04 Mai 2016
É antipático, eu sei. Mas a sanção aplicada no WhatsApp por um juiz do interior de Sergipe é significativa de um embate muito maior que será cada vez mais presente: o poder globalizado das redes sociais versus o poder nacional.
O comentário é de Luis Nassif, jornalista, publicado por Jornal GGN, 03-05-2016.
Não se trata de tema menor, mas fundamental na atual quadra da globalização. Em muitos casos, as redes sociais exercem um papel virtuoso, abrindo espaço para as demandas sociais e para a pluralidade de opiniões. Mas sua colocação como poder supranacional é perigosa. Tratam-se de grupos privados, com interesses comerciais e com lógica de empresa privada similar, mas muito maior, do que os grupos de mídia.
Essas redes têm o controle do mais importante ativo nacional: o mercado de opiniões. Através de simples expedientes técnicos - como o de definir as formas como as notícias entram nas pesquisas -, podem direcionar as opiniões para onde quiser. Têm poder total de veto sobre as opiniões de seus usuários. Subordinam-se unicamente aos seus países de origem, sendo instrumentos óbvios de parceria das estratégias geopolíticas nacionais.
É muito poder, para viver em um mundo sem regulação.
Por outro lado, as redes sociais, no estágio atual, representam a liberdade de expressão para muitos países submetidos a ditaduras de Estado ou de cartel de mídia.
Chegará o tempo em que as organizações multilaterais definirão regras de conduta para esses grandes grupos. A atitude do juiz Marcel Montalvão antecipa o primado do poder nacional sobre essas organizações, em um caso que envolvia tráfico interestadual de drogas.
O problema é se o precedente for utilizado para tentativas de Estado de atacar a liberdade de expressão ou a privacidade dos usuários.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O WhatsApp e o conflito nação-redes sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU