31 Outubro 2017
Moradores e apoiadores da Ocupação Povo Sem Medo, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, iniciaram uma marcha em direção à zona sul de São Paulo por volta das 7 horas da manhã desta terça-feira, 31. O grupo pretende caminhar 23 quilômetros até o Palácio dos Bandeirantes, no bairro do Morumbi, para pressionar o governo do Estado a desapropriar o terreno. Cerca de sete mil famílias, que vivem no local desde o início de setembro, temem o despejo já autorizado pela Justiça.
Por volta das 8 horas, em torno de 5 mil militantes estavam no entorno da Rodovia Anchieta, que já tinha congestionamento de mais de cinco quilômetros no sentido capital. A previsão é chegar em torno das 13 horas à Estação Morumbi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), onde mais 10 mil pessoas devem se somar ao protesto, segundo o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos. "A gente só sai do Palácio hoje com resposta", disse, antes da partida.
A reportagem é de Priscila Mengue e Bibiana Borba, publicada por O Estado de S. Paulo, 31-10-2017.
Foto: Roberto Parizotti
A marcha já estava prevista antes de a Justiça proibir o show do cantor Caetano Veloso que aconteceria dentro da ocupação nesta segunda-feira, 30. O cancelamento da apresentação, sob o argumento da falta de estrutura e segurança, gerou uma manifestação prévia durante a noite. Em um palco de madeira, participaram do ato apoiadores como o cantor Criolo, as atrizes Sônia Braga, Alinne Moraes, Letícia Sabatella, Marina Person e a empresária de Caetano, Paula Lavigne, além do próprio músico.
Presente desde a noite anterior, o vereador da capital Eduardo Suplicy (PT) dormiu em um dos barracos no terreno. "O Guilherme (Boulos) me convidou para passar uma noite aqui há cerca de um mês. Achamos que essa seria a data ideal, por ser depois do show. Foi um gesto de apoio", comentou. "Foi uma noite curta. Ouvi os foguetes por volta das 5 horas, mas dormi mais uma meia hora", disse o vereador, que, como em outras ocasiões, cantou um trecho de "Blowin' in the wind", de Bob Dylan.
O ato saiu de um terreno de 70 mil metros quadrados que pertence a uma construtora e, segundo o MTST, está ocioso há cerca de 40 anos. Para levantar o número de participantes, a entidade distribuiu fichas que devem ser devolvidas no fim da caminhada.
Dentre os militantes, estava a costureira Lucicleide Campos Duarte, de 48 anos, que mora na ocupação com o marido, desempregado, a filha de 10 anos e duas irmãs. É dela a única fonte de renda da família, de R$ 1.500, utilizada também para bancar os remédios do filho de 19 anos, portador de epilepsia. "Sou de Diadema, mas agora eu vou ser de São Bernardo, eu tenho fé", comentou.
Com uma placa de isopor e arame escrita "Eu não aguento mais pagar aluguel", estava o segurança Adilson Teles, de 48 anos, baiano de Poções, há 19 anos em São Paulo. "Eu vim para ajudar a minha cunhada, trazer as crianças dela, mas acabei ficando.
Foi o destino. Quando a gente está lá fora, a gente tem uma visão diferente de São Paulo, que aqui é mais fácil de conseguir as coisas”, disse.
O segurança afirma que vai continuar no movimento até conseguir uma casa. "Vinte quilômetros vai ser para mim como se eu tivesse andado um quilômetro, porque sem sacrificio a gente não consegue as coisas. A vontade e a necessidade que eu tenho é tão grande que essa caminhada se torna pequena".
Já a metalúrgica desempregada Jaqueline Severina da Silva, de 27 anos, vai participar da caminhada mesmo grávida de oito meses de Emanuelly Sophia. "Ela vai nascer de parto normal de tanto eu andar na ocupação", afirma ela, que pretende passar parte do trajeto nos dois ônibus disponibilizados pelo movimento para quem precisar descansar.
Também no ato, Isac de Oliveira Messias completa cinco anos nesta terça-feira. "Não tenho ideia de como vai ser essa caminhada, se vai ser cansativa, mas a gente precisa, mora de favor", diz Maria José de Oliveira da Silva, de 42 anos.
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Após cancelamento de show de Caetano, MTST faz caminhada do ABC até o Morumbi nesta terça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU