13 Dezembro 2017
"A publicação da carta do Papa Francisco deve significar que esta briga infeliz terminou de uma vez por todas", disse o cardeal.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por La Croix International, 12-12-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O cardeal Walter Kasper espera que a aprovação de Papa Francisco da interpretação dos bispos argentinos de Amoris Laetitia e de como ela lida com os católicos divorciados e recasados ponha um fim definitivo às controvérsias em torno da exortação apostólica do Papa sobre o matrimônio e a família.
O cardeal de 84 anos foi um dos principais teólogos empregados pelo Papa para ajudar a dar forma às discussões de questões relacionadas à família no Sínodo dos Bispos. Ele fez uma declaração em um comentário publicado no último domingo no programa alemão da Rádio Vaticano.
"A publicação da carta do Papa Francisco deve significar que esta briga infeliz terminou de uma vez por todas", disse Walter Kasper.
Em setembro de 2016, o Papa escreveu aos bispos da região de Buenos Aires e aprovou suas orientações da implementação da exortação apostólica, dizendo que ela "explica precisamente o significado do capítulo VIII de Amoris Laetitia". O Papa ainda acrescentou: “Não há outra interpretação”.
As orientações e a carta papal foram publicadas recentemente na Acta apostólica Sedis, gazeta oficial dos documentos do Vaticano e dos atos papais. Uma nota que acompanhava o texto dizia que ambos os textos eram parte do "magistério autêntico" ou do ensino oficial da igreja.
"Amoris Laetitia (AL) já foi recebida com grande alegria e gratidão por grande parte do povo de Deus, que agora podem se sentir gratificado", disse o cardeal a respeito da afirmação publicada no jornal.
Segundo ele, o "erro cardeal" da crítica, "em partes, feroz”, a AL é que se deteve numa única nota de rodapé, que tinha sido "descontextualizada”.
O Cardeal Walter Kasper disse que a permissão a pessoas divorciadas que se casaram novamente a receber os sacramentos em casos particulares baseia-se no ensinamento tradicional da Igreja, particularmente o de São Tomás de Aquino (1225-1274) e o Concílio de Trento (1545-1563). Segundo ele, não se trata de uma inovação, mas de uma renovação da tradição mais antiga, que a neoescolástica (a partir do final dos anos 1800) tinha minimizado.
Ele também salientou que especialistas reconhecidos do ensino de São João Paulo II demonstraram que o ensino de Francisco na encíclica não contradiz o dos dois papas anteriores.
Kasper, cujos livros de teologia estão entre os mais utilizados em seminários e universidades católicas em todo o mundo desde a década de 70, disse que o ensino na exortação de Francisco está em consonância com o Concílio de Trento. Disse ainda que o Conselho do século XVI ensinava de fora expressa que quando os cristãos demonstram remorso por seus pecados e participam da Eucaristia, os pecados veniais são perdoados e, ao mesmo tempo, a Eucaristia os protege dos pecados mortais.
"Portanto, é difícil entender como a nota de rodapé 351 de AL – que diz que, em certos casos, ou seja, nos casos em que não foram cometidos pecados mortais, receber os sacramentos pode ajudar – pode contradizer o ensino da Igreja", ressaltou o cardeal.
Ele afirmou que os que criticavam AL tinham culpa pelo objetivismo moral unilateral que desvaloriza a importância da consciência pessoal em um ato moral.
"Ainda que não se possa negar que a consciência deve respeitar os mandamentos objetivos de Deus, os mandamentos objetivos que geralmente são válidos – novamente, de acordo com São Tomás de Aquino – não podem ser aplicados a situações concretas, e muitas vezes complexas, de forma mecânica ou por pura lógica”, disse o cardeal.
Em vez disso, comentou, deve haver discernimento.
Kasper observou que a lei secular é cuidadosa ao distinguir homicídio doloso e culposo ao determinar uma punição para o criminoso. Ele disse que é ainda mais importante para a Igreja fazer distinções semelhantes e cuidadosas, pois deve considerar não apenas a culpa legal, mas também a culpa subjetiva e a medida moral.
"A Igreja não considera apenas o ato externo, mas olha para a consciência da pessoa", observou.
O cardeal disse que o Papa Francisco baseia-se firmemente no ensino do Concílio Vaticano II (1962-1965) ao enfatizar a importância da consciência pessoal.
"A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz ressoa na intimidade do seu ser", disse Walter, citando o parágrafo 16 de Gaudium et Spes, a Constituição Pastoral do Vaticano II sobre a Igreja no mundo moderno.
Ainda pontuou seu comentário na Rádio Vaticano citando o seguinte trecho de Amoris Laetitia (37): "Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las."
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Cardeal Kasper espera que polêmica sobre 'Amoris Laetitia' tenha acabado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU