O Azerbaijão, mão de ferro em luvas de veludo, vai receber a visita do Papa

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30 Setembro 2016

Governado por uma dinastia muçulmana que, aparentemente, tem boas relações com a Igreja católica, inclusive financiou a restauração de algumas das catacumbas de Roma. No entanto, por trás da fachada, não há liberdade, nem civil nem religiosa.

A reportagem é de Sandro Magister e publicada por Chiesa.it, 29-09-2016. A tradução é de André Langer.

A ponto de iniciar sua viagem à Geórgia e Azerbaijão, o Papa Francisco dispõe-se a visitar, no segundo país, uma reduzidíssima população católica formada por algumas centenas de pessoas, nada comparado com a esmagadora presença muçulmana, em sua maioria xiita.

Mas, de acordo com o programa da visita, repleto de encontros com autoridades civis e religiosas não cristãs, as relações entre este país islâmico e a Igreja parecem ser excelentes.

É o que parece estar acontecendo há anos, na prática desde que a dinastia dos Aliyev assumiu o controle total do país, depois da sua separação da União Soviética em 1991.

Heydar Aliyev, o fundador, esteve em Moscou nos anos de Brejnev e Andropov e foi o primeiro muçulmano a fazer parte do Politburo. Com Gorbachov caiu em desgraça, acusado de corrupção. Mas, de volta à sua pátria, converteu-se em defensor da independência e acabou conquistando a presidência do novo Estado.

Nas turbulências de uma desastrosa guerra contra a Armênia e de complôs internos, mas graças, sobretudo, aos lucros oriundos da venda de petróleo, a presidência de Heydar Aliyev proporcionou ao Azerbaijão a não invejável fama de um dos países mais corruptos do mundo. Seu filho Ilham dilapidou tamanha quantidade de dinheiro nos cassinos que o pai se viu obrigado a fechar todas as casas de jogos turcas em território azeri.

Em 2003, após a morte de seu pai, Ilham assumiu a presidência, que segue conservando junto com a sua onipotente esposa Mehriban Aliyeva, também ela muçulmana xiita, mas de tendência ostensivamente “moderna”, a começar por seu vestuário, que seria impensável no país vizinho Irã.

João Paulo II visitou o Azerbaijão em 2002. E em 2008, o cardeal Tarcisio Bertone retornou, como secretário de Estado, para recolher os primeiros frutos, inaugurando a primeira igreja católica do país, dedicada à Imaculada Conceição, em Baku. A mesma na qual o Papa Francisco irá celebrar uma missa.

A senhora Aliyeva é a mais ativa no cuidado das boas relações com as autoridades vaticanas. Na qualidade de presidente da fundação dedicada ao pai da pátria Heydar Aliyev, com sede no futurista centro cultural de mesmo nome, com sede em Baku e obra construída pela arquiteta-star anglo-iraquiana Zaha Hadid, a esposa do presidente azeri financiou em anos passados a restauração dos afrescos do Bom Pastor, de Orfeu, de Noé e da virgem Susana nas catacumbas romanas dos Santos Pedro e Marcelino. Restauração saudada pelo L’Osservatore Romano como uma “primeira vez” histórica: a primeira vez que “uma instituição de um país muçulmano contribui para a restauração e valorização de um monumento cristão”. E isso precisamente na Roma dos Papas.

Em 2010, o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, viajou a Baku para reunir-se com a ilustre mecenas. Nessa ocasião, o assistente do cardeal, Theodore Mascarenhas, definiu o Azerbaijão como “um exemplo de como poderia ser um país islâmico moderno”.

Em 02 de junho de 2014, foi a vez da senhora Aliyev ir a Roma para ver, guiada por Ravasi, os trabalhos de restauração concluídos. E, naturalmente, teve uma audiência com o Papa Francisco. Audiência que se repetiu no ano seguinte, no dia 06 de março de 2015, desta vez junto com seu marido Ilham Aliyev, e que incluía um comunicado oficial ao término do encontro.

Para o próximo dia 02 de outubro, em Baku, está programado um novo encontro do papa com a senhora Aliyev, reunião que acontecerá no espetacular edifício da cultura, em formato de baleia, que acolhe a fundação que ela criou e preside.

Depois deste encontro, Francisco se reunirá com o xeque dos muçulmanos do Cáucaso na mesquita dedicada a Heydar Aliyev, ou seja, na principal mesquita “oficial” do Azerbaijão.

Porque neste país, no qual a democracia brilha pela sua ausência, as religiões estão submetidas a um controle ferrenho, com a implacável repressão de tudo o que sair do caminho pré-estabelecido, como demonstram os numerosos relatórios do Forum 18, agência norueguesa que é, talvez, o observatório mais atento às violações da liberdade religiosa no Cáucaso e na Ásia central.

No âmbito muçulmano, o combatente mais conhecido em favor das liberdades religiosas e civis no Azerbaijão é Ilqar Ibrahimoglu, fundador e presidente do Centro para a Proteção da Liberdade de Consciência e de Religião, ele foi entre 1992 e 2004, imã da antiga mesquita Juma, de Baku, que se transformou no coração pulsante da oposição democrática ao regime e, por este motivo, fechada à força.

Mas, não está programado nenhum encontro do Papa Francisco com ele, nem com os outros opositores que, como muçulmanos, lutam pacificamente contra as versões mais ideológicas, opressivas e violentas do islã.

Também não se prevê um “fora de programa” deste tipo. O fato de que, anteriormente, o Papa tenha se recusado a reunir-se com os dissidentes em Cuba, é instrutivo.

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