10 Outubro 2025
Uma longa espera antes da votação ministerial, adiada por ameaças da direita. Kushner e Witkoff estão em Jerusalém para supervisionar a aprovação. "Reféns serão libertados até terça-feira", as listas de palestinos a serem libertados ainda não estão claras.
A informação é de Francesca Caferri, publicada por La Repubblica, 10-10-2025.
Ainda não acabou: as pessoas nas ruas estão repetindo, ex-reféns e seus parentes em Tel Aviv estão gritando, alguns dos principais analistas de Israel estão dizendo isso com grande tensão. Não acabou, muito mais ainda pode dar errado: depois da alegria da noite entre quarta e quinta-feira, Israel viveu um dia de tirar o fôlego ontem, aguardando a votação do governo sobre o acordo que as delegações do governo e do Hamas assinaram esta manhã em Sharm el-Sheikh, sob o olhar atento de representantes de mediadores árabes e dos Estados Unidos. E, ainda mais, aguardando o reencontro dos vinte homens que foram sequestrados do sul do país há dois anos e o enterro das 28 pessoas que foram mortas ou morreram em cativeiro naquele dia. Só tarde da noite o governo aprovou o plano, e a esperança venceu o medo. O cessar-fogo entrou em vigor imediatamente.
BREAKING: Israeli occupation naval boats open fire on Palestinians gathering along Al-Rashid Street as they attempted to return to Gaza City following the ceasefire agreement.
— Quds News Network (@QudsNen) October 10, 2025
Despite the declared truce, Israeli forces have not yet allowed displaced residents to return to… pic.twitter.com/kcs5nE7vKi
"Devemos continuar lutando até que eles cheguem. Continuem rezando. Continuem enviando energia positiva até o momento em que eles cruzarem a fronteira. Não vai acabar até que eles cheguem", gritou Omer Shem Tov, que emergiu dos túneis em fevereiro, da Praça dos Reféns de Tel Aviv. Milhares de pessoas, que se reuniram espontaneamente no que havia sido o epicentro dos protestos por dois anos, o ouviam. Ontem, algumas pessoas já propunham mudar o nome da praça em frente ao Museu de Tel Aviv: de Praça dos Reféns para Praça dos Retornados. Mas isso levará tempo. "Não consigo respirar, não consigo respirar. Só sonho em ver Matan dormindo em sua cama", disse Einav Zangakauer, mãe e símbolo do movimento pelo retorno dos reféns.
Ainda não está claro quanto tempo mais pais, familiares, amigos e milhões de israelenses terão que esperar: a libertação dos sequestrados, segundo o acordo, deve ocorrer dentro de 72 horas após a aprovação do plano pelo governo. Os hospitais em Israel já estão em alerta máximo: os médicos sabem muito bem que os que chegam estarão em condições muito piores do que aqueles que foram libertados até agora.
Menos comida, mais tempo nos túneis, mais bombardeios. "Suas vidas estão em perigo. Temos certeza disso", disse aos repórteres o Dr. Hagai Levine, que vem tentando monitorar remotamente as condições dos sequestrados com as informações disponíveis desde o início. Até a noite passada — pressionado pelas ameaças dos ministros de extrema direita Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich — a aprovação final do governo não havia chegado: e, portanto, a contagem regressiva não havia começado.
Para garantir que nada dê errado na escuridão de Jerusalém, os enviados de Donald Trump, Steve Witkoff e Jared Kushner, genro do presidente, chegaram do Egito. Eles esperam que o próprio presidente apareça nas próximas horas ou dias: ele deve deixar Washington no domingo, a tempo para uma operação de libertação que — segundo cálculos americanos — ocorrerá entre segunda e terça-feira.
Mas nada é certo por aqui. Várias questões permanecem obscuras: as listas e os nomes dos prisioneiros palestinos que serão libertados, os termos do desarmamento do Hamas e quem e o que realmente garantirá que Israel — como já fez no passado — não volte atrás no pacto assinado. A declaração dos americanos de que "a guerra acabou" parece ter, até agora, apaziguado as demandas do movimento islâmico. Eles anunciaram que já estão trabalhando para libertar os reféns vivos, enquanto a extração dos corpos dos mortos será mais complicada ou demorada.
Breaking: Warnings of a possible collapse of the ceasefire… Israel bombed a residential building tonight housing dozens of civilians, with initial reports indicating that 50 civilians — most of them children — were murdered. pic.twitter.com/p6Y8Irf4Ad
— Ramy Abdu| رامي عبده (@RamAbdu) October 9, 2025
Espera-se que Turquia, Catar e Egito contribuam para isso enviando equipamentos e equipes especializadas para Gaza. Antes deles, caminhões com ajuda humanitária entrarão na Faixa: 400 nos primeiros dias, e depois aumentarão gradualmente, com as Nações Unidas prontas para trazer suprimentos que há muito tempo estão bloqueados nas travessias. Dois milhões de pessoas, exaustas por dois anos de guerra brutal, aguardam por comida, remédios, tendas e escavadeiras. Nem ontem parou completamente: o bombardeio da Cidade de Gaza foi confirmado ao Repubblica por duas fontes na região.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza relatou 17 mortes: menos do que a média de 50 a 60 por dia nas últimas semanas, mas um número excessivo para um conflito que supostamente está em seu capítulo final. Ao cair da noite, chegou a notícia de que um bombardeio havia atingido a parte leste da cidade, deixando muitas pessoas presas sob os escombros. Este ataque ainda não está confirmado, mas — se ainda houvesse necessidade — indica a urgência de uma interrupção imediata dos combates. As milhares de pessoas que celebraram a perspectiva do fim em Gaza ontem com festas nas ruas, praias e entre tendas aguardam ansiosamente. O que está em discussão é um acordo importante, não apenas porque põe fim à carnificina que assola a Faixa há dois anos, mas também porque visa conter um terremoto regional que viu Israel exercer seu domínio militar contra o Líbano, o Iêmen, a Síria e o Irã. As finanças globais entenderam isso: ontem, após meses de declínio, o shekel (a moeda nacional) começou a se valorizar novamente em relação ao dólar e ao euro.
🚨Footage shows Israeli tanks withdrawing from the area surrounding the Jordanian Hospital in southern Gaza City during the late hours of today. pic.twitter.com/x0jftbvvga
— Gaza Notifications (@gazanotice) October 9, 2025
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