Amoris laetitia e a compaixão do Deus vivo. Artigo do Patriarca Ecumênico Bartolomeu

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06 Dezembro 2016

“À luz da iminente festa da Encarnação do Senhor – tempo em que comemoramos e celebramos o fato de que ‘o Verbo se fez carne e habitou entre nós’ (Jo 1, 14) – é importante observar que a Amoris laetitia recorda, acima de tudo e em primeiro lugar, a misericórdia e a compaixão de Deus, e não apenas as normas morais e as regras canônicas dos homens.”

A reflexão é do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, principal bispo da Igreja Ortodoxa. O artigo foi publicado no jornal L’Osservatore Romano, 03-12-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Quando falamos de Deus, a linguagem descritiva que adotamos é a do amor. E, quando falamos de amor, a dimensão fundamental que lhe é atribuída é a divina. Por isso, o apóstolo do amor define Deus como amor (cf. 1João 4, 8).

No início do ano, quando o nosso caro irmão e bispo de Roma, Sua Santidade Francisco, publicou a exortação apostólica Amoris laetitia, era mais ou menos o período em que fomos juntos à ilha de Lesbos, na Grécia, para manifestar a nossa solidariedade para com os refugiados perseguidos provenientes do Oriente Médio.

Consideramos que o documento papal sobre a “alegria do amor”, embora se ocupe de questões pertinentes à vida familiar e ao amor, não está desconectado daquela histórica visita aos campos de refugiados. De fato, o que logo ficou claro para ambos, enquanto olhávamos para os rostos tristes das vítimas feridas pela guerra, foi que todas aquelas pessoas eram membros individuais de famílias, lares despedaçados e dilacerados pela hostilidade e pela violência. Mas, como nosso Senhor nos disse explicitamente a respeito da relação entre poder e serviço (cf. Mt 20, 26), não deveria ser assim entre nós! A imigração nada mais é do que o reverso da mesma moeda da integração, que certamente é responsabilidade de cada crente sincero.

Naturalmente, a Amoris laetitia toca o próprio coração do amor e da família, assim como toca o coração de cada pessoa viva nascida neste mundo. Isso ocorre porque as questões mais delicadas da vida familiar refletem as questões mais fundamentais da pertença e da comunhão. Quer digam respeito aos desafios do matrimônio e do divórcio, quer digam respeito à sexualidade ou à educação dos filhos, são todos fragmentos delicados e preciosos daquele sagrado mistério que chamamos de vida.

Nos últimos meses, foram inúmeros os comentários e as avaliações sobre esse importante documento. As pessoas se perguntaram de que modo a doutrina específica foi desenvolvida ou defendida, se as questões pastorais foram modificadas ou resolvidas, e se normas particulares foram reforçadas ou mitigadas.

No entanto, à luz da iminente festa da Encarnação do Senhor – tempo em que comemoramos e celebramos o fato de que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14) – é importante observar que a Amoris laetitia recorda, acima de tudo e em primeiro lugar, a misericórdia e a compaixão de Deus, e não apenas as normas morais e as regras canônicas dos homens.

Sem dúvida, o que sufocou e obstaculizou as pessoas foi, no passado, o medo de que um “Pai celeste”, de algum modo, ditasse a conduta humana e prescrevesse os costumes humanos. A verdade é exatamente o oposto, e os líderes religiosos são chamados a recordar a si mesmos, e depois aos outros, que Deus é vida e amor e luz.

De fato, são essas as palavras repetidamente sublinhadas pelo Papa Francisco no seu documento, que discerne a experiência e os desafios da sociedade contemporânea, a fim de definir uma espiritualidade do matrimônio e da família para o mundo atual.

Os Padres da Igreja não têm medo de falar aberta e honestamente sobre a vida cristã. No entanto, o seu ponto de partida é sempre a graça amorosa e salvífica de Deus, que resplandece sobre cada pessoa, sem discriminação ou desprezo. Esse fogo de Deus – dizia o abba Isaac, o Sírio, no século VII – traz calor e consolação para aqueles que estão acostumados à sua energia, enquanto queima e consome aqueles que se afastaram do seu fervor na sua vida. E essa luz de Deus – acrescentava São Simeão, o Novo Teólogo, no século X – serve de salvação para aqueles que a desejaram e permite-lhes ver a glória de Deus, enquanto traz condenação para aqueles que a rejeitaram e preferiram a própria cegueira.

Nos primeiros meses do Ano Jubilar da Misericórdia, foi realmente oportuno que o Papa Francisco tenha se encontrado com as famílias dos refugiados desanimados na Grécia, tenha abraçado as famílias que estão sob o seu cuidado pastoral em todo o mundo.

Ao fazer isso, ele não só invocou a infinita caridade e a compaixão incondicional do Deus vivo sobre as almas mais vulneráveis, mas também provocou uma resposta pessoal por parte daqueles que receberam e leram as suas palavras, além de todas as pessoas de boa vontade.

De fato, ele convidou as pessoas a assumirem a responsabilidade pessoal pela própria salvação, buscando formas para poder seguir os mandamentos divinos e amadurecer no amor espiritual.

A conclusão da exortação papal, portanto, é também a nossa conclusão e reflexão: “Aquilo que nos é prometido é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida”.

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