11 Dezembro 2018
Crianças não nascidas e os pobres a quem é negada educação e vida digna; trabalhadores explorados como escravos e prisioneiros detidos em condições desumanas; vítimas desaparecidas e aquelas que são alvo de manifestações de ódio, intolerância e racismo. Não podemos deixar de perguntar se a “igual dignidade de toda pessoa”, solenemente proclamada há 70 anos com a Declaração Universal assinada em Paris, é verdadeiramente “reconhecida, respeitada, protegida e promovida em nossas sociedades contemporâneas”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 10-12-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O Papa Francisco questiona essas situações dramáticas de nossa era moderna e convida os participantes a refletir e atuar na conferência internacional, que inicia hoje na Universidade Gregoriana sobre “Direitos Humanos no mundo Contemporâneo: conquistas, omissões, negações”. O evento é promovido pelo Pontifício Ateneu e pelo Dicastério ao Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, para celebrar o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o 25º aniversário da Declaração de Viena e do Programa de Ação para a Proteção dos Direitos Humanos.
Dois “instrumentos jurídicos” fundamentais, através dos quais “a família das nações quis reconhecer a igual dignidade de cada pessoa, da qual derivam direitos e liberdades fundamentais que, estando enraizados na natureza do ser humano - unidade inseparável de corpo e alma-, são “universais, indivisíveis, interdependentes e interconectados”, reafirma Francisco no documento lido no início dos trabalhos pelo cardeal Peter Appiah Turkson.
Francisco pede “uma reflexão mais profunda sobre a fundação e o respeito aos direitos humanos no mundo contemporâneo”, que pode ser precursora de “um compromisso renovado com a defesa da dignidade humana, com uma atenção especial aos membros mais vulneráveis da comunidade.”
“Devemos priorizar os que ainda não nasceram aos quais é negado o direito de vir ao mundo; aqueles que não têm acesso aos meios necessários para uma vida digna; os excluídos de uma educação adequada; os que são injustamente privados do trabalho ou forçados a trabalhar como escravos; aqueles que são pegos em condições desumanas, que sofrem tortura ou a quem é negada a possibilidade de se redimir; as vítimas de desaparecimentos e suas famílias”, escreve o Papa.
Outra situação preocupante é a de “todos aqueles que vivem dominados pela desconfiança e desprezo, que são alvos de intolerância, discriminação e violência por causa de sua raça, etnia, nacionalidade ou afiliação religiosa”, destaca Francisco. Ele também critica as “múltiplas violações dos direitos fundamentais no contexto trágico dos conflitos armados, enquanto gananciosos e inescrupulosos comerciantes da morte são enriquecidos ao preço do sangue de seus irmãos e irmãs”.
Bergoglio enfatiza com muita amargura que “olhando cuidadosamente para nossas sociedades contemporâneas, em que há numerosas contradições que nos levam a questionamentos, se, de fato, a igual dignidade a todos os seres humanos, solenemente proclamada há 70 anos, é realmente reconhecida, respeitada, protegida e promovida em todas as circunstâncias”.
“Prevalecem numerosas formas de injustiça, alimentadas por visões antropológicas redutivas, e por um modelo econômico baseado no lucro que não hesita em explorar, descartar e até matar homens e mulheres. Enquanto uma parte da humanidade vive na opulência, outra parte vê sua própria dignidade renegada, desprezada e pisoteada, seus direitos fundamentais ignorados e violados”, denuncia o Papa.
O mecanismo é claro: quando os direitos fundamentais são violados, “ou quando alguns são privilegiados em detrimento de outros”, ou ainda pior, “são garantidos apenas a certos grupos”, surgem “graves injustiças” que, por sua vez, “alimentam conflitos com graves consequências, tanto dentro das nações como nas relações entre elas”.
“Diante desses fenômenos, todos somos provocados”, afirma o bispo de Roma. “Cada pessoa é convocada a contribuir com coragem e determinação, na especificidade do seu papel, para respeitar os direitos fundamentais de cada ser humano, especialmente os direitos “invisíveis” daqueles que passam fome, que estão nus e doentes. Muitos desses são estrangeiros ou presos, e vivem à margem da sociedade prestes a serem descartados”.
“Os cristãos têm um dever ainda maior. Esta necessidade de justiça e solidariedade tem um significado especial para cada fiel, já que o próprio Evangelho nos convida a olhar aos mais necessitados entre nossos irmãos e irmãs. Principalmente a ter compaixão e comprometimento em aliviar seus sofrimentos”.
Francisco conclui com um apelo igualmente urgente para aqueles com responsabilidades institucionais de “colocar os direitos humanos no centro de todas as políticas, incluindo as da cooperação para o desenvolvimento, mesmo quando isso significa ir contra a maré”.
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Papa Francisco: Parte da humanidade vive em opulência, a outra é desprezada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU