30 Mai 2017
Talvez a tendência atual esteja pendendo para o lado das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneras (LGBT). No final do ano passado, fiz uma visita de 10 dias à Polônia, a convite da Campaign against Homophobia (Campanha contra a homofobia), onde proferi discursos públicos, dei entrevistas e coordenei um retiro para membros do Faith and Rainbow, grupo de católicos LGBTs.
O depoimento é de Jeannine Gramick, religiosa da Congregação Irmãs de Loretto e que desde 1971 trabalha junto à comunidade católica lésbica e gay. Ajudou a fundar o New Ways Ministry e, desde 2003, coordena a National Coalition of American Nuns, coalização que congrega religiosas católicas dos EUA.
O depoimento é publicado por Global Sister Report, 15-05-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Também tive a oportunidade de me reunir com formadores de opinião católicos como o jornalista Cezary Gawrys, com quem pude ter uma melhor impressão do estado da arte para os fiéis LGBTs no país. Gawrys tem estudado o assunto pessoas LGBTs e a Igreja.
Tendo trabalhado por dois anos como assessor voluntário, Gawrys testemunhou os esforços destas pessoas – esforços espirituais, mentais e financeiros – para mudar de orientação sexual. “Vi gays que não eram pessoas tão ricas financeiramente fazendo empréstimos para pagar a terapia”, resumiu. “O sentimento de não ser aceito pela Igreja as separava da comunidade. Por vezes elas se isolavam dos demais e seguiam em frente com suas lutas solitárias”.
Katarzyna Jabłońska, que juntamente com Gawrys escreveu “Challenging Love: Christians and Homosexuality”, relatou uma experiência pela qual passou enquanto trabalhava em casa na escrita da obra. A sua impressora havia estragado, e então pediu que a vizinha da frente, uma amiga conhecida há muitos anos, imprimisse. Com as folhas impressas em mãos, a amiga voltou chorando em profusão; contou a Jabłońska que um de seus filhos era gay. Muito embora se conheciam há anos, a vizinha não tinha falado sobre seu filho até o incidente com a impressora.
Jabłońska disse que sua cegueira para com as pessoas gays e lésbicas desfez-se aos poucos. Ela descobriu que alguns de seus amigos e amigas eram gays. Estas pessoas lhe disseram que se sentiam desemparadas, como os “filhos menores” de Deus, sentiam-se como uma “criação fracassada”. Na medida em que caminhava com elas e as acompanhava, percebeu que estas pessoas “se sentiam bastante solitárias na Igreja”.
Uma iniciativa de reconciliação começada pela Campaign against Homophobia, chamada “Let’s Exchange a Sign of Peace”, trazia outdoors com duas mãos entrelaçadas: uma com um bracelete com as cores do arco-íris e a outra com um rosário. Esta campanha de conscientização social comoveu os corações e mentes de muitos poloneses (mas não, infelizmente, dos bispos do país, que denunciaram a campanha).
Fiquei surpresa com o grau de abertura e aceitação que encontrei entre os poloneses para com os seus irmãos e irmãs lésbicas e gays. Os católicos poloneses estão emergindo não só de um ambiente político comunista, mas também de uma influência da cultura religiosa autoritária e tradicionalista. Com eles, aprendi que eu, também, tenho de me sobrepor às influências limitantes de meus próprios preconceitos, superar os meus próprios pontos cegos e desviar das muralhas diante de meus próprios olhos. Quero estar mais aberta aos que “me mostram o caminho errado” e ser mais acolhedora com aqueles com os quais discordo.
A visita que fiz à Polônia preencheu-me com a esperança de que a homofobia está, aos poucos, diminuindo em lugares inesperados.
Um outro sinal esperançoso mostrar-se-á claramente esta semana. Anualmente, no dia 17 de maio um número crescente de países observa o Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia. Este dia procura conscientizar sobre a repressão que a comunidade LGBT vivencia nos bairros, nas cidades e nos lares ao redor do mundo.
