Por: Lara Ely | 27 Setembro 2017
Esta semana completam-se três anos da desaparição dos 43 estudantes de Ayotzinapa, no Estado de Guerrero (México), o caso de violência que ficará marcado como o mais grave e com mais consequências políticas para a gestão de Enrique Peña Nieto, do PRI.
O massacre ocorreu na Escola Normal Rural Raúl Isidro na cidade de Iguala. De acordo com relatórios oficiais, os estudantes tinham viajado para realizar um protesto para o que consideravam práticas de contratação e financiamento discriminatórias por parte do governo.
A versão oficial e a principal linha de investigação apontam somente para as autoridades e criminosos locais. O prefeito, irritado porque a parada dos estudantes em Iguala teria como objetivo atrapalhar o ato de lançamento da candidatura de sua mulher, havia pedido à polícia local que os contivesse. Ainda segundo esta versão, os policiais teriam capturado o grupo e os entregado ao cartel Guerreros Unidos. Estes teriam matado os garotos e depois queimado seus corpos num lixão.
A gravidade deste caso, entre tantos enfrentamentos violentos da guerra do Estado mexicano ao narcotráfico, reside naquilo que expõe: o fato de que, no interior do país, há um vínculo fortíssimo entre autoridades regionais, cartéis e forças de segurança. Não é de hoje que se acumulam acusações de que os cartéis financiam boa parte das campanhas de prefeitos e governadores.
La #PGR se ha enfocado en agotar todas las líneas de investigación que han resultado necesarias en este caso https://t.co/XzjywUfrCK pic.twitter.com/UQuBeGlcpU
— PGR México (@PGR_mx) September 26, 2017
"Depois de uma longa investigação, concluiu-se que as crianças foram mortas por soldados e paramilitares no cantão de El Sitio del Arcatao, Chalatenango, durante a operação militar conhecida como "la chinda de mayo ", especificou a Comissão Nacional de Pesquisa em um comunicado emitido em 2015.
Um ano depois, o caso havia levado ao desgaste da imagem do presidente Enrique Peña Nieto, investigado por dois grupos internacionais de especialistas em crimes contra os direitos humanos. O assunto foi manchete dos principais meios de comunicação de todo o mundo, recebeu orações do Papa, foi tema de reuniões das Nações Unidas e somava, até o no ano passado, 130 prisões, 422 resoluções judiciais, 850 depoimentos, 1.651 atuações de peritos e um registro babilônico de 240 volumes e 250 mil páginas.
No aniversário de dois anos do caso, o jornal El País fez uma ampla cobertura na qual se destaca um vídeo com tecnologia 360º do caso Ayotzinapa. A gravação permite a visualização integral dos principais cenários do caso. Desde a escola normal rural de Ayotzinapa e palco das primeiras mortes em Iguala até o polêmico lixão de Cocula, onde, segundo a versão oficial, os estudantes foram assassinados e queimados.
Felipe de la Cruz, porta-voz dos pais dos 43 nortistas desaparecidos, disse que o governo de Enrique Peña Nieto ainda não cumpre as recomendações do Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes.
"A próxima terça-feira marca o terceiro aniversário do desaparecimento dos meninos e o caso continua em impunidade", disse ele.
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Ayotzinapa, três anos e a agonia da falta de respostas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU