"Quando Deus concedeu a graça da completa conversão a Teresinha [de Lisieux] em 1886 - a Graça do Natal -, como lembrou o papa emérito, ela 'começou uma corrida de gigante na pequenez evangélica', que a levou a afirmar: 'Um só olhar ao Santo Evangelho, imediatamente respiro os perfumes da vida de Jesus e sei para onde correr... Não é para o primeiro lugar, mas para o último que me oriento... Sim, sinto-o, mesmo se tivesse na consciência todos os pecados que se podem cometer, iria, com o coração despedaçado pelo arrependimento, lançar-me entre os braços de Jesus, porque sei quanto ama o filho pródigo que volta a Ele'".
O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.
Em sua reflexão bíblica sobre a leitura do Evangelho do 1º Domingo de Natal, publicada na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos - IHU nesta semana, o jesuíta Adroaldo Palaoro comentou sobre a nossa dificuldade de "descobrir a 'espiritualidade da vida cotidiana'". Relembrando a relação de Jesus com sua Sagrada Família, ele sublinhou que, "como aprendiz da vida, foi ali, na casa e na oficina de Nazaré que Jesus se exercitou na Redenção". "Custa-nos muito descobrir a 'espiritualidade da vida cotidiana', a vida de cada dia nos parece sem sentido, sem muito destaque e sem muitos fatos extraordinários; temos ainda muito que aprender da vida cotidiana do artesão de Nazaré", disse.
A espiritualidade da vida cotidiana foi ensinada, entre outros, pela doutora mais jovem da Igreja, a carmelita francesa Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
Teresinha viveu entre 1873 e 1897, em uma época em que predominava o secularismo e a descrença, mas, como destacaram Frei Patrício Sciadini, ocd, e o jesuíta Gabriel Galache no prefácio de História de uma alma, foi "no silêncio do Carmelo, vivendo uma vida feita de simplicidade e aparente monotonia", que ela "proclamou um manifesto devastador, no qual afirmava ter encontrado sua vocação: o amor".
Sobre o seu significado, ela esclareceu:
"O amor alimenta-se de sacrifícios".
"Os mais belos pensamentos nada são sem as obras".
"Os ensinamentos de Jesus são contrários aos sentimentos da natureza. Sem a ajuda da sua graça, seria impossível não apenas praticá-los, mas compreendê-los".
Na Audiência Geral de 06 de abril de 2011, o então Papa Bento XVI recordou como João Paulo II definiu Santa Teresa de Lisieux: "perita da scientia amoris". O amor que preencheu toda a sua vida, complementou, "tem um rosto, tem um nome, é Jesus!"
Quando Deus concedeu a graça da completa conversão a Teresinha em 1886 - a Graça do Natal -, como lembrou o papa emérito, ela "começou uma corrida de gigante na pequenez evangélica", que a levou a afirmar: "Um só olhar ao Santo Evangelho, imediatamente respiro os perfumes da vida de Jesus e sei para onde correr... Não é para o primeiro lugar, mas para o último que me oriento... Sim, sinto-o, mesmo se tivesse na consciência todos os pecados que se podem cometer, iria, com o coração despedaçado pelo arrependimento, lançar-me entre os braços de Jesus, porque sei quanto ama o filho pródigo que volta a Ele".
Ao meditar as palavras de Jesus sobre o seu novo mandamento, amais uns aos outros assim como eu vos amei, ou seja, amar-nos como Ele nos ama e não como nós mesmos nos amamos, ela confessou à sua madre superiora:
"...compreendi como era imperfeito o meu amor para com minhas irmãs, pois não as amava como Deus as ama. Ah! Compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, não se surpreender com suas fraquezas, edificar-se com os menores atos de virtude que os vemos praticar. Compreendi, sobretudo, que a caridade não deve ficar presa no fundo do coração. Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, e assim alumia a quantos estão em casa (Mt 5,15). Parece-me que essa candeia representa a caridade que deve alumiar, alegrar, não só os que me são mais caros, mas todos os que estão em casa, sem excetuar ninguém".
Outro ensinamento de Jesus também a orientou na experiência do amor: "Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica". Deixar o manto, ponderou, "parece-me, é renunciar aos últimos direitos, é considerar-se como a serva, a escrava das outras. Quando se abandonou o manto, é mais fácil andar, correr, por isso Jesus acrescenta: 'E, não é suficiente dar a quem me pede, é preciso antecipar-se a seus desejos, parecer muito grata e muito honrada em prestar serviço, e, quando se toma alguma coisa de meu uso, não devo parecer sentir falta dela mas, pelo contrário, parecer feliz por ficar livre dela".
Segundo Bento XVI, confiança e amor são o ponto final da narração da vida de Teresa de Lisieux. "Duas palavras que como faróis iluminaram todo o seu caminho de santidade, para poder guiar os outros pela sua mesma 'pequena via de confiança e de amor' da infância espiritual (cf. Ms C, 2v-3r; LT 226). Confiança como a do menino que se abandona nas mãos de Deus, inseparável do compromisso forte e radical do verdadeiro amor, que é dom total de si, para sempre, como diz a Santa contemplando Maria: 'Amar é dar tudo, e dar-se a si mesmo' (Porque te amo, ó Maria, P 54/22). Assim Teresa indica a todos nós que a vida cristã consiste em viver plenamente a graça do Batismo na doação total de si ao Amor do Pai, para viver como Cristo, no fogo do Espírito Santo, o seu mesmo amor por todos os outros".
Que o Natal desperte em nós a confiança e o amor do Menino que nasceu para dar tudo: dar a si mesmo por nós.