01 Fevereiro 2018
A Mesa Valdense enviou às comunidades locais, para um exame aprofundado, um documento sobre o debate ecumênico, em particular com o catolicismo. O documento, redigido pela Comissão Consultiva para as Relações Ecumênicas das Igrejas Valdenses, Metodistas e Batistas na Itália, segue o aprovado pelo Sínodo de 1998, “O ecumenismo e o diálogo inter-religioso”.
A reportagem é de Sabina Baral, publicada por Riforma.it, 31-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tratando-se de um documento conjunto valdense, metodista e batista, os executivos das respectivas Igrejas decidirão, com base nos pareceres coletados, as modalidades de aprovação do texto por parte de suas assembleias decisionais.
Sobre o documento, recentemente traduzido também ao inglês, falamos com o professor Fulvio Ferrario, coordenador da Comissão Consultiva para as Relações Ecumênicas.
Qual é o sentido de falar em ecumenismo em um tempo de desafeição com a fé, em que as Igrejas já parecem mais capazes de interceptar a necessidade de sentido das pessoas?
Os protestantes italianos são uma minoria, que testemunha o Evangelho, na compreensão da Reforma, em um país largamente determinado por outras tradições cristãs, outras culturas, outras tradições. Isso seria suficiente para colocar a nossa pregação e a nossa vida eclesial em um contexto que eu definiria como “espontaneamente ecumênico”.
O Papa Francisco parece privilegiar a linguagem dos gestos em vez do intercâmbio doutrinal. O diálogo não corre o risco de ser afetado por isso? E em que pontos é o debate é mais urgente?
Chegará a hora, e talvez já chegou, em que os gestos correrão o risco de afetar menos do que o necessário, se não forem acompanhados de algumas palavras: se defini-las como “doutrinais” assusta, e eu posso entender isso, digamos “eclesiais”. Os temas urgentes foram lembrados pelo moderador da Mesa Valdense durante a visita de Francisco a Turim (junho de 2015): reconhecimento eclesial das Igrejas evangélicas, formas de partilha da Eucaristia – Ceia do Senhor. Eu acrescentaria o diálogo sobre as discordâncias “antropológicas e éticas”, como o pontífice as chamou corretamente.
Hoje, o verdadeiro terreno divisor parece ser a ética. Aqui, o risco de um encurvamento identitário e de contraposição é muito forte. Como se pode evitar essa armadilha?
Acho que devemos ser muito exigentes em relação a nós mesmos, acima de tudo, e depois às irmãs e aos irmãos católico-romanos. No que nos diz respeito, deveremos superar a tentação de nos comportarmos como se fôssemos os únicos a refletir sobre os grandes temas éticos, da sexualidade ao fim da vida. Gostamos de repetir que “não temos soluções pré-fabricadas” (talvez dando a entender que outros pretenderiam tê-las), mas, na verdade, achamos difícil dar a devida atenção a vozes diferentes das nossas: as católicas certamente, mas, em alguns casos, também as de outras Igrejas protestantes na Europa. Precisamos ouvir mais.
Pedimos que a Igreja Católica leve a sério o fato de que as nossas escolhas (incluindo aquelas consideradas escandalosas, como o apoio à lei 194, que alguns continuam associando ao vocabulário do “homicídio”, como as bênçãos aos casais homoafetivos) nascem em uma busca de fidelidade a Jesus. Damo-nos conta de que precisamente esse apelo à fé parece desorientador para aqueles que estão acostumados a modelos de pensamento radicalmente diferentes. Ousamos pensar, no entanto, que os nossos irmãos e as nossas irmãs também poderiam descobrir, nesse difícil debate, perspectivas inesperadas. É preciso paciência e confiança recíproca. “Na nossa incurável fraqueza”, queremos seguir Jesus. Se, reciprocamente, reconhecemos pelo menos essa vontade, então o diálogo também pode começar a partir dos problemas mais espinhosos.
O ecumenismo é algo que também diz respeito às relações entre as Igrejas pertencentes ao evangelismo italiano. Em que ponto estamos nisso?
Quanto à relação entre as Igrejas históricas, o documento indica, em primeiro lugar, pistas de trabalho para o futuro. É possível dar mais passos no diálogo entre batistas, metodistas e valdenses, após o documento de 1990? Depois de 27 anos, não seria cedo demais... Com a Igreja Luterana, também se poderia fazer mais. É verdade que as relações são ótimas, mas às vezes parecem ser, se é justo dizer, de uma ótima vizinhança, e não de uma comunhão cotidiana.
Em uma sociedade cada vez mais multicultural como a atual, quais as influências sobre a prática ecumênica?
Em muitos aspectos, esse é o ponto crucial, o grande desafio do século XXI. O diálogo mais comprometedor, muitas vezes, não é entre confissões diferentes, mas entre culturas diferentes, e as diferenças são transversais em relação aos pertencimentos eclesiais. O documento tematiza esse ponto e arrisca algumas reflexões. Devo dizer, no entanto, que todos, na Europa e não só, estamos, em relação a isso, no “ABC”. O simples fato de reconhecer essa mudança, relativizando drasticamente o peso do ecumenismo “interconfessional” em favor do “intercultural”, seria uma contribuição nada pequena. Mas não estou certo de que as Igrejas (as nossas e as alheias) são capazes de oferecer isso.
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Seguir Jesus na ''nossa incurável fraqueza''. Entrevista com Fulvio Ferrario - Instituto Humanitas Unisinos - IHU