"A autoironia é uma cura ao egocentrismo", afirma Dom Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha

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26 Outubro 2016

Que Deus tem senso de humor, além do papa, é a opinião também do arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi, que lembra um antecessor ilustre dele, o cardeal Biffi, e cita uma fulminante piada: "A distinção não é tanto entre crentes e não crentes, mas entre crentes e crentes demais".

A reportagem é de Franco Giubilei, publicada no jornal La Stampa, 25-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ao comentar as palavras de Francisco sobre a relação entre senso de humor e graça divina, Dom Zuppi observa que, "quando o Senhor brinca conosco, muitas vezes pensamos que Ele está falando sério, enquanto, quando ele está falando sério, nós pensamos que Ele está brincando".

Um jogo de equívocos que, no Antigo Testamento, assume a forma da caricatura, no episódio de Jonas, que se irrita com o pé de mamona, que primeiro cresceu para fazer sombra e, depois, foi carcomida, igualmente com a mesma rapidez, por parte do Criador: "Uma história paradoxal, que quer esvaziar as nossas atitudes exageradas".

A recordação vai ainda à ironia afiada de Biffi, a quem também se deve uma célebre definição da "Emilia vermelha" [em referência à região da Emilia-Romagna, considerada como fortaleza da esquerda] da época, rotulada como "saciada e desesperada": "Ele realmente gostava do humor. Eu também acredito que devemos saber rir e sorrir, o que fazemos pouco. Seria preciso tentar colocar isso em prática, também com nós mesmos. A autoironia ajuda a não nos levarmos a sério nos defeitos e a relativizar situações que, de outra forma, se tornam importantes demais".

Mas não termina por aí, porque, de acordo com o arcebispo de Bolonha, "no humor, revela-se uma simpatia e uma proximidade humanas que ajuda a libertar de contraposições rígidas: neste caso, é uma forma de saudável relativização do nosso egocentrismo, e eu não falo da relativização denunciada por Bento XVI...".

Agora até se faz referência a santos homens que, na pregação, recorreram à arte de evocar o sorriso: "São Felipe Neri era um grande humorista, como demonstra o episódio da comadre fofoqueira, à qual ele pede para trazer as penas de uma galinha, comparando-as às palavras espalhadas ao vento", diz Dom Zuppi. "Eu acrescentaria São Francisco. E o padre Camillo Guareschi. No humor, há uma leveza em relação a nós mesmos que nos ajuda a ver as coisas de modo mais direto. Eram os fariseus quem riam pouco... Na realidade, o Senhor está muito mais perto do que pensamos e nos cria situações curiosas".

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