Advento e Apocalipse se complementam em contar a história de Deus

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05 Dezembro 2017

"Eu vi na mão direita daquele que estava sentado no trono, um livro escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos. E vi também um anjo forte, que perguntava bem alto: ‘Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro?’". Este é o texto bíblico que o lecionário "Um dia, uma Palavra" (Claudiana, 2017) indica para a pregação desse primeiro domingo do Advento. É um trecho bem conhecido do Apocalipse, se não por outra razão, por ter inspirado o famoso filme de Ingmar Bergman intitulado, precisamente, O Sétimo Selo.

O artigo é de Eugenio Bernardini, teólogo e pastor valdense, publicado por Il Fatto Quotidiano, 03-12-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Estranha coincidência: enquanto os cristãos se preparam para celebrar o Natal, o nosso lecionário – a saber, produzido pela Igreja Evangélica dos Irmãos moravianos, desde 1731 - oferece um texto que atravessa toda a história da humanidade e nos faz refletir sobre o que irá acontecer no "fim dos tempos".

O Apocalipse, de fato, é o último livro da Bíblia, aquele em que se rasga o véu que nos impede de ver as coisas últimas. É, portanto, um texto complexo que, após descrever uma guerra épica e definitiva entre as forças do Bem e as do Mal (Anticristo), mostra-nos um reino de paz simbolizado pela "Jerusalém celeste", que vem do alto na sua perfeição estética e espiritual, para inaugurar o tempo final, quando o Messias reinará para sempre sobre o mundo.

Estamos, portanto, diante de um livro que, nas próprias páginas, transmite o desespero de desastres que anunciam o fim dos tempos e a serenidade da paz do Reino de Deus.

O Apocalipse é um texto para "manusear" com extremo cuidado, porque nunca faltaram interpretações fundamentalistas que o leem procurando paralelos tão imediatos quanto forçados com as atualidades geopolíticas ou as emergências ambientais que são interpretadas como "sinais" premonitórios da proximidade do fim do mundo. A mensagem resultante que os pregadores fundamentalistas apresentam aos "verdadeiros crentes" é o apelo para se alistar no exército do Bem para combater as forças do Mal (o anticristo). E, com um rocambolesco salto de interpretação, há muito vêm identificando o exército do Bem com o mundo e o poder das democracias ocidentais em contraposição aos regimes de Leste. Hoje, tendo-se tornada obsoleta essa interpretação geopolítica, o Mal é constituído pelo Islã e seus planos de "conquista global". Por mais estranho que possa parecer, é uma interpretação muito popular, por exemplo, entre os evangélicos fundamentalistas norte-americanos que depositaram sua confiança em Trump também por seu explícito preconceito anti-islâmico.

Mas, vamos retornar ao último livro da Bíblia: para compreender o profundo significado é preciso lembrar que foi escrito em um dos momentos mais difíceis e desesperados da pequena comunidade que havia se reunido em torno de Jesus de Nazaré. Claro, a Igreja tinha aumentado: não só alguns judeus, mas também vários pagãos haviam se convertido ao cristianismo e a nova fé tinha chegado a Roma, a capital do império.

O misterioso autor do Apocalipse - chamado João, mas provavelmente esse seja um pseudônimo para não ser identificado - escreve o livro confinado na ilha de Patmos (na costa da atual Turquia), mas está bem ciente das perseguições dos seus coirmãos pelo imperador Domiciano; principalmente está ciente da desorientação derivada do fato de que o retorno do Messias prometido está demorando a acontecer.

No momento do sofrimento e da incerteza, a sua mensagem quer ser uma mensagem de esperança, a palavra da fé no Senhor que mantém suas promessas, um projeto de justiça e de amor para todos e para todas. É por isso que faz sentido recordar isso no Natal, quando tudo começou, e ligar Advento e Apocalipse: um está para o outro, um complementa o outro em narrar a história do amor de Deus.

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