossos planos mirabolantes, nossos acordo macabros com gente bizarra e nossa "importação de trabalho popular e do próprio conceito de povo" falham, fingimos ser os idealistas que não somos e termos inocência e pruridos que nunca tivemos.
Parece até um certo impeachment de que um partido foi vítima e serviu para purificá-lo.
O lulismo já foi um movimento de massas, já foi um pacto que aliou inclusão e crescimento e já foi uma força eleitoral que deslocou os parâmetros da composição do voto. Mas hoje o lulismo não passa de uma trapaça. A essência do trapaceiro é ver manipulação e tramoia por toda parte. O trapaceiro é aquele que, por não crer em nada, está pronto para acreditar em tudo. Cada acontecimento passa a ser uma confirmação daquilo que já se sabe: de um lado, os outros trapaceiros tentando a todo momento passar-nos a perna; do outro, os trapaceiros bons, aqueles que trapaceiam em nome da Causa, ou seja, os "nossos" trapaceiros. Sempre que defrontados com fatos incômodos, para contorná-los basta apontar a trapaça generalizada a que a realidade é reduzida. O círculo vicioso da seletividade se forma na queixa do tipo "os outros também": se houve corrupção, chicana, violência, ora, os outros trapaceiros também fazem. E o Aécio? E o Temer? E a direita? E o imperialismo? E o Trump?
Recentemente, no acampamento próximo da sede da PF em Curitiba, a filósofa Marcia Tiburi afirmou que Lula é o homem com quem todas as mulheres gostariam de casar. A declaração foi rapidamente ridicularizada, mas deveria ser levada mais a sério. Um filósofo guarda a precisão das palavras: quando Marcia invoca o casamento, não deixa de revelar a verdade que, para a esquerda brasileira, Lula é o eterno marido. Diante do eterno marido, todos os demais pretendentes se mostram fajutos, postiços, charlatães. O lulismo se reduziu ao amor residual a Lula, a uma relação baseada no binômio dívida-fidelidade. A raiz do lulismo não é mais o populismo mitificado do Brasil profundo, mas a relação de amor conjugal que lhe é devotada pelos últimos seguidores.
O professor Jeudiel Martinez, da universidade de Caracas, escreveu há duas semanas um artigo bastante elucidativo sobre o funcionamento tardio das esquerdas latino-americanas, tomando por exemplo privilegiado o governismo chavista. Para Jeudiel, a principal operação das esquerdas no fim do ciclo progressista não é a falsificação da realidade. A categoria que mobiliza o discurso não é a do falso, mas a da confusão. O motor discursivo atua para nivelar todos os fatos dentro de um grande indiferenciado, que pode ser a corrupção do sistema, a amoralidade da política, a artificiosidade do direito. As fake news de esquerda não produzem notícias falsas, mas mistos confusos, encavalados. Daí a resposta padrão em desviar a atenção sobre as próprias trapaças, deslocar o problema, anular o caso concreto.
A pós-verdade, no fundo, não é o triunfo da ironia pós-moderna resultante da dissolução dos valores. A pós-verdade é a miséria afetiva que reduz o mundo a uma dicotomia amigo-inimigo, onde a verdade não passa de um lado a priori, um lugar de fala, a partir do que todo o resto é curvado, julgado e submetido. Nesse sentido, o próprio lulismo virou uma face da pós-verdade política, turbinada pelas fake news de esquerda (a produção de confusão). Daí que as agências de 'fact checking' não bastam, na verdade, atingem apenas uma parte do problema, pois lidam somente com a categoria do falso e do falseamento. O inimigo mais pernicioso, e ao mesmo tempo mais difícil de cercar, não é tanto o falso, mas a confusão. O antídoto, portanto, não está em erigir instâncias de verificação e veridicção, mas afirmar a nuance, a sutileza, o poder de discernir diante de um maquinário infernal de afetos binários e indiferenciação dos problemas.
Tem uma certa cagada na centro-esquerda que precisa deixar de ser feita. Quando se está buscando o poder, fala-se que não dá para ser purista, que tem que fazer alianças com a direita para governar e etc. Aí, a coisa vai bem por um tempo até que a direita corta as asas da galera.
Nesse momento, a esquerda diz que foi "traída", que era "pueril demais para entender essa maldade" e se faz de vítima. E fica por isso mesmo, porque os defensores dessa tática não vão parar para pensar e dizer, "Peraí, nós demos causa a isso tudo".
Não estou nem sequer defendendo o "purismo"(apesar de ser, sim, contrários a alianças com a direita, principalmente as "para governar"). Estou apenas dizendo que o discurso tem que ter início meio e fim.
"Só dá para governar com alianças para a direita MAS corre-se o risco da direita nos golpear e nos tirar do poder" é coisa que você NUNCA ouve ser dito. Basta cair por conta das alianças que fez, que o papel de vítima chega automaticamente e começa a chantagem de "ou você me defende, ou está com os golpistas". Não, querido, quem esteve com os golpistas foi você, quem chocou os ovos deles foi você, quem alimentou as cobras e golpistas foi você.
É claro que o exemplo do dia é César Benjamin, a quem, quando eu ainda era secundarista, me marcou defendendo arduamente o pragmatismo só para assumir o papel de vítima ao ser traído pelo Crivella e Paulo Messina(!!!!). Mas também vale para a relação PT-PMDB e o impeachment da Dilma.
Isso é o MÍNIMO para termos um debate sincero e honesto sobre esses eventos.
Quem acha que o impeachment do Crivella tem a ver somente com o poder das organizações Globo no Rio de Janeiro descarta qualquer oportunidade de mudança e se contenta com os desmandos revelados do bispo no comando da prefeitura. Existem fatos suficientes para que Crivella seja afastado de suas funções e novas eleições sejam convocadas gerando uma possibilidade de mudança. Interpretar isso pela perspectiva do Brizola (se a Globo está a favor, sou contra) é sinal de miopia política.
Um movimento que era inevitável parece que chegou com peso: a crise das afiliadas das grandes emissoras de TV aberta.
Trata-se de mais um capítulo da perda de audiência da TV aberta. E, nesse cenário, quem está se enfraquecendo são os antigos donos com vinculação política.
Em 2015, a afiliada da Globo no Rio Grande do Norte (Cabugi) fechou sua filial em Mossoró, ficando apenas com a emissora de Natal.
(Vale lembrar que a Família Alves já vendera a Cabugi para o Grupo Inter TV, que opera emissoras afiliadas da Globo no norte fluminense e em Minas Gerais.)
Em 2017, a família de Albano Franco vendeu a afiliada da Globo em Sergipe para a Rede Integração, afiliada da Globo no interior de Minas Gerais.
Agora foi a vez do Grupo Zahran (também dono da Copagaz), que já era afiliado da Globo em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, adquirir as afiliadas da Globo em Goiás e Tocantins, unificando a operação em todo o centro-oeste.
A tendência parece ser a concentração das afiliadas em poucos grupos regionais e a saída de boa parte das famílias de políticos.
Logotipo do Sínodo para a Amazônia
O logotipo, criado pelo artista baiano Aurélio Fred, é formado por uma folha cujas cores lembram a biodiversidade da natureza e das populações indígenas, tradicionais e urbanas da Amazônia. No centro, um rio que se fez caminho: nasce na cruz do ressuscitado, se renova a cada ano e atravessa, com seus afluentes, toda a região. A folha lembra também uma língua de fogo, ação do Espírito agindo na história da Amazônia, hoje, em busca de “Novos Caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
Times de descendentes de imigrantes em campo. Fácil gritar gol quando eles jogam e depois defender fechamento de fronteiras para refugiados, não é Europa?