25 Setembro 2017
Quando uma porta se fecha, Deus abre uma janela. Ou, neste caso, um cardeal a abre.
Esse ditado vale para o padre jesuíta James Martin, quem, depois que uma série de palestras e eventos com ele terem sido cancelados nas últimas semanas, recebeu um convite na sexta-feira feito pelo cardeal-arcebispo Blase Cupich para falar à Arquidiocese de Chicago em duas noites durante o período da Quaresma.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 22-09-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Este convite ao jesuíta feito pela arquidiocese coroa uma semana turbulenta em que Martin teve de se defender – como fez o fizeram dois bispos e vários analistas católicos – contra grupos católicos de extrema-direita que lançaram campanhas online procurando cancelar a participação do jesuíta, autor de um best-seller nos EUA, por desaprovarem o seu recente livro que trata de católicos LGBTs. Estas iniciativas resultaram, de modo notável, na retirada de um convite por parte da Theological College, faculdade de teologia da Universidade Católica da América, em que Martin iria palestrar no próximo encontro de ex-alunos.
No fim da noite de sexta-feira, a Arquidiocese de Chicago tuitou, e Cupich retuitou, que Martin irá proferir reflexões quaresmais na Holy Name Cathedral nas noites dos dias 22 e 23 de março.
“Fico feliz que o Cardeal Cupich tenha me convidado para falar na Arquidiocese de Chicago. Ele é um bispo aberto, inteligente e compassivo, e há bastante tempo tem sido um amigo dos jesuítas”, contou o padre, atual editor-geral da revista America. “Estou ansioso para conversar com as pessoas de Chicago sobre Jesus, que está no centro da minha vida e no coração de todos os meus ministérios”.
Um foco na figura de Jesus também estava programado para a palestra, agora cancelada, de Martin no, assim como era o tópico na terça-feira quando discursou a 2.500 diretores e professores da Arquidiocese de Nova York. Jesus foi também o tema escolhido para as palestras dos jesuítas no final de outubro durante o jantar da Ordem do Santo Sepulcro, na cidade de Nova York, e em um evento na cidade de Londres organizado pela CAFOD, agência de ajuda humanitária internacional da Igreja Católica na Inglaterra e País de Gales.
Estas três apresentações foram canceladas em meio a uma onda de protestos encabeçados por grupos católicos de extrema-direita, entre eles o Church Militant, o LifeSiteNews e o Fr. John Zuhlsdorf (ou “Fr. Z”, como é mais conhecido). Estes e outros grupos se opuseram à presença de Martin em tais eventos por causa de objeções ao seu mais recente livro, intitulado “Building a Bridge: How the Catholic Church and the LGBT Community Can Enter Into a Relationship of Respect, Compassion, and Sensitivity” (“Construindo uma ponte: como a Igreja Católica e a comunidade LGBT podem entrar em um relacionamento de respeito, compaixão e sensibilidade”, em tradução livre).
O livro, que já vendeu 25 mil exemplares nos EUA, volta-se para algumas formas como a Igreja poderia melhor ministrar a seus membros que gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais, e reflete sobre como ambos os lados poderiam construir um maior diálogo e entendimento. Embora Martin informe que a recepção ao livro tem sido “esmagadoramente positiva”, a sua publicação também trouxe uma reação negativa, por vezes pessoal, contra ele, em particular nas mídias sociais.
Cupich é o mais recente bispo a mandar um sinal de apoio a James Martin, que é um padre querido, popular, famoso por best-sellers e por aparecer frequentemente na imprensa, inclusive tendo atuou como o “capelão oficial” do programa “The Colbert Report”, do comediante Stephen Colbert. Em abril, o Papa Francisco o nomeou consultor da Secretaria para as Comunicações, do Vaticano.
No começo desta semana, o cardeal-arcebispo da Filadélfia Charles Chaput e o bispo de San Diego Dom Robert McElroy publicaram artigos que contribuíram para sustentar a credibilidade de Martin como um evangelizador efetivo da Igreja, condenando também as campanhas voltadas a sujar a reputação do jesuíta. McElroy escreveu um texto sobre o livro “Building a Bridge”, assim como o fizeram o arcebispo de Santa Fe, Dom John Wester, o Cardeal Joseph Tobin, de Newark, Nova Jersey, e o Cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
O convite para ir à Arquidiocese de Chicago é o segundo que Martin recebeu desde que se tornaram públicos os cancelamentos para eventos com sua participação. A comunidade católica Holy Trinity, de Washington, ofereceu-se para recebê-lo no dia 30 de setembro, convite igualmente aceito por Martin.
O Pe. James Martin já fez aproximadamente duas dezenas de apresentações sobre o seu mais recente livro, incluindo palestras na Fordham University e na Villanova University.
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Cardeal-arcebispo de Chicago convida o Pe. James Martin em meio a cancelamentos de conferências sobre LGBT - Instituto Humanitas Unisinos - IHU