04 Fevereiro 2021
“Não podemos remover a ansiedade. No entanto, podemos transformar o medo em carinho”, disse a arcebispa da Igreja da Suécia, Antje Jackelén, ao falar sobre o seu livro “Impaciente na Esperança”, recentemente lançado. “A preocupação é sobre como nos sentimos a respeito de nós mesmos ou nossos entes queridos sendo afetados pelo vírus”, explicou.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Em entrevista ao portal Allas.se a líder desde junho de 2014 de uma comunidade de 6 milhões de fiéis afirmou que sente a responsabilidade de transmitir chaves de esperança e coragem a todos. “Há muito o que fazer, mas não estou sozinha, estamos todos juntos nisso como igreja”, assinalou.
A pastora Antje entende, como arcebispa, que sua maior tarefa é ser sensível, ajudar as pessoas a olhar mais longe e com profundidade. “Mas também é importante transmitir ferramentas e ajudar quem precisa colocar em palavras o que os preocupa. Quando colocamos nossos sentimentos em palavras, algumas coisas desagradáveis desaparecem. É tirar a escuridão à luz do dia”, acrescentou.
Expressando grande sentimento de solidariedade, Antje admite que ser carregado de esperança, como ela procura vivenciar, não significa que todo dia seja um grande dia. “Como a maioria das pessoas, tento abrigar raiva, humildade e coragem. A humildade também inclui ter paciência com as próprias fraquezas e cuidar de si mesmo. Nenhum de nós está no topo o tempo todo, mas não temos que ficar no escuro quando vemos que há esperança e quando aprendemos a praticar a esperança”.
Mas como transformar ansiedade em esperança? “Mostrando amor e consideração. Acho que cuidar é uma palavra muito bonita”, respondeu. A esperança, apontou a arcebispa, é uma força que se pode encontrar na oração e em Jesus como modelo. Mas também por meio das histórias bíblicas. “Tive o privilégio de crescer em uma família onde a fé tem sido uma parte óbvia da vida”, relatou. Ela frisou a importância de nutrir a fé para ver o significado da vida. “Ser capaz de sentir um significado em tempos de crise é uma grande necessidade que muitos nós temos”, ensinou.
“Fico feliz quando sinto que a esperança se fortalece quando me sinto comunidade. Vivemos juntos com quatro relacionamentos: com as pessoas, com nós mesmos, com a natureza e com Deus”. Ela lamenta, contudo, o pouco espaço que existe na sociedade para o desenvolvimento espiritual. “Buscamos a sustentabilidade ecológica e social, mas o que aconteceu com a sustentabilidade espiritual em nosso país?” – pergunta.
Antje Jackelén, 65 anos, nasceu na Alemanha Ocidental, onde viveu até os 18 anos de idade. Morou um ano na Suíça para um trabalho prático e voltou a estudar em seu país natal. Aos 22 anos, mudou-se para a Suécia. Ela é casada com o pastor Heinz Jackelén, 75 anos. O casal tem duas filhas e quatro netos.
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É preciso transformar o medo em carinho, enfatiza arcebispa sueca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU