Por: Jonas | 10 Junho 2016
Colocado para escolher entre dois ruins (os concorrentes à presidência dos Estados Unidos), Julian Assange, diretor do WikiLeaks, descreve assim o dilema: Donald Trump é imprevisível. Hillary Clinton, ao contrário, é perfeitamente previsível. Infelizmente.
A reportagem é de Blanche Petrich, publicada por La Jornada, 08-06-2016. A tradução é do Cepat.
A possível candidata pelo Partido Democrata, prognosticou, seguirá uma política de intervenções militares no mundo, algo que está na própria alma dos Estados Unidos. É, acrescentou, um falcão (como se assinala os governantes estadunidenses inclinados às opções bélicas) e terá o poder de iniciar muitas guerras, ainda que ao longo de sua campanha insistiu que deseja acabar com elas.
Assange participou, nesta terça-feira, via Internet, da embaixada do Equador, em Londres, onde está asilado há quatro anos, do Fórum dos Meios de Comunicação, organizado pela agência de notícias russa Rossiya Segodnya, no qual se debate sobre o futuro dos meios de comunicação monopólicos.
Após escutar demonstrações de apoio e solidariedade de vários jornalistas participantes, respondeu a uma pergunta sobre a sua situação. Continua sendo difícil, sobretudo porque meus filhos estão crescendo, passando da infância à juventude, e não estou com eles, expressou. Admitiu que sofre problemas de saúde. Mas, ao menos ainda pode trabalhar. E de fato, acrescentou, este foi um ano muito produtivo para ele e o WikiLeaks.
Em sua análise sobre a correlação de forças que há em nível global entre os meios de comunicação corporativos dominantes e os emergentes que se esforçam em resistir o poder dos grandes consórcios, explicou que não compartilha do otimismo expressado por vários dos debatedores, no sentido de que o poder monopolizador dos grandes grupos midiático está se fragilizando. Houve aqueles que, inclusive, afirmaram que estes monopólios já estão mortos.
Apontou que ainda que, com efeito, a correlação de forças na indústria da informação esteja mudando graças ao contexto digital e o espaço que outros meios de comunicação foram ganhando, os chamados alternativos, os gigantes da comunicação como News Corp, de Rupert Murdoch, Viacom, CNN, e outros continuam no controle dos fluxos informativos. Por outro lado, Assange alertou sobre os novos riscos que se apresentam. Há no horizonte um novo monopólio muito mais poderoso, destacou, e citou o Google, a empresa dominante da Internet que hoje em dia controla 80% da informação que flui através dos smartphones.
Descreveu o Google como parte integral do Estado no governo de Washington. O presidente Barack Obama e o Google foram para cama juntos, disse. Recordou que Eric Schimdt, alto executivo do Google, a quem Assange entrevistou longamente para o WikiLeaks, antes que a perseguição judicial o forçasse a pedir asilo na embaixada do Equador, em Londres, é o personagem que mais visitou a Casa Branca. Praticamente toda semana está lá.
Esta integração do Google à administração, explicou, faz parte de um processo silencioso do Estado estadunidense de entregar suas estruturas a corporações privadas. Considerou isto a excepcionalidade dos Estados Unidos.
Citou um exemplo convincente. O controle da segurança nacional estadunidense, o próprio coração do Estado, foi concedido a empresas privadas. Nos anos 1990, Washington havia firmado convênios com cerca de 10 corporações dedicadas a diferentes especialidades de segurança. Hoje, tem subscritos mais de 1.100. Ou seja, 85% do enorme orçamento estadunidense dedicado a segurança vão parar nas contas destas empresas particulares. A fronteira entre o Estado e estas corporações está se diluindo.
Concentrou-se no que definiu, em vários dos estudos que produz em seu cativeiro, como capitalismo de vigilância, do qual fazem parte não só o Google, mas também as empresas que manipulam as principais redes sociais em nível global, Facebook e Twitter.
Comentou sobre a armadilha na qual estão atrelados milhares de meios de comunicação independentes, que impulsionados pela necessidade de competir e alcançar maiores audiências, utilizam estas redes. Seu próprio projeto, WikiLeaks, também as utiliza. “O que temos que fazer – destacou – é estar conscientes da natureza deste espaço pelo qual transitamos. É um espaço precário, no qual confluem milhões de vozes, não para estabelecer um debate aberto, mas para funcionar sob um mecanismo de controle massivo”.
Disse que sempre pensou que a qualquer momento o Twitter irá decidir bloquear a circulação do WikiLeaks nessa rede. Acredito que se não fez isto até agora é porque sabe que temos capital político suficiente para enfrentar esta censura.
Dezenas de jornalistas da Europa, Ásia, África e Estados Unidos participaram do fórum. Pela América Latina, esteve presente La Jornada. Antes do encerramento, o presidente russo, Vladimir Putin, fez um ato de presença.
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Google, “parte integral do Estado” estadunidense, afirma Julian Assange - Instituto Humanitas Unisinos - IHU