18 Fevereiro 2013
O conclave que será aberto em apenas alguns dias apresenta uma novidade histórica para a China e para a Ásia. Desta vez, entre os candidatos na pole position para o papado, está um filipino de origem chinesa, Luis Antonio Tagle, cardeal de Manila.
A reportagem é de Francesco Sisci, publicada no jornal Il Sole 24 Ore, 17-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O especialistas nas sacras instâncias dizem que se trata de uma candidatura posta para fazer com que a Igreja parece realmente universal, lançada para aquela Ásia onde os católicos ainda são uma pequena minoria. Do mesmo modo, à morte de Wojtyla, entre os papáveis foi inserido o cardeal indiano Dias. Em ambos os casos, trata-se de possibilidades mínimas.
Mas, depois, Dias assumiu a poderosa cadeira de prefeito da Propaganda Fide, o número 3 ou 4 da Santa Sé, e, do mesmo modo, Tagle, embora se rejeitado no Sagrado Sólio, poderia ter amanhã cargos importantes em Roma. Mas a questão hoje vai além da fachada. A candidatura é uma novidade política, já que, pela primeira vez na história da Igreja, um senhor de origem chinesa poderia se tornar chefe da maior religião do mundo, o que traz Pequim objetivamente para a primeira fila no conclave.
Para a China, a questão católica é misteriosa e, segundo muitos, incompreensível. A Igreja Católica tem sido por muitos anos um fantasma: a força política que, com um papa polonês, sacudiu a Polônia e, assim, minou os fundamentos do império soviético. Depois, ela assumiu também outra dimensão, visto que a própria Igreja, ao invés, sustentou o regime moribundo de Castro em Cuba. Sem o apoio papal, ele provavelmente já estaria morto. Portanto, a perspectiva, mesmo distante, de um papa chinês ou a mais realista de outro prelado chinês na Cúria, levanta a questão de como eles se comportarão com Pequim
Os católicos na China são uma ínfima minoria, menos de 1% e, portanto, não podem desempenhar o papel que têm em países de maioria católica como a Polônia ou Cuba. No entanto, uma atitude positiva ou negativa da Igreja para com o governo de Pequim pode ter um impacto na delicada química da política internacional, em que a China navega em águas já difíceis e que, provavelmente, poderiam se complicar por causa do impacto que o seu crescimento tem sobre economias e sociedades de países vizinhos e distantes.
Já se viu que o ex-cardeal de Hong Kong, Zen, com a sua atitude de confronto, às vezes duro, com as autoridades do território, teve um impacto negativo muito grande, que ia muito além das apenas 300 mil diocesanos de Hong Kong, menos de 5% da população local. Por outro lado, a atitude mais positiva do seu sucessor, Tong, ao invés, está ajudando na administração de Hong Kong.
Não está claro como a China pode tirar vantagem ou desvantagem de uma atenção mais focada no Vaticano, mesmo que, desta vez, parece ser puxada pelos cabelos no conclave. Mais claras são as miras romanas na China. Com mais de 20% da população mundial e um papel de liderança em um pedaço de mundo-pátria de 60% da população e apenas 4% a 5% de todos os católicos, a China é o desafio de médio-longo prazo da Igreja.
Se os católicos não lançarem uma ponte firme lá, em poucos anos Roma poderia diminuir o seu peso espiritual específico em todo o mundo. Em suma, como prosaicamente se diz nas empresas, precisamos estar na China ou, em dez anos, seremos irrelevantes no mundo. Só alguns em Roma, porém, têm clareza sobre a força dessa urgência, e talvez ninguém sabe bem como transformar praticamente esse apelo em uma verdadeira estratégia de evangelização.
Em todo caso, há uma disparidade de interesses. Pequim está marginal e quase relutantemente interessada em Roma. Roma, ao invés, sabe que Pequim é uma prioridade e talvez seja "a prioridade". Essa disparidade de interesses leva objetivamente a Igreja a uma posição difícil. Enquanto o Vaticano não deve explicar a ninguém o que é e o que faz, em Pequim ele deve fazer isso, porque simplesmente os outros não entendem e estão sobrecarregados por outras prioridades: as questões sociais e econômicas internas e a teia de relações internacionais que se complica quase dia a dia.
Teoricamente, a Igreja poderia ser útil em ambos os frontes, poderia ser um conforto para o Ocidente tão desconfiado do crescimento chinês, poderia ser uma mediação cultural com um mundo que não entende a China e que a China não entende. Mas são todas hipóteses de trabalho muito vagas. Estas, no entanto, logo estarão na mesa do próximo papa, qualquer que seja a sua origem.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Com Tagle, a Igreja pisca um olho para a China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU