05 Outubro 2021
A Legião de Cristo, confrontada com um novo escândalo.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 05-10-2021.
Marcial Maciel não foi apenas um dos maiores predadores de menores da história da Igreja Católica. Além disso, é um dos grandes protagonistas dos 'Pandora Papers'. Assim, como a própria congregação admitiu, seu fundador criou uma estrutura 'offshore' com 295 milhões de dólares em ativos (4,3 deles para entidades de capital de risco em que empresas espanholas de unicórnios como Glovo, Cabify ou Wallbox estão localizadas), enquanto o Vaticano investigou a opacidade de suas contas.
A investigação a que o Consórcio Internacional para Jornalismo Investigativo (ICIJ) teve acesso reflete como a Legião de Cristo implantou, entre 2010 e 2011, uma rede opaca de 'fideicomissos' e empresas subsidiárias que operavam em paraísos fiscais. Com investimentos em imóveis, setores de tecnologia ou petróleo. A Legião admite tais práticas, o que já as fazia figurar no Panama Papers, embora seu então porta-voz, Aaron Smith, declarasse que “hoje a Legião de Cristo não tem empresas offshore nem recursos em empresas offshore”. Esses investimentos "foram criados quando o padre Marcial Maciel era administrador geral e depois foram encerrados". A explicação esquece um pequeno detalhe: que Marcial Maciel, o pedófilo Marcial Maciel, morreu ... em 2008.
Na verdade, de acordo com a investigação realizada pelo consórcio, foi em 2010, dias antes de o Vaticano nomear o Cardeal Velasio de Paolis interventor na Legião, foi quando a congregação começou a construir sua estrutura offshore em torno de dois 'trustes': Salus e Alfa Omega. Os dados indicam que o dinheiro fluía da Nova Zelândia para o Reino Unido. Uma vez no país britânico, foi dividido em vários investimentos, entre os quais estão os principais fundos de capital de risco na Espanha, que promovem algumas das empresas emergentes mais importantes do país, como Glovo, Cabify ou Wallbox, todos considerados 'unicórnios' porque eles não estão listados, mas sua avaliação ultrapassou US $ 1 bilhão.
Dos despejos à inteligência artificial: uma teia de sociedades
Nos 'Pandora Papers' é mostrado como, durante seis anos, Alpha Omega e Salus acumularam ativos de quase 300 milhões de dólares. Além do mais, esses dois trustes são apenas a ponta de uma bola que nos leva a uma complexa rede de empresas que operam em quatro continentes. Por exemplo, nos Estados Unidos, eles investiram em apartamentos cujos inquilinos foram despejados durante a moratória estabelecida pela pandemia, e no México eles contribuíram com pelo menos 16 milhões de euros para negócios que variam de inteligência artificial a suplementos nutricionais.
Um porta-voz desses dois trustes garantiu ao El País que esses trustes foram estabelecidos na Nova Zelândia pelos "motivos certos". De acordo com os documentos acessados pelo ICIJ, ambos os trustes foram criados em 2011 pelo padre Luis Garza Medina, o 'número dois' de Maciel e que foi sancionado pela Santa Sé após admitir que sabia de alguns dos abusos cometidos pelo mexicano pedófilo.
O papel de Luis Garza
Garza é considerado o 'arquiteto' das finanças dos Legionários, embora a congregação afirme que os recursos dos dois trustes vêm da herança da família de um padre. No entanto, ambas as sociedades compartilham um beneficiário: um terceiro fundo denominado The Retirement and Medical Charitable Trust (RMCT), que desta vez foi aberto pelos Legionários em 2010.
Na verdade, seu próprio estatuto declara que o fundo é projetado para "coletar doações e fazer investimentos", bem como para "ajudar financeiramente membros aposentados, doentes mentais ou feridos". Ou, o mesmo: esses recursos poderiam ser usados para atender aos padres legionários implicados judicialmente por pedofilia.
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Os Legionários de Cristo e os 'Pandora Papers': seus paraísos fiscais atingem 295 milhões de euros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU