12 Agosto 2011
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus, 15, 21-28.
Antonio José Pagola, teólogo espanhol, comenta o texto, em artigo publicado no sítio Eclesalia. Segundo ele, "Jesus não é propriedade dos cristãos".
Eis o texto.
A cena é impressionante. Uma mulher pagã gritando ao encontro de Jesus. Ela é uma mãe com uma personalidade forte pedindo compaixão para com sua filha enferma, porque ela tem certeza de que Deus quer uma vida digna para todos os seus f ilhos e filhas, apesar de serem pagãos, apesar de serem mulheres. O seu pedido é direto: "Senhor, Filho de David, tem piedade de mim. Minha filha é atormentada por um demônio". Mas seu grito caiu no vazio: Jesus fica num silêncio difícil de explicar. Não fica comovido seu coração frente à desgraça daquela mulher sozinha e indefesa?
A tensão se torna insuportável quando Jesus quebra o silêncio e se recusa categoricamente a ouvir aquela mulher. Sua recusa é firme e nasce de seu desejo de ser fiel à missão recebida do Pai: "Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas da casa de Israel".
Ela não desanima. Caminha mais rapidamente, alcança o grupo, prostra-se diante de Jesus e, do chão, repete seu pedido: "Senhor, ajuda-me". Em seu grito está ecoando a dor de tantos homens e mulheres que pertencem ao grupo daquele Curador, e sofrem uma vida indigna. Hão de ser excluídos da sua compaixão?
Jesus reafirma a sua negativa: "Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorrinhos". A mulher não se rende à frieza perturbadora de Jesus. Não discute. Aceita sua imagem dura. Porém, extrai um resultado que Jesus não levou em conta: "Está certo, Senhor, mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos". Na mesa de Deus há pão suficiente para todos.
Jesus reage surpreso. Ouvindo ao fundo esse desejo pagão, ele entende que aquilo que pede é exatamente o que quer Deus: "Mulher, grande é a tua fé: que se cumpra sua vontade". O amor de Deus para com aqueles que sofrem não conhece fronteiras e nem faz diferença entre crentes ou pagãos. Escutar esta mulher não fica longe da vontade do Pai, mas ele descobre qual é seu verdadeiro alcance.
Os cristãos de hoje têm que aprender a viver com agnósticos, indiferentes ou pagãos. Não são inimigos a serem tirados de nosso caminho. Se ouvirmos o seu sofrimento, descobriremos que eles são pessoas frágeis e vulneráveis que procuram, como nós, um pouco de luz e estímulo para viver.
Jesus não é propriedade dos cristãos. Sua luz e seu poder de cura são para todos. É um erro nos fecharmos em nossos grupos e comunidades, distanciando-nos , excluindo ou condenando aqueles que não são iguais. Somente cumprirmos a vontade do Pai quando vivemos abertos a todo ser humano que sofre e geme pedindo compaixão.
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Jesus é para todos. Antonio José Pagola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU