30 Outubro 2019
Santo Dias da Silva. Brasil, †1979.
Líder sindical, 37 años, metalúrgico, militante de la pastoral obrera, representante de la Pastoral Operária na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), mártir de los obreros brasileños y de las comunidades eclesiales de base. Vivió hasta los 20 años en el campo en Terra Roxa (estado de Sao Paulo), allá se dedicó a la labor de trabajador ambulante –bóiafria– y fue miembro del sindicato de trabajadores. Luego llegó a São Paulo, donde encontró un puesto como trabajador en la industria metalúrgica y participa en forma muy activa en los movimientos de lucha del pueblo. Fue un pilar fundamental de las CEBs. La represión policíaca lo asesinó el 30 de octubre de 1979, cuando se encontraba reunido con los colegas de trabajo frente a la fábrica Silvana (Sao Paulo). Su compromiso cristiano lo obligó a permanecer solidario y al lado de sus compañeros de trabajo.
No texto de Sarah Fernandes, da RBA publicado 30/10/2014: Santo Días da Silva: "Natural do município paulista de Terra Roxa, primeiro dos oito filhos do casal de pequenos agricultores Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio Vieira, Santo Dias se envolveu com a luta dos trabalhadores rurais ainda adolescente. Católico, foi influenciado pelos párocos progressistas ligados à Teologia da Libertação e, ao lado de outros empregados da fazenda em que trabalhava, organizou seu primeiro movimento por melhores salários entre 1960 e 1961. A combatividade do filho mais velho levou a família a ser expulsa da colônia em que morava, com destino à capital, São Paulo.
Santo se mudou para Santo Amaro, na região sul da capital, onde conseguiu trabalho como ajudante geral na Metal Leve, uma empresa de componentes automotivos. Com a formação ideológica iniciada ainda nas lutas do campo, a transição para a luta dos operários da cidade foi natural. Já no primeiro emprego uniu-se ao movimento operário que lutava por reajustes e melhores condições de trabalho. A partir de 1965, iniciou sua atuação na chapa de oposição do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, considerado "pelego" por parte da categoria, por seguir as restrições impostas pelos militares à ação sindical.
"Até 1978, ele participava da chapa de oposição do sindicato, que o governo militar não reconhecia, temendo uma postura combativa dos trabalhadores. A situação era pelega e era a oposição que articulava as greves. Santo Dias era especialmente importante porque era um líder de comunidade nato", lembra Perillat.
O final dos anos 1970 foi de retomada da ação sindical, ainda sob o período autoritário. Em 12 de maio de 1978, os metalúrgicos da Scania, em São Bernardo do Campo, ABC paulista, entram em greve. Naquele ano, três chapas (uma ligada ao movimento de oposição metalúrgica) concorrem no sindicato da categoria em São Paulo, que continua sob o comando de Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão. No sindicato de São Bernardo e Diadema, Luiz Inácio da Silva, o Lula, é reeleito em chapa única.
A atuação militante de Santo Dias, no entanto, não se restringiu ao movimento operário. Como membro ativo das recém-criadas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e dos movimentos de bairro, ele se engajou na luta por transportes, escolas e melhoria na qualidade de vida dos de trabalhadores. Participou ainda da coordenação do Movimento do Custo de Vida, entre 1973 e 1978, ao lado de sua mulher, Ana Maria do Carmo, liderança sindical e feminista.
"Ele é a memória do povo em luta na época da ditadura. É um militante que deu seu sangue e que mantém viva toda uma história de luta. Todos os que estão aqui hoje e todos os anos, já há 35 anos, relembram sua vida e confirmam que o que ele fez não foi em vão. Jamais vão conseguir tirar a luta e a esperança de um povo", diz Ana Maria.
Ela ainda lembra vividamente os fatos que antecederam o crime contra Santo Dias. No primeiro dia da greve da categoria em outubro de 1979, as subsedes do sindicato, que abrigavam os comandos de greve, foram invadidas pela PM, que prendeu mais de 130 pessoas. Sem apoio do sindicato e com a intensa repressão, os metalúrgicos passaram a se reunir na Capela do Socorro. No dia 30, Santo Dias, então integrante do comando de greve, foi engrossar um piquete na frente da fábrica Sylvania e conversar com os operários do turno da tarde.
Pouco antes disso, viaturas policiais chegaram ao local. "Nós estávamos em só cinco pessoas no piquete. A pedido de Santo Dias, o mais pacífico de todos, já tínhamos concordado em deixar o local, mas de repente mais viaturas chegaram, nos cercaram e nos mandaram deitar no chão. Foi aí que eles dispararam contra Santo Dias, pelas costas. É difícil de compreender porque aconteceu uma coisa tão absurda", lembra, emocionado, o ferramenteiro Vicente Garcia, que presenciou o assassinato. "Um companheiro viu tudo e reconheceu o policial. Ele foi julgado, mas acabou absolvido."
Santo Dias foi levado já sem vida pelos policiais para o Pronto-Socorro de Santo Amaro. Sua esposa entrou à força no carro que transportava seu corpo para o Instituto Médico Legal (IML), o que, para ela, foi o gesto que impediu que seus restos mortais desaparecessem, como era comum com adversários políticos da ditadura. "Eles queriam sumir com o corpo para não ficarem com a culpa, mas nós não estávamos sozinhos. Tivemos muita coragem e enfrentamos os militares e toda a repressão que estava ao nosso redor naquele momento", lembra Ana Maria.
A morte do metalúrgico foi anunciada por vários veículos de comunicação. No dia 31 de outubro, 30 mil pessoas saíram às ruas de São Paulo para acompanhar o enterro e protestar contra a morte do operário. "Era como se Santo Dias fosse uma pessoa marcada, porque participava das comunidades de base e porque era muito respeitado no sindicato. Acima de tudo, era uma pessoa muito pacífica", lembra Garcia.
O corpo de Santo foi velado na Igreja da Consolação e levado para a Catedral da Sé, na região central. "Não é certo que a violência arme a mão de outro pobre para terminar com a vida de Santo, não é certo que andem armados policiais que se vão encontrar com o povo de braços cruzados, não é certo que haja dois pesos e duas medidas, uma para o patrão, outra para o operário", afirmou, durante a cerimônia, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns.
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
30 de outubro de 1979 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU