08 Junho 2017
Durante a Audiência Geral, o Papa disse que “chamar Deus pelo nome de ‘Pai’ não é um fato normal” e que o aramaico “Abba”, com o qual Jesus chamava o Pai, pode ser traduzido como “papai”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 07-06-2017. A tradução é de André Langer.
“Nós podemos estar longe, ser hostis, podemos também nos professar ‘sem Deus’”, mas “Ele jamais será um Deus ‘sem o homem; é Ele quem não pode estar sem nós”. O Papa Francisco refletiu sobre a paternidade de Deus durante a catequese da Audiência Geral na Praça de São Pedro e destacou que “chamar Deus pelo nome de ‘Pai’ não é algo normal”, e, além disso, também disse que o termo aramaico ‘Abbá’, com o qual Jesus chamava o Pai, e que São Paulo “não se sente seguro em traduzir para o grego”, é um termo muito mais íntimo que “Pai” e alguns o traduzem por “papai”.
“Nós nunca estamos sozinhos”, disse o Papa: “Nós podemos estar longe, ser hostis, podemos também nos professar ‘sem Deus’. Mas o Evangelho de Jesus Cristo nos revela que Deus não pode estar sem nós: Ele jamais será um Deus ‘sem o homem’; é Ele quem não pode estar sem nós, e isto é um grande mistério. Deus não pode ser Deus sem o homem: este é um grande mistério! E esta certeza é a fonte da nossa esperança, que encontramos conservada em todas as invocações do Pai Nosso”.
Francisco chegou à Praça de São Pedro perto das 9h20 e prosseguiu seu ciclo de catequese dedicado à esperança cristã. Refletiu sobre o Evangelho de Lucas, segundo o qual “os discípulos de Jesus estavam impressionados pelo fato de que Ele, especialmente durante a manhã e a noite, retirava-se para rezar na solidão e ‘mergulhava’ na oração. E, por isso, um dia, pediram-lhe que também os ensinasse a rezar. Foi então que Jesus lhes ensinou aquela que se transformou na oração cristã por excelência: o Pai Nosso. Na verdade, Lucas, em relação a Mateus, nos transmite a oração de Jesus de forma mais abreviada, que inicia com uma simples invocação: ‘Pai’”.
Jorge Mario Bergoglio destacou que “todo o mistério da oração cristã resume-se nesta palavra: ter a coragem de chamar Deus pelo nome de Pai. É o que afirma também a Liturgia quando, convidando-nos à oração comunitária da oração de Jesus, utiliza a expressão ‘ousemos dizer’”. De fato, observou, “chamar Deus pelo nome de ‘Pai’ não é, de forma alguma, um fato normal. Somos levados a utilizar um título mais elevado, um que nos parece mais respeitoso com sua transcendência”.
“Entretanto – prosseguiu Francisco –, invocá-lo como ‘Pai’ situa-nos em uma relação de confiança com Ele, como uma criança que se dirige a seu pai sabendo-se amada e cuidada por ele. Esta é a grande revolução que o cristianismo imprime na psicologia religiosa do homem. O mistério de Deus, que sempre nos fascina e nos faz sentir pequenos, porém, não causa medo, não nos sufoca, não nos angustia. Esta é uma revolução difícil de acolher em nossa alma humana; tanto é verdade que inclusive nas narrações da Ressurreição diz-se que as mulheres, após terem visto a sepultura vazia e o anjo, ‘saíram correndo, porque estavam com medo e assustadas’. Mas Jesus nos revela que Deus é um Pai bom, e nos diz: ‘Não tenham medo’”.
Depois o Papa recordou o exemplo da parábola do pai misericordioso, mais conhecida como a Parábola do Filho Pródigo, e destacou que “Deus é Pai, disse Jesus, mas não da maneira humana, porque não existe nenhum pai neste mundo que se comportaria como o protagonista desta parábola. Deus é Pai da sua maneira: bom, indefeso diante do livre arbítrio do homem, capaz apenas de conjugar o verbo ‘amar’. Quando o filho rebelde, após ter gastado tudo, finalmente retorna para casa, esse pai não aplica critérios de justiça humana, mas sente, antes de tudo, necessidade de perdoar, e com o seu abraço faz entender ao filho que durante o longo tempo de ausência, ele dolorosamente fez falta ao seu amor de pai”.
“Que mistério insondável é um Deus que nutre este tipo de amor pelos seus filhos!”, exclamou o Papa. “Talvez seja por esta razão que, evocando o centro do mistério cristão, o Apóstolo Paulo não se sente seguro em traduzir para o grego uma palavra que Jesus, em aramaico, pronunciava ‘abbá’. Em duas ocasiões, São Paulo, em seu epistolário, toca este tema, e nas duas vezes deixa essa palavra sem traduzi-la, da mesma forma que surgiu dos lábios de Jesus, ‘abbá’, um termo ainda mais íntimo do que ‘pai’, e que alguns traduzem como ‘papai’”.
O Papa concluiu sua catequese afirmando que “todas as nossas necessidades, desde as mais evidentes e cotidianas, como a alimentação, a saúde, o trabalho, até aquelas como ser perdoados e sustentados nas tentações, não são o espelho da nossa solidão, pois existe um Pai que sempre nos olha com amor e que, seguramente, não nos abandona”.
Por isso, propôs aos fiéis que estavam na Praça de São Pedro: “cada um de nós tem tantos problemas e tantas necessidades. Pensemos por um momento, em silêncio, nesses problemas e nessas necessidades. Pensemos também no Pai, em nosso pai, que não pode estar sem nós, e que neste momento nos vê. E todos juntos, com confiança e esperança, rezemos: “Pai nosso, que estais no céu...’ Obrigado”.
No início da Audiência, o Papa, após dar a volta no carro para saudar os fiéis e antes de descer, amarrou o cadarço de um dos sapatos, diante dos olhares surpresos de seus colaboradores. Ao final da Audiência, Francisco lembrou do aniversário de seu encontro com o presidente israelense Shimon Peres e com o presidente palestino Mahmoud Abbas, que é nesta quinta-feira, 08 de junho. Saudou, em particular, a Associação Comunidade Rainha da Paz de Radom, Polônia.
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“Podemos nos professar sem Deus, mas Deus não pode estar sem nós”, disse Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU