“É Natal! O galo cantou e o Menino Deus tornou a nascer”. Lá, no sertão galo canta, exatamente à meia-noite, anunciando a chegada de Jesus. No IHUCast de hoje, não vamos falar de neve, de pinheiros nórdicos ou de um Papai Noel. Hoje, queremos no despir do espírito capitalista. O nosso Natal tem cheiro de terra molhada, poeira da estrada, dos que estão à margem. Tem som de reisado e o passo firme de quem caminha nas veredas do Brasil profundo, mas também de quem resiste às dores pelo mundo.
Neste episódio, vamos mergulhar nas celebrações populares, na fé que se torna dança, na denúncia que nasce do presépio e na esperança de um futuro melhor. Porque o nascimento de Jesus não é um evento estático em um cartão-postal; é um movimento “extracotidiano que muda a paisagem sonora e estética do lugar”.
Adentramos também nos "momentos comuns de sofrimento que se espalharam pela terra, contaminando tudo o que tocam e se alastrando como um veneno”.
Nossa viagem é pelo Natal da resistência, da cultura, do encontro do menino com os que estão à margem. Prepare-se: o deus que se fez humano vai habitar entre nós.
Este ano não termina apenas no calendário; ele ecoa em nós através de cicatrizes e silêncios que resistem ao fim do ciclo. A lógica de descarte e invisibilidade atravessou 2025 em diversas frentes. O mundo negou a crise climática e a natureza reagiu feroz. Vimos ao vivo a dor de Gaza, os corpos enfileirados nos massacres das periferias, a perseguição e o assassinato dos povos indígenas. O patriarcado foi cruel com as mulheres.
Os descartados foram largados à própria sorte. Indiferentes, vimos os barcos naufragando com os refugiados. Ficamos atônitos com a criminalização em massa dos migrantes. Os senhores da guerra reverberaram seus tambores. São cenários distintos, mas unidos pela "necropolítica" que transforma vidas em dados vigiados ou corpos descartáveis.
O Natal, diante disso, deixa de ser uma celebração estética para se tornar um confronto ético: ele nos obriga a olhar para as fraturas que tentamos ignorar.
Mas, sob o solo duro da exclusão, o futuro ainda respira. Ele se manifesta na resistência discreta de quem acolhe e na persistência de vozes que se negam ao silêncio. Se o Natal é esperança, ela não está no luxo, mas nas sementes de solidariedade que crescem devagar nas frestas do mundo. É nesse cuidado com o humano e com o comum que encontramos o verdadeiro sentido de um recomeço.
Ressignificar o Natal é entender que, enquanto houver uma criança presa, uma pessoa faminta, corpos dilacerados e um excluído, o Menino Jesus ainda está esperando para nascer de verdade entre nós.
“Que as festividades natalinas, e de modo particular a ceia em família, mais do que nunca necessária e legítima, não nos faça esquecer aqueles para quem essa data pouco ou nada representa. Que a fé, a alegria e a esperança do Natal possam transbordar em ações solidárias em favor dos pobres, excluídos e descartáveis.”
Que este Natal seja, para todos nós, um retorno ao essencial. Ao Menino que nasce na simplicidade das roças e na urgência dos que sofrem. Que a nossa celebração seja tão autêntica quanto uma Lapinha do sertão: florida, solidária e cheia de vida.
Desejamos a todas e todos um Feliz Natal, com justiça, fé e alegria e um abençoado ano novo. Nos reencontramos em 2026.
O IHUCast é uma produção do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e está disponível nas plataformas de áudio e no canal do IHU no YouTube.
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