Escolheu-se esta data para comemorar a decisão em 17-05-1990, da Organização Mundial da Saúde, em tirar a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Quando me envolvi no ministério pastoral junto às pessoas lésbicas e gays, nos EUA ainda se considerava a homossexualidade como uma doença mental. Em 1973, a American Psychiatric Association e a American Psychological Association publicaram resoluções de que os seus membros não mais consideravam a homossexualidade com sendo um transtorno emocional ou mental. Aproximadamente uma dúzia de anos mais tarde, esta opinião profissional se tornou o padrão internacional.
No entanto, em muitas partes do mundo hoje, persiste o diagnóstico errôneo de transtorno mental, o que causa grande medo e confusão com relação a lésbicas e gays, gerando resultados frequentemente trágicos. Para acabar com essa violência sem sentido, uma série de grupos LGBTs internacionais organizaram uma campanha que culminou no primeiro Dia Internacional contra a Homofobia, em 17-05-2005.
Quatro anos depois, quando a França se tornava o primeiro país a remover a questão dos transexuais da categoria de doenças mentais, acrescentou-se “transfobia” ao nome da campanha. A transfobia pode se manifestar por uma variedade de atitudes e sentimentos negativos, tais como repulsa, medo, fúria ou desconforto para com as pessoas que não se conformam às expectativas de gênero da sociedade. Lançou-se uma nova petição para incluir a conscientização da discriminação para com as pessoas transgêneras. A petição contou com o apoio de mais de 300 organizações não governamentais de 75 países, e de três ganhadores do Prêmio Nobel. Enquanto a maioria dos americanos, hoje, aceitam os indivíduos gays e lésbicas, ainda há muita ignorância sobre os sentimentos e as experiências das pessoas transexuais, como deixam abundantemente claras as batalhas políticas em torno dos banheiros.
O Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia é especialmente forte na Europa e na América Latina, onde ele é comemorado com eventos públicos tais como marchas, desfiles e festivais. Nos últimos três anos em Cuba, Mariela Castro vem liderando desfiles massivos no 17 de maio. Esta data pode também incluir eventos artísticos e culturais, como o festival de música chamado “Love Music – Hate Homophobia”, que ocorre em Bangladesh. Em 17 de maio, ativistas albaneses organizam um passeio anual de bicicleta pelas ruas da capital.
Por vezes, observa-se este dia com cerimônias religiosas. Novamente este ano, em toda a Europa realizar-se-ão vigílias de oração, promovidas por grupos cristãos gays e pelas igrejas católica, valdense e batista. Como consequência destes eventos, as relações entre os cristãos LGBTs e as igrejas têm se fortalecido. Este ano, o material de divulgação das vigílias de oração italianas proclama: “Abençoem os que perseguem vocês; abençoem e não amaldiçoem” (Romanos 12,14).
Este material serve como motivo para várias reflexões. Em minhas décadas de ministério junto à comunidade LGBT, continuo a me surpreender e inspirar-me pelo exemplo dos que permanecem numa Igreja não consegue nutrir a fé delas, muito pelo contrário. Num espírito de não violência, estes grupos cristãos LGBTs agora nos convidam a se colocar junto deles. Podemos não compreender as orientações sexuais diferentes ou as identidades de gênero, mas acreditamos que toda pessoa deve ser tratada com dignidade e respeito porque todos fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. O que podemos fazer para reduzir a homofobia e a Transfobia que engole, submerge os que são diferentes?
Uma ação foi proposta pelo “European Forum of LGBT Christian Groups”, fórum europeu composto por grupos LGBTs cristãos. Este fórum tem coletado assinaturas de pessoas ao redor do mundo para uma declaração intitulada “Believers Say NO to Violence Against LGBTI People” (Crentes Dizem NÃO à Violência contra as Pessoas LGBTIs) [1]. A declaração convida-nos a ajudar a criar espaços seguros para as pessoas LGBTs, para que elas vivam sem medo. Somos convidados e convidadas a acrescentar o nosso nome a esta declaração como uma forma de participar do Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia. Embora a declaração faça referência a europeus, fiéis de todas as nações estão convidados a assinar. Para demonstrar apoio à dignidade e humanidade das pessoas LGBTs, você pode clicar em: Unamo-nos contra a homofobia e a transfobia.
Nota:
[A letra “I” na sigla significa intersexo]
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Unidos contra a homofobia e a transfobia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU