19 Julho 2023
Como decifrar pictogramas de 10 mil anos, se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 16-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi o maior poeta brasileiro do século XX, Carlos Drummond de Andrade e é dele a poesia O outro de que reproduzimos alguns versos que tocam no tema da interioridade. Antes de resolver enigmas linguísticos ou simbólicos de civilizações desaparecidas há milênios, antes de conseguir captar a pulsação de estrelas remotas, mais ainda do que o desejo de penetrar no átomo até as partículas mínimas e extremas, a humanidade tentou e tenta descobrir “a verdade essencial do desconhecido que a habita”. Quem não se lembra do famoso lema "Conhece-te a ti mesmo" que, segundo a tradição, era gravado como epígrafe no templo grego de Delfos?
O fato, porém, é que muitos, surfando na onda da superficialidade e da banalidade, se interessam por um sem número de coisas, curiosidades, segredos e mistérios arcanos, mas nunca se preocupam em criar um oásis de silêncio para questionar sua própria consciência, para cavar em profundidade naquele emaranhado de bem e de mal que se aninha na alma. Sim, porque não só a escuridão emerge daquele redemoinho, mas também fulgores que muitas vezes são deixados para esmorecer e se apagar. Como escrevia outra grande poetiza, Emily Dickinson, a alma é "Amiga imperial ou o espião mais atroz".
