Um selo vaticano para reabilitar Lutero

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20 Janeiro 2017

Um gesto pequeno, mas, à sua maneira, espetacular do papa: Martinho Lutero, no seu tempo julgado como herético e excomungado pelos papas, neste ano será comemorado pela filatelia vaticana com um selo que recorda os 500 anos da Reforma Protestante.

A reportagem é de Luigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 19-01-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O Estado da Cidade do Vaticano, nascido em 1929, tem um escritório filatélico que, a cada ano, emite selos dedicados a eventos particulares relacionados com os pontífices reinantes, com os santos, com eventos maiores da história da Igreja.

Assim foi, por exemplo, perto de nós, em 1945, nos 400 anos do início do Concílio de Trento. Até agora, porém, nunca houvera um selo para recordar personagens que, ao longo dos séculos, Roma tinha considerado como “anátemas”, por serem responsáveis por gravíssimos danos à Igreja.

Monge agostiniano, desconcertado diante de um vergonhoso tráfico de indulgências, no dia 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg as suas 95 teses, que criticavam profundamente a doutrina e a práxis em vigor, denunciavam a corrupção da corte papal e afirmavam que somente o Evangelho da graça de Deus podia dar a salvação.

Foi o início de um braço de ferro com as autoridades católicas, que, no fim, levou a um conflito irreparável: com a bula Exsurge Domine, no dia 15 de junho de 1520, o Papa Leão X definiu como “heréticas e escandalosas” as teses do “monge rebelde” e lhe ordenou abjurar. Lutero se recusou, e, então, seis meses depois, foi excomungado.

A tentativa do imperador Carlos V de compor o dissídio fracassou, e o “protesto” se espalhou, levando grande parte da Europa do Norte a passar para o lado da Reforma. O Concílio de Trento (1545-1563) não conseguiu curar a ferida. Lutero, pelo mundo católico, foi demonizado por quatro séculos; um início de repensamento começou com o Concílio Vaticano II (1962-1965) e depois cresceu.

No dia 31 de outubro passado, o Papa Francisco esteve em Lund, na Suécia, para comemorar, junto com a Federação Luterana Mundial, os 500 anos da Reforma. Na solene celebração na catedral, ele rezou: “Espírito Santo, ajuda-nos a reconhecer com alegria os dons que vieram à Igreja através da Reforma”. Palavras que encheram de alegre admiração os herdeiros do “rebelde” e deixaram sem fôlego não poucos prelados “conservadores” na Alemanha e em Roma.

Nesse contexto, um selo vaticano dedicada à Reforma Protestante faz com que até os profanos possam entender as mudanças induzidas pelo “papa que veio do fim do mundo”. Além disso, esse selo “anômalo” não estará sozinho. Porque, enquanto “reabilita” Lutero, Bergoglio faz o mesmo com um “profeta” católico: o padre Lorenzo Milani.

De fato, os correios vaticanos vão emitir em junho um selo pelos 50 anos da morte do famoso padre florentino pelas suas audazes propostas pedagógicas e pastorais, mas que, na época e depois, foi marginalizado pela hierarquia eclesiástica.

Também com os selos, portanto, Francisco faz um “mea culpa” pelos erros passados da cúpula da Igreja romana.

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