30 Janeiro 2017
Uma vez decapitado seu Grão-Mestre pelo Papa, o inglês Matthew Festing, a Soberana e Militar Ordem de Malta não somente ratificou no dia 28 de janeiro sua renúncia forçada, mas também retrocedeu a máquina do tempo ao fatídico dia 06 de dezembro de 2016, reinserindo no papel o Grão-Chanceler justamente aquele que nesse dia tinha sido removido desse cargo e suspenso pela Ordem, o alemão Albrecht Freiherr von Boeselager.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Settimo Cielo, 29-01-2017. A tradução é de André Langer.
Para redirecionar o rumo na Ordem, a ponto de obrigá-la a este gesto de total submissão à vontade do Papa Francisco, houve três atos de rápida sucessão realizados pelo próprio Pontífice: a convocatória do Grão-Mestre, no dia 24 de janeiro, e a ordem dada a ele para que renunciasse; a carta do dia seguinte do secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, com a explicitação da vontade do Papa; e, por último, uma carta de 27 de janeiro do próprio Papa, com uma posterior especificação do papel a ser desempenhado pelo “delegado pontifício”, cuja chegada foi anunciada “para a renovação espiritual da Ordem, especificamente de seus membros professos”.
Este último elemento é o mais interessante do comunicado divulgado na tarde deste domingo pela Ordem. Como Settimo Cielo tinha relatado corretamente, o Papa Francisco concedeu efetivamente à Ordem a faculdade de proceder segundo suas Constituições no que se refere à regência provisória – agora assumida pelo Grão-Comendador da Ordem, Ludwig Hoffmann von Rumerstein – e à nomeação do novo Grão-Mestre. Portanto, o “delegado pontifício” não substituirá nem se sobreporá ao governo legítimo da Ordem, como muitos anunciaram ou temeram. Pelo contrário, ajudará com uma tarefa de guia “espiritual”. Ou seja, uma tarefa muito similar àquela que já corresponde ao cardeal patrono da Ordem.
A decapitação infligida pelo Papa Francisco à Ordem de Malta, por conseguinte, é dupla. Porque rolou não apenas a cabeça do Grão-Mestre Festing, mas também, de fato, a do cardeal patrono Raymond Leo Burke; isto é, a daqueles que foram responsáveis pela remoção de Boeselager, na certeza de que estariam colocando em prática o mandato confiado a eles pelo Papa, em uma carta de 01 de dezembro a Burke, de “promover os interesses espirituais da Ordem e remover toda afiliação com grupos e práticas que contrariam a lei moral”.
Essa remoção, pelo contrário, colocou em movimento um choque sem precedentes dentro da Ordem de Malta e entre a Ordem e a Santa Sé, cuja narrativa podia ser lida nos belicosos comunicados emitidos gradualmente pela Ordem até poucos dias atrás.
Hoje já não restam pistas desses comunicados. Foram removidos na sua totalidade da página da Ordem.
Mas é difícil acreditar que o tumulto pode ser neutralizado simplesmente pelo ato de submissão ao Papa realizado pela nova regência da Ordem no sábado, 28 de janeiro.
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Depois do Grão-Mestre, está para rolar uma segunda cabeça: a do cardeal Burke - Instituto Humanitas Unisinos - IHU