Por: André | 25 Mai 2012
“Creio que não há nada de novo. O problema é quem produz todo esta lama e quem a joga no ventilador. E não creio que se possa invocar o direito de crônica...”. O professor de História do Cristianismo da Universidade de Módena-Reggio Emilia, Alberto Melloni, que também dirige a Fundação João XXIII para as Ciências Religiosas de Bolonha, resume desta forma o caso dos “vati-leaks”, que provocaram (e continuam provocando) tanta agitação no Vaticano, onde começou a caça das “toupeiras” que enviaram documentos, apontamentos e cartas ao jornalista italiano Gianluigi Nuzzi (autor de Sua Santidade. Os papéis secretos de Bento XVI) e ao jornal Il Fatto Quotidiano.
A entrevista é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 23-05-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Qual sua opinião sobre o caso dos “vati-leaks”?
Me parece um ataque contra o Papa por parte daqueles que querem dizer: “te equivocaste ao escolher o secretário de Estado e te equivocaste ao não substituí-lo...”.
Existem antecedentes que podem ser comparados com o que está acontecendo?
Não, não creio. Deve-se dizer que o livro não revela grandes novidades; não se trata de “papéis secretos”, é apenas correspondência privada interna: a intenção é a de mostrar que não há nenhum controle, que tudo pode sair, que os arquivos não estão bem guardados.
O que se deve esperar agora?
Eu creio que nada. Este livro representa, na minha opinião, o fim dos “vati-leaks”. Creio que todo o “dossiê” se encontra ali: saiu um pacote de documentos formado por papéis muito diferentes entre si e sem nenhuma relevância particular...
Mas, pode se dizer que as cartas de Boffo ao secretário do Papa não têm relevância?
Bem olhadas, trata-se de notícias que já eram públicas. O pano de fundo vaticano do caso Boffo saiu durante semanas na imprensa. As tensões acerca da figura do arcebispo Carlo Maria Viganò no Governadorado e seu “promoveatur ut amoveatur” a Washington também. A oposição do cardeal Angelo Sodano à operação do IOR para salvar o Hospital San Raffaele também era conhecida. Pode-se dar outros exemplos. A verdadeira notícia é a mensagem que quem vazou os documentos queria enviar. Que é: “vocês não são capazes de proteger o Papa”.
Fala-se do direito de crônica e do direito de caráter reservado da correspondência. Segundo você, a Santa Sé tem instrumentos legais para proceder como anunciaram no comunicado de alguns dias atrás?
Queria recordar que a correspondência do Papa é matéria concordatária, e da concordata de 1929 se pretende a garantia da confidencialidade. Desde este ponto de vista, creio que há instrumentos legais para proceder e inclusive para pedir a colaboração das autoridades italianas.
Perdoe-me, mas onde fica o direito de crônica?
Não creio que se possa falar de direito de crônica; não houve nenhuma investigação jornalística, mas que alguém recebeu um pacote de documentos que foram publicados. Trata-se de material relacionado com as atividades internas da Santa Sé: que alguém roube estes papéis é uma coisa, usá-los é outra bem diferente.
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“Os Vatileaks? Um ataque contra o Papa”, diz Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU