Populorum communio

Mais Lidos

  • “A luta contra o desastre climático deve se unir ao projeto antirracista e anticolonial”. Entrevista com Fatima Ouassak

    LER MAIS
  • A dimensão comunitária do ministério presbiteral: reflexões a partir do decreto Presbyterorum Ordinis. Artigo de Eliseu Wisniewski

    LER MAIS
  • O Consenso de Washington está morrendo

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

04 Março 2017

No aniversário da encíclica Populorum Progressio (26 de Março 1967) nós, os bispos da Bélgica, em conjunto com algumas organizações dedicadas à promoção humana, redigimos uma carta para a Quaresma de 2017. Tomando por base os acontecimentos de nossos dias e aplicando-os à história do cego de nascença (João 9), buscamos uma maneira de refletir sobre a situação atual como cristãos.

O artigo é de Luc Van Looy, bispo de Gent, Bélgica, publicado por Semana News, 28-02-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

As tensões no mundo de hoje são frequentemente o resultado de uma autoconsciência exacerbada. Algumas nações defendem-se contra outras, o poder econômico parece dominar a política, as conferências internacionais não conseguem chegar a decisões compartilhadas e, quando as encontram, nada garante que serão postas em prática.

Paulo VI tinha consciência das relações problemáticas e das injustiças de seu tempo. A partir do Evangelho e da doutrina social da Igreja, ele analisou aqueles problemas na encíclica Populorum Progressio.

A ideia básica é expressa com essas palavras: "O desenvolvimento é o novo nome da paz" (n. 87). Dessa forma, o papa conclamava a colaboração e a solidariedade entre os povos. Todos os seres humanos têm os mesmos direitos e vivem na única casa comum. É necessário que devolvamos aos pobres o que lhes pertence por direito. A violência e a desigualdade social devem ser substituídas pela solidariedade.

A situação hoje é diferente daquela dos anos 1960, mas os problemas ainda subsistem. Nós, portanto, examinamos minuciosamente as palavras que o Papa Francisco constantemente repete: é imprescindível respeitar cada pessoa e dar prioridade aos mais necessitados.

Em 1967, surgiu um grande movimento de solidariedade em escala mundial. No Vaticano foi criada a comissão Justiça e Paz e movimentos de solidariedade nasceram na Bélgica, tais como Entraide de Fraternité, Broederlijk delen, Welzijnszorg e Caritas internazionalis. Inclusive as Caritas nacionais seguiram essa mesma orientação, como resultado da encíclica. É por isso que quisemos escrever a carta juntamente com esses movimentos.

Onde estamos agora? Papa Francisco escreve: "A desigualdade social é a raiz de todas as doenças da sociedade" (EG 202). A pobreza cresce, faltam moradias para os pobres, falta emprego, as guerras causam emigrações em massa. Todos concordam que é preciso fazer alguma coisa para melhorar o próprio ambiente de vida, mas poucos aplicam as medidas acordadas. O clima preocupa a todos. As pessoas já estão cansadas de ouvir belas promessas, e assim cresce o que o Papa Francisco chama de "cultura da indiferença". Portanto, levamos em consideração também o tema da misericórdia, que nos oferece uma valiosa chave de solução.

Em nossa declaração nos inspiramos na leitura do capítulo 9 do Evangelho de João, justamente o evangelho que é lido no quarto domingo da Quaresma, o dia que comemora a promulgação da encíclica, acontecida 50 anos atrás.

O cego de nascença é expulso da sociedade, a sua situação não oferece perspectivas. Jesus se aproxima dele e coloca-o no centro do círculo, da sociedade de seu tempo, e a maneira de tratar o cego mostra a sua admirável capacidade de ensino. Ele vê o cego, toca-o com a mão, cura-o e devolve-o à sociedade. O cego volta a enxergar, mas não é só isso, ele torna-se testemunha da misericórdia de Jesus. Nesse ponto, não há mais espaço para a indiferença, todos podem testemunhar a mudança ocorrida, ou seja, a transição de expulsão para a inclusão na sociedade. A chave que põe tudo em conexão é a misericórdia, Jesus que vê e aproxima-se do cego.

Nessa sintonia, queremos oferecer, para a Quaresma, algumas chaves para a mudança:

• a democracia é uma garantia de diálogo e colaboração. É a resposta a toda a tentação de fechar-se sobre si mesmos e defender as próprias crenças;

• o nosso modo de viver precisa ouvir o grito da terra. É a nossa casa comum. O Papa Francisco ecoa o que o Papa Paulo VI escreveu em 1967;

• é preciso criar políticas e leis comuns em nível global para resolver a situação ecológica da terra;

• é urgente uma "ética do suficiente", ou seja, devemos aprender a nos satisfazermos com o que temos e com o que é nosso por direito. Só assim nos abriremos à solidariedade.

Como Jesus restaurou a dignidade do homem cego, junto com a luz dos seus olhos, assim nós, bispos, auspiciamos que todos em nossa sociedade tenham a coragem de engendrar a mudança necessária para a vida pessoal e para a vida pública, abrindo o caminho para a solidariedade, tanto na vida pessoal como na vida social. Ao mesmo tempo, é preciso trabalhar para uma solidariedade internacional que garanta a dignidade de cada pessoa. Na carta apostólica Misericordia et misera, o Papa Francisco nos diz que "este é o tempo da misericórdia" (n. 21).

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Populorum communio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